24/04/15 11h42

Brasil e Coreia terão acordo para inovação

Valor Econômico

A visita ao Brasil da presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, que ocorre entre hoje e sábado, dará um impulso à cooperação bilateral na área de inovação: os dois governos, a Samsung e a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) assinarão um memorando de entendimento para o desenvolvimento de tecnologias e o fomento de novos negócios. Serão iniciados imediatamente os trabalhos para tirar a iniciativa do papel, que prevê um investimento de US$ 5 milhões da Samsung nos próximos cinco anos.

O acordo será assinado durante a visita a Brasília de Park Geun-hye, que também participará em São Paulo de encontros com empresários e representantes da comunidade coreana. A viagem faz parte de um périplo da presidente da Coreia do Sul por quatro países sul-americanos - Colômbia, Chile e Peru, além do Brasil.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, destaca o volume de recursos envolvidos, o objetivo da parceria e seu caráter pedagógico, uma vez que ela pode servir de exemplo para outras empresas instalarem centros de pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Segundo ele, o país possui bons institutos de pesquisas, oferece "volumes razoáveis" de recursos públicos para projetos de inovação, mas ainda carece de empresas que se dediquem à tarefa de instalar centros de pesquisa em território nacional.

"Esse acordo com a Samsung é uma iniciativa pioneira", afirmou o ministro ao Valor, acrescentando que iniciativas como essa são formas de incluir o Brasil nas cadeias globais de valor com produtos e serviços de qualidade e aumentar a competitividade do país. "É uma conquista importante."

Em 2014, sem contar a renúncia fiscal relacionada a projetos de inovação e pesquisa, o ministério colocou à disposição da área R$ 3,6 bilhões em recursos orçamentários e R$ 1,99 bilhão por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nessa parceria envolvendo a Samsung, porém, a empresa alocará recursos próprios.

O memorando de intenções prevê a implantação no Brasil do chamado Modelo Coreano de Cultura de Economia Criativa, criado na Coreia do Sul pelo CCEI Daegu (Centro de Economia Criativa e Inovação). Tal modelo é uma iniciativa do governo sul-coreano para desenvolver a tecnologia e a educação, além de fomentar novos negócios e produtos, por meio de um conjunto de metodologias, tecnologias e práticas.

Com o apoio da Samsung, a Anprotec promoverá treinamentos entre seus 300 associados. Já a Samsung facilitará o contato entre a Anprotec e o CCEI, identificará e recomendará projetos para participarem do programa e serem incorporados às atividades da companhia no Brasil, inclusive os desenvolvidos por startups.

A Samsung já trabalha nesse formato desenhado pelo CCEI, o qual busca aproveitar vocações regionais no desenvolvimento de soluções e produtos, na Coreia do Sul e em outros países asiáticos. "Esse é um tema que a gente gostaria de reproduzir no Brasil de maneira intensa", afirmou o vice-presidente para a América Latina de marketing e assuntos corporativos da companhia, Mario Laffitte. Segundo ele, alguns dos segmentos a serem privilegiados serão educação, saúde e segurança da informação. "Isso não quer dizer que serão exclusivamente nessas três áreas, mas é um direcionamento inicial."

Para Laffitte, não há como estimar quantos projetos poderão ser beneficiados pelo acordo. "Certamente vão aparecer ideias de negócios que não existem hoje", destacou. Hoje, a Samsung conta com cerca de mil funcionários e parceiros envolvidos em pesquisa e desenvolvimento. No ano passado, a empresa investiu no mundo todo US$ 14,6 bilhões em P&D.

Além da assinatura desse acordo na área de tecnologia e inovação, as presidentes Dilma Rousseff e Park Geun-hye discutirão meios de aumentar os investimentos, o comércio e formas de aprofundar a cooperação entre os dois países nas áreas de educação, cultura e energia. Os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil e do Comércio, Indústria e Energia da Coreia assinarão, por exemplo, memorandos de entendimento para o uso de guichês únicos de comércio exterior, redução da burocracia e fomento a micros e pequenas empresas.

O Brasil é o maior parceiro comercial da Coreia do Sul na América Latina, e o país asiático é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil naquele continente - atrás de China e Japão - e o sétimo no mundo. O comércio bilateral é historicamente deficitário para o Brasil. Segundo o Itamaraty, no entanto, a Coreia do Sul é a maior parceira do Brasil na Ásia no programa Ciência Sem Fronteiras. Desde 2012, recebeu 525 estudantes em suas universidades e centros de pesquisa.