24/11/17 12h16

BNDES estuda dar crédito direto até R$ 20 milhões

Valor Econômico

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem planos de conceder crédito de forma direta para empresas de pequeno e médio porte em financiamentos de até R$ 20 milhões. Hoje o banco só concede empréstimos diretamente em operações superiores a R$ 20 milhões. Os financiamentos abaixo desse valor são feitos via agentes financeiros. "O banco começa a olhar esse segmento abaixo de R$ 20 milhões [por financiamento] para fazer direto [sem gentes] em áreas em que o mercado não tem interesse ou o custo é alto", disse o diretor de operações indiretas do BNDES, Ricardo Ramos.

A medida se insere no objetivo do BNDES de dar mais acesso a crédito a micro, pequenas e médias empresas. O segmento tende a ser cada vez mais fortalecido pelo banco, e deve constar, inclusive, como uma das áreas prioritárias - junto com inovação e infraestrutura - na revisão das políticas operacionais do BNDES, previstas para serem anunciadas no começo de 2018. "Queremos desenvolver plataformas para dar crédito direto para pequenas e médias empresas", disse Ramos.

O primeiro passo, segundo ele, é preparar um arcabouço jurídico e operacional, e desenvolver um modelo de negócio no qual o banco poderá estabelecer parcerias com outros bancos de fomento ligados à Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE). "Estamos conversando com bancos de fomento ligados à ABDE para avaliar se eles têm interesse de que o BNDES corra [diretamente] parte do risco [do financiamento] em operações de crédito [abaixo de R$ 20 milhões]", disse Ramos.

Em uma operação de financiamento de máquina de R$ 400 mil, por exemplo, o BNDES poderia correr o risco de 20% do empréstimo, disse Ramos. Ele acredita que, em 2018, o banco já poderia fazer alguns "milhares" de operações diretas abaixo de R$ 20 milhões em parceria com outros bancos de fomento da ABDE. O modelo de negócio prevê operações em larga escala. Mas a ideia é selecionar projetos-piloto. "Hoje eles [os bancos da ABDE] repassam o crédito e 100% do risco é deles. A ideia é nós podermos correr parte desse risco."

Segundo Ramos, ampliar o acesso a crédito está no "DNA" do BNDES. "Não vamos substituir o agente financeiro, mas podemos atuar em nichos, e assumir riscos, estimulando que o agente faça mais." A estratégia, portanto, é aumentar o apoio às micro, pequenas e médias empresas em um trabalho feito de forma coordenada também com entidades como federações de indústrias e o Sebrae. Nessa estrutura, abre-se a possibilidade de o BNDES correr o risco direto em parte dos financiamentos das linhas Finame, por exemplo, nas quais o mercado não tem interesse, disse o diretor.

No total, as micro, pequenas e médias empresas representam cerca de 40% dos desembolsos do BNDES, disse Marcelo Porteiro, superintendente da área de operações indiretas do BNDES. A previsão, segundo ele, é que as operações de financiamento indiretas, via agentes, totalizem cerca de R$ 40 bilhões este ano, com alta de cerca de 10% sobre os R$ 36,3 bilhões do ano passado. No total, há 58 bancos operando as linhas do BNDES nos produtos indiretos.

Ramos prefere não fazer previsões sobre o aumento da fatia das pequenas e médias no total do desembolso do banco. Diz que mais importante é olhar para o número de operações e para os novos clientes que entram para a base do BNDES. Ele previu que 2018 será um ano melhor para as micro, pequenas e médias empresas do que foi o ano de 2017. Ele apoia a estimativa na retomada da economia. De janeiro a outubro, os desembolsos para micro, pequenas e médias empresas somaram R$ 23,6 bilhões, com alta de 8% sobre igual período do ano passado. Só o BNDES Giro, para capital de giro para as empresas, desembolsou R$ 5,6 bilhões de janeiro a outubro, alta de 252%. O desembolso para as grandes cai 33% no período.

Ramos identifica outro vetor, além da economia, que deve melhorar os desembolsos do banco para pequenas e médias empresas. Trata-se de melhorias em processos operacionais que tornam as linhas mais atraentes. Citou a automatização das linhas agrícolas, que passaram a ser aprovadas e contratadas em três segundos. O BNDES Giro também foi automatizado. A Finame será automatizada de forma gradual a partir do segundo trimestre de 2018. A intenção, disse Ramos, é transformar o BNDES no futuro em uma plataforma digital que unifique, por meio do portal do banco, diversos produtos para atender micro, pequenas e médias empresas.