17/09/14 14h29

Atual ciclo de expansão global pode ser um dos mais longos

Valor Econômico

O atual ciclo de expansão global já dura cinco anos e pode facilmente continuar por outros cinco, tornando-se o mais longo desde os anos 1970, aposta o Morgan Stanley. Embora o ritmo de crescimento seja fraco, o banco de investimentos considera que a economia mundial tem fôlego para avançar por um bom tempo sem cair abaixo de 2,5% ao ano, normalmente apontado como o nível que configura uma recessão global. Para este ano, a expectativa do Morgan Stanley é de uma avanço de 3,1% do PIB mundial.

Para justificar a sua avaliação, o banco ressalta a ociosidade ainda elevada na economia global e a expectativa de que a política monetária continue expansionista por um bom tempo nos países ricos. Além disso, os ciclos econômicos nos vários países não estão sincronizados, o que reduz o risco de aquecimento conjunto excessivo, diz o economista-chefe global do banco, Joachim Fels, no relatório "Mais Baixo, Mas Mais Longo" (Lower, but Longer).

Segundo ele, um padrão cíclico global só apareceu nos anos 1970, "refletindo ligações crescentes por meio do comércio e dos fluxos de capitais, e também pelo advento de choques comuns, como o dos preços do petróleo nos anos 1970 e começo dos anos 1980". Nos últimos 40 anos, os ciclos de expansão globais duraram entre quatro e oito anos, tendo em média 6,2 anos.

Ao esmiuçar por que o atual ciclo pode ser tão longo, Fels destaca que a recessão de 2008 e 09 criou uma ampla folga de recursos na economia global, ainda não eliminada pela recuperação modesta. O crescimento dos salários e a inflação estão em geral muito baixos no mundo, avalia. Em muitos países, os índices de preços estão abaixo da meta dos bancos centrais.

A falta de sincronia do atual ciclo é um fator importante na aposta do Morgan Stanley numa fase de crescimento duradouro, ainda que a taxas pouco robustas. Enquanto alguns países já estão numa recuperação mais forte, como os EUA, outros vivem desaceleração ou recessão, como a zona do euro ou vários emergentes. "O que geralmente coloca um fim a expansões globais é a combinação de aquecimento conjunto excessivo e aperto monetário pelos bancos centrais. Nós não estamos perto disso."

Por fim, a política monetária deve continuar expansionista por muito tempo, num cenário de crescimento ainda modesto e inflação sob controle. Fels espera que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) só comece a elevar os juros em 2016, enquanto a maior parte do mercado aposta num aumento em meados do ano que vem. Mas mesmo os analistas que preveem uma alta mais cedo dos juros consideram que as taxas devem subir lentamente.

O Morgan Stanley diz ainda que o Banco do Japão (o BC japonês) adotará medidas adicionais de estímulo monetário em outubro e vê uma possibilidade de 40% de o Banco Central Europeu (BCE) também passar a comprar títulos dos governos, para tentar tirar a economia da estagnação. No início do mês, o BCE reduziu mais os juros e anunciou um programa de compra de títulos lastreados em ativos privados. Esses motivos levam Fels a ver o "copo meio cheio", acreditando numa expansão bastante prolongada. O fato de o crescimento global estar longe de ser exuberante ajuda nessa avaliação.

No relatório, aliás, o Morgan Stanley promove pequenas reduções das estimativas de crescimento global de 2014, de 3,2% para 3,1%, e de 2015, de 3,7% para 3,5%. Segundo Fels, os países ricos avançam a duas velocidades, com zona do euro e Japão caminhando mais devagar, enquanto EUA e Reino Unido crescem com mais força. Para a zona do euro, o banco espera expansão de 0,8% neste ano, inferior ao 1% previsto em junho. Enquanto isso, os EUA devem crescer 2,1% neste ano e 2,8% em 2015.

A expectativa é de um segundo semestre mais forte nos países desenvolvidos. Depois de crescer a uma taxa anualizada de 1% na primeira metade do ano, a estimativa é de um avanço de 2% a 2,5% no segundo semestre, acomodando-se na casa de 2% no ano que vem.

Nos países emergentes, a atividade parece ter atingido o nível mais baixo e começado a se recuperar, diz Fels, alertando, porém, que o crescimento deve continuar fraco em termos históricos, avançando um pouco em 2015. Ele ressalta que os principais países desse grupo estão em momentos muito diferentes do ciclo. "Vemos uma recuperação decente puxada pelas reformas na Índia, esperamos que a expansão do PIB da China fique um pouco acima de 7% na segunda metade de 2014 e em 2015, e prevemos uma ampla estagnação em curso no Brasil e uma recessão aberta na Rússia", afirma Fels.

Em junho, o Morgan Stanley esperava um avanço de 1% do PIB brasileiro em 2014; agora, aposta em apenas 0,2%. Para 2015, a estimativa é de 0,3% - antes era 0,9%.