30/11/17 11h25

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Valor Econômico

Apesar da crise econômica, o número de negócios exportadores e os valores negociados nas operações ganharam musculatura. É o que diz a nova pesquisa "As micro e pequenas empresas nas exportações brasileiras-2009 a 2016", realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Somente em 2016, a quantidade de exportadoras de porte reduzido cresceu 12%, ante o ano anterior. O setor pode ganhar ainda mais tração, em 2018, com novas alternativas de embarque, via e-commerce, e com o aumento da demanda em regiões ainda pouco exploradas, como o Sudeste Asiático e o mercado árabe.

Em 2011, os micro e pequenos empreendimentos representavam 32,8% do total de companhias exportadoras. Em 2016, essa fatia engordou para 38%, quando mais de oito mil negócios despacharam produtos e serviços para o exterior, um recorde da série histórica. "A tendência é que esse número continue crescendo, pois as companhias têm hoje mais facilidade para acessar compradores internacionais por meio da internet e das mídias sociais", diz Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae.

O levantamento sinaliza tendência de alta no valor exportado. Em 2016, as companhias menores faturaram US$ 997,7 milhões em vendas, um salto de 6% em relação a 2015. Para comparar, no mesmo período, o valor exportado pelas médias e grandes corporações encolheu 3,5%.

Os principais mercados dos empreendedores em 2016 foram os EUA e o Canadá, com 20,5% das vendas totais, um pouco acima do Mercosul (20,3%) e a União Europeia (20,2%). Nos contêineres, as principais mercadorias embarcadas pelas pequenas companhias são roupas, calçados e pedras preciosas, além de madeira serrada, mármore e granitos. Noventa por cento das exportadoras são de cinco Estados, segundo o Sebrae. São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além do Paraná e Santa Catarina estão na lista.

"Os números podem parecer pequenos, mas são avanços que devem ser comemorados, considerando que exportar ainda é uma atividade complexa no Brasil", analisa Afif. "Tradicionalmente, as pequenas empresas não têm funcionários especializados em comércio exterior." Além disso, a burocracia, com o excesso de documentos necessários para liberar a produção, e a dificuldade em acessar crédito são outros obstáculos para atravessar fronteiras.

No início do ano, levantamento encomendado pelo Sebrae ao Instituto Aliança Procomex, de modernização do comércio exterior, mapeou 142 entraves diferentes nas operações realizadas pelos pequenos negócios. "Embora respondam por 98% das empresas no país, as pequenas ainda possuem uma participação baixa nas exportações, com 0,54% do total."

Algumas medidas ganham força no setor. Um decreto federal definiu a figura do operador logístico internacional como um prestador de serviços para companhias que adotam o regime tributário Simples Nacional. Na prática, significa que a operação pode ser terceirizada e o empresário vai se preocupar apenas em produzir e vender. Para contratar um operador, é preciso buscar uma empresa habilitada pela Receita Federal. Entre elas, há três categorias previstas: os Correios, as companhias de transporte internacional expresso (couriers) e os transportadores certificados como operadores econômicos autorizados (OEAs).

O Sebrae também retomou discussões com o governo federal para acelerar as adesões ao Simples Internacional ou Exportação, criado em 2016. Trata-se de um conjunto de ações que facilitam o comércio, por meio da diminuição de custos, de documentos e do tempo nas transações.

Participar de redes de aproximação comercial também é importante para quem pretende exportar, diz Afif. Este ano, o Sebrae se associou ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para engajar negócios na Connect Americas, uma plataforma virtual desenvolvida pelo banco em que são postadas, de forma gratuita, oportunidades de compra e venda de pequenos empresários em 50 países.

Márcia Nejaim, diretora da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), acredita que há espaço para as exportações crescerem ainda mais. "Como o mercado interno é grande, o empresário concentra esforços para atender a demanda local e esquece das oportunidades externas", diz. Para a especialista, as palavras-chaves nesse segmento são planejamento e informação. "É preciso saber como funcionam os trâmites burocráticos do comércio exterior e quais são os melhores mercados para cada produto."

Entre as pequenas e médias empresas, os compradores estrangeiros buscam ofertas com "identidade brasileira" e atributos de criatividade e sustentabilidade, diz. "Mercadorias voltadas para resolver questões ligadas às mudanças climáticas, itens da indústria hospitalar e artigos de moda têm cada vez mais espaço."

No mês passado, a Apex lançou o programa E-xport Brasil, para expandir contratos via e-commerce. A iniciativa envolve consultorias, ações de promoção comercial on-line e capacitação. O foco é em empresas que já exportam e esquadrinhar melhor os mercados da China, EUA, Argentina e México. Até 2018 serão selecionadas 100 companhias para atuar no projeto.

Além dos compradores tradicionais do Brasil, Márcia chama a atenção para outras partes do mundo que devem entrar no radar dos pequenos exportadores. É o caso da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), um mercado de 620 milhões de consumidores que pode ser mais bem explorado sobretudo pelo nicho de alimentos e bebidas, diz. O bloco reúne dez países, como Tailândia, Filipinas e Malásia.

Outro eldorado pouco aproveitado é o mercado árabe, com 22 países que compõem a Liga de Estados Árabes. "As pequenas empresas brasileiras já mostram uma participação crescente em alguns segmentos", diz Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Há fabricantes de games que vendem na Jordânia, hotéis em Dubai totalmente revestidos com mármore e granito produzidos no Brasil e chuveiros elétricos que fazem sucesso no Sudão, afirma.