06/06/18 11h59

Brasil pode liderar movimento na América Latina

Valor Econômico

O Brasil é um dos poucos países com um plano estratégico nacional para implementar políticas para o investimento de impacto, um sinal "top-down" de que o país começa a amadurecer para assumir a liderança latino-americana nos aportes em negócios sociais. A afirmação é do indiano Amit Bhatia, CEO do Global Steering Group (GSG), grupo que coordena o movimento global e que está em São Paulo para participar do II Fórum de Finanças Sociais e Negócio de Impacto, em São Paulo.

"Estou aqui para aprender [mais sobre o ambiente de investimento brasileiro], mas pelo que já sei o movimento na América Latina será liderado por Brasil e México - e não por causa do tamanho desses países, mas devido ao mercado mais desenvolvido, a presença de fundos grandes, empresas, pela própria natureza global do país."

Bathia passou o dia ontem em encontros privados com fundos, bancos estatais e representantes do setor financeiro em conversas para atualizar executivos sobre o mercado global de impacto. Ouviu e falou mais ainda ao alto escalão de Petros (fundo de pensão da Petrobras), Pátria, Itaú e BNDES. O executivo tem se empenhado em modelar um fundo de fundos de impacto na América Latina, tal como em outros países, com a ambição de chegar a US$ 1 bilhão. Daqui, segue para o Chile e Cidade do Panamá.

"A Índia, por exemplo, é um país menor que o Brasil em vários sentidos e, no entanto, vai conseguir dois fundos de impacto social de US$ 1 bilhão cada nos próximos 18 meses. O mesmo tem acontecido na África. Então, acho que ainda há muito para crescer e se aprofundar aqui. A região está pronta para conseguir seu primeiro grande projeto", disse Bathia, ao Valor.

O Brasil tem menos de R$ 200 milhões destinados a investimentos de impacto, apesar das deficiências básicas à sociedade. Globalmente, esses investimentos atingiram US$ 150 bilhões. Em três anos devem chegar a US$ 300 bilhões. "O mercado de impacto é muito pequeno se olharmos para o setor financeiro global, de trilhões de dólares em gestão de ativos. Ainda não há escala, mas acreditamos que teremos o ponto de virada ao fim de 2020."

Diferentemente da filantropia, o investimento de impacto prevê mudanças estruturas à sociedade com foco em resultado financeiro. Nesse sentido, segundo ele, os fundos têm respondido à altura da expectativa de acionistas. "Um estudo realizado pela McKinsey mostra que, entre 2010 e 2016, foram realizados na Índia 50 saídas de empresas de impacto que haviam recebido US$ 4,5 bilhões - com um retorno de 11%. Grandes fundos apresentaram retorno médio de 6,9%. Os menores, com menos de US$ 1 milhão, tiveram retorno de 9%. Dessas 50, um terço gerou retorno médio de 30% ao investidor. Ou seja: impacto gera lucro", destacou.

Segundo Bhatia, o movimento "top-down" tem contribuído com o setor. A França, por exemplo, tornou mandatório que todos os fundos de pensão sejam "solidários" - ou seja, destinem de 5% a 10% para negócios de impacto. O Reino unido fez um decreto sobre o que é uma empresa social. Muitos outros países estão criando fundos soberanos com investimento em impacto. "Até private equity está indo nessa direção. Quando grandes fundos começarem a falar o nosso vocabulário, será uma questão de tempo até o investimento de impacto se tornar mainstream."