21/08/14 15h50

Dell amplia presença no varejo brasileiro

Valor Econômico

Num cenário que combina desaceleração da economia brasileira com o período de transição no mercado global de TI, com queda das vendas de computadores pessoais e expansão da demanda por tablets, a Dell decidiu reforçar a aposta no Brasil. Depois de inaugurar, em março, um centro de soluções para clientes empresariais em São Paulo, a companhia vai ampliar a capacidade de produção da fábrica em Hortolândia (SP) e lançar mais uma linha de tablets ainda no segundo semestre, além de quadruplicar o número de pontos de venda em que está presente no varejo local ao longo de 2014.

A ofensiva faz parte da estratégia mundial adotada pela Dell após a conclusão do processo de recompra de ações e fechamento de capital, em outubro do ano passado, que lhe permitiu operar sem pressões por resultados trimestrais. "Estamos tomando melhores decisões de longo prazo; não estamos tão amarrados aos ciclos trimestrais dos negócios", disse o diretor financeiro global da companhia, Thomas Sweet, em entrevista na unidade administrativa e comercial de Eldorado do Sul (RS).

Há seis meses no cargo e 17 anos na empresa, Sweet contou que desde o fechamento de capital a Dell vem ampliando receitas e ganhos operacionais. "Nosso fluxo de caixa se fortaleceu, estamos crescendo com lucratividade e já fizemos muitos pagamentos de dívidas, o que nos permite ajustar nossa estrutura de capital", afirmou. Sem revelar números absolutos, ele disse que a companhia prevê um crescimento de 4% a 5% nas receitas globais no ano de 2014, em linha com as estimativas de mercado.

As últimas informações contábeis anuais publicadas pela empresa referem-se ao ano fiscal de 2013 (de fevereiro de 2012 a janeiro de 2013, conforme o calendário adotado pela matriz americana). Na época, as receitas somaram US$ 56,9 bilhões, com queda de 8% sobre o ano anterior, enquanto o lucro líquido recuou 32%, para US$ 2,4 bilhões. No segundo trimestre do ano fiscal de 2014 (maio a julho de 2013), a receita ficou estável em US$ 14,5 bilhões e o lucro caiu 72% ante igual período do ano anterior, para US$ 204 milhões.

O Brasil, de acordo com Swett, contribui com pouco mais de 5% das receitas globais da companhia e, apesar do "ciclo de baixa" enfrentado pela economia local, "expandir é um ditame do negócio". "Todas as economias enfrentam ciclos. Temos muito trabalho a fazer no Brasil, muitos clientes ainda não sabem tudo sobre nossas capacidades e creio que temos grandes oportunidades para continuar expandindo nossas operações", afirmou. Além das unidades de Eldorado do Sul, Hortolândia e São Paulo, a empresa tem um centro de pesquisa e desenvolvimento de softwares em Porto Alegre.

Na mesma linha, a diretora executiva de vendas para consumidores pessoa física e pequenas empresas no país, Rosandra Silveira, disse que se a Dell não fosse "otimista" não estaria fazendo os investimentos em curso no Brasil, incluindo a expansão "importante" da fábrica de Hortolândia a ser concluída no segundo semestre fiscal, que vai até janeiro de 2015. De acordo com ela, nos seis primeiros meses de 2014, as vendas no varejo mais que dobraram em relação a igual período de 2013, elevando a participação de mercado da companhia para 10% (era 4,3% um ano antes), e superaram pela primeira vez o canal de comercialização direta, pela internet.

"A tendência é que o varejo ganhe mais participação, até porque estamos aumentando a presença nos pontos de venda", disse a executiva. Segundo ela, embora 2014 não seja um "ano fácil" para a informática, a retração da demanda por notebooks concentra-se nos produtos de até R$ 1,2 mil, enquanto na faixa em que a Dell atua, acima de R$ 1,5 mil, há expansão. Por isso, a empresa vai quadruplicar, este ano, o número de pontos de venda em que seus produtos são distribuídos, disse Rosandra.

As vendas de tablets também crescem com força e já representam "dois dígitos" dos negócios da empresa no varejo, acrescentou a diretora. A Dell lançou as duas primeiras linhas no mercado brasileiro este ano, uma com tela de 11 polegadas e sistema operacional Windows, fabricada em Hortolândia, e outra, importada, com oito polegadas e sistema Android. O próximo modelo terá sete polegadas, com Android, e será lançado no segundo semestre fiscal.

"Na verdade o que estamos vendo é que tablets e notebooks de alguma forma estão convergindo, pois você vê tablets com teclado e notebooks que podem ser separados", comentou Sweet. De acordo com o executivo, a Dell ainda não é tão grande quanto deseja neste segmento e por isso continuará investindo na ampliação do portfólio. "Nossa estratégia é ser provedor líder de soluções de TI e se o PC está declinando, temos outras avenidas para continuar crescendo", acrescentou. Segundo ele, o segmento de softwares, serviços e soluções já representa 40% das receitas globais da Dell. A participação dos clientes empresariais e institucionais chega a 80% dos negócios.