26/06/18 14h13

Aparelho criado em São Carlos permite que celular realize exames de retina

Projeto foi desenvolvido por três ex-alunos da USP e já recebeu prêmios de inovação em saúde. Com ajuda de inteligência artificial, tecnologia poderá diagnosticar doenças automaticamente.

A Cidade On

Três ex-alunos da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos, desenvolveram um aparelho que vai tornar os exames oftalmológicos mais baratos e acessíveis à população. O Smart Retinal Camara (SRC ) transforma o smartphone em um retinógrafo portátil, utilizado em exames de retina para observar e registrar fotos da membrana do paciente.

A ideia do projeto e da criação da Startup Phelcom surgiu após uma frustação profissional do trio. "Eu e os meus sócios, o Flavio e o Stuchi, trabalhávamos fazendo equipamentos em uma empresa de oftalmologia aqui em São Carlos. Infelizmente não deu certo. O preço do equipamento estava muito alto e a gente ficou frustrado", explicou Diego Lencione, que é CTO (diretor técnico) e cofundador da Phelcom.

Os três amigos acabaram se dividindo. Cada um seguiu seu caminho profissional até que, um dia, Diego resolveu apostar em um novo projeto. "Eu entrei em contato com eles e falei de retomarmos o projeto com outro viés, de uma forma mais democrática, para que as pessoas tivessem de fato acesso ao equipamento", disse.

Os dois amigos, Flavio Pascoal Vieira e José Augusto Stuchi, gostaram da ideia e aceitaram o desafio. Usando o tempo livre dos finais de semana, o trio fez um protótipo da tecnologia e escreveu um projeto para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Com o incentivo do governo estadual, a ideia ganhou força e os ex-estudantes da USP criaram o SRC. "O objetivo do aparelho é fazer exames do segmento anterior, que é a parte da frente do olho, e do segmento posterior, o fundo do olho. É um retinógrafo, essencialmente. É um equipamento portátil, acoplado ao smartphone, que faz exames no fundo do olho. O objetivo inicial dele é que, a partir desses exames, médicos oftalmologistas possam fazer laudos e diagnosticar doenças", explicou Lencione.

Para tornar o aparelho acessível aos atendimentos oftalmológicos em regiões afastadas, o trio trabalhou na produção de um aparelho que pode ser facilmente transportado. Além disso, o médico não precisa estar presente no momento do exame, já que o SRC possui uma luz infravermelha que possibilita a visualização da retina sem precisar dilatar a pupila do paciente. O aparelho tira fotos da parte interna e externa do olho e o exame pode ser enviado para que um médico avalie a saúde do paciente.

Por conta do impacto socioeconômico e da inovação tecnológica, o trabalho ganhou reconhecimento nacional e internacional. O protótipo foi apresentado no dia 19 de setembro, de 2016, na Falling Walls Lab São Paulo (Prêmio mundial para ideias globais inovadoras com grande impacto socioeconômico) e venceu a etapa nacional. Os sócios também apresentaram o SRC na etapa internacional, em Berlim, na Alemanha, mas não venceram a etapa mundial.

O retinógrafo portátil criado em São Carlos chegou a ser apresentado em um congresso mundial na França e ganhar um prêmio do Hospital Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Os criadores passaram uma semana na cidade de Cleveland, nos Estados Unidos, conhecendo empresas e Startups de inovação na área de saúde.

Atualmente, a Phelcom está instalada em um prédio no bairro Santa Felícia e já conta com quatro funcionários. Agora sócios, os amigos aguardam a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para começar a produzir o SRC e lançar o produto no mercado. A previsão é de que tudo esteja pronto até setembro deste ano.

Sem poder revelar o preço do produto antes das aprovações do Governo, os sócios adiantam apenas que ele deve custar até dez vezes menos do que os retinógrafos disponíveis no mercado, com valor estimado em 70 mil dólares.

Apesar das inovações em relação aos aparelhos usados atualmente, os ex-alunos da USP já projetam melhorias no SRC com a implantação de inteligência artificial. Apesar de o termo parecer saído de filmes de ficção científica, a tecnologia será outro diferencial do aparelho em um futuro próximo. "Será possível fazer uma triagem em campo. Através da foto tirada, o próprio aplicativo vai dizer se a pessoa precisa ou não ir a um oftalmologista e se ela está com alguma doença", explicou Lencione.

O que impede a tecnologia de ser lançada junto com os primeiros aparelhos é a necessidade de possuir uma grande base de dados de pacientes. Através dela, o aplicativo será capaz de desenvolver a inteligência artificial necessária para diagnosticar as diversas doenças possíveis que o paciente possa ter. "A gente quer, de fato, fazer uma cooperação a nível global. A gente sabe quanto à população precisa de soluções nesse sentido", finalizou Lencione.