05/02/16 13h59

Brasil fica mais perto de produzir os superímãs

Valor Econômico

É provável que você nunca tenha ouvido falar do neodímio, mas esse minério é a base dos superímãs, usados em uma infinidade de produtos - de computadores pessoais e motores elétricos a geradores e turbinas eólicas. Três vezes mais potentes que os ímãs comuns, e mais baratos de produzir, os superímãs tornaram-se um produto de exportação quase exclusivo da China, que concentra as maiores reservas globais de terras raras, um conjunto de 17 minerais nos quais se inclui o neodímio. O Brasil, agora, acaba de dar um passo importante para nacionalizar a produção de superímãs e tornar-se, no futuro, um competidor internacional de peso.

A novidade vem do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, que produziu em laboratório os primeiros 100 gramas de uma liga metálica crucial para a fabricação dos superímãs. É o didímio metálico, composto de neodímio e praseodímio, um outro tipo de terra rara. A inovação vem de uma parceria com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que percebeu que estava desperdiçando uma oportunidade de negócio.

A CBMM é líder mundial na exportação de nióbio, um dos metais mais resistentes à corrosão e a temperaturas extremas. A reserva mineral explorada pela companhia fica em Araxá (MG). Ocorre que ao extrair o nióbio, a empresa acaba obtendo uma quantidade significativa de terras raras, que são tratadas como resíduo, e ainda não têm aplicação comercial. "Se todo o resíduo da separação do nióbio fosse transformado em didímio, o Brasil poderia atender ao mercado internacional", diz João Batista Ferreira Neto, pesquisador do Centro de Tecnologia em Metalurgia e Materiais (CTMM) do IPT e coordenador do projeto.

O Brasil tem a segunda maior reserva de terras raras do mundo, equivalente a 22 milhões de toneladas, mas ainda não tem produção em escala comercial. A China, dona de uma reserva de 55 milhões de toneladas, responde por 90% desse mercado e, por isso, tem o poder de ditar os preços.

Avaliada em US$ 5 bilhões, a indústria de terras raras é estratégica pois seus materiais são utilizados em produtos de alto valor agregado, como celulares, notebooks e motores elétricos.

Os chineses entraram na disputa nos anos 1970, passando a produzir o concentrado, o óxido, a liga e, por fim, máquinas a partir do minério. Os preços eram tão baixos que logo tiraram países como Europa e Estados Unidos da disputa. A questão é que a indústria de alta tecnologia chinesa se desenvolveu bastante e o consumo interno aumentou. O governo ficou mais rigoroso nas leis ambientais e muitas minas e empresas pequenas acabaram fechando.

Não bastasse isso, a China criou barreiras e cotas de exportação, o que fez as cotações dispararem entre 2009 e 2011, preocupando muitos países. Em 2015, a Organização Mundial do Comércio (OMC) julgou inadequada a política chinesa de tarifas e cotas de exportação e determinou a remoção das barreiras.

"A ideia é que se tenha no país o domínio tecnológico de toda a cadeia produtiva dos superímãs, desde a extração mineral das terras raras até a fabricação dos ímãs", diz o pesquisador do IPT. O elo que faltava para dar andamento à produção era a redução do óxido de didímio em metal, o que acabou de ser conseguido. A liga foi obtida a partir de um trabalho de desenvolvimento de reatores e de processos de redução conduzidos por oito pesquisadores do IPT.

"Hoje temos a viabilidade técnica. A comercial vai depender do ganho de escala e de acordos comerciais", diz Ferreira Neto. Japão, Europa e Estados Unidos poderiam ser parceiros do Brasil, diz. A CBMM já conversa com empresas nacionais para potenciais acordos. O setor de energia eólica, por exemplo, tem uma demanda crescente pelo superímã. "Concorrer com a China é difícil, mas um eventual acordo com outros países pode acontecer e é preciso estar tecnologicamente preparado para oferecer o produto ao mercado", diz o coordenador da pesquisa.

"A CBMM é uma indústria de metalurgia e mineração e não vai fabricar o ímã. Por isso, busca a ajuda de outras empresas", explica o pesquisador. Neste momento, a prioridade é desenvolver tecnologia e conhecimento sobre a liga.

Com duração de dois anos e previsão de término em junho de 2016, a pesquisa agora caminha para testes de processos, melhora de parâmetros de operação (como uso mais econômico de energia) e controle do nível de pureza do didímio - que já supera 99%, mas quanto mais alto, melhor.

A pesquisa recebeu investimento de R$ 9,5 milhões, sendo um terço financiado pela Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) para a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O restante é rateado entre o IPT e a CBMM.