13/08/18 14h03

Em cinco anos, volume de startups vai crescer 10 vezes

Diário do Grande ABC

Inovação disruptiva. Esse é o termo de ordem das startups, empresas que visam revolução de comportamentos por meio de tecnologias. No Grande ABC, são 34 empreendimentos neste modelo, e a expectativa é a de que em cinco anos o volume seja dez vezes maior, chegando a 340, conforme o Itescs (Instituto de Tecnologia de São Caetano). A projeção, na avaliação de especialistas, é baseada no potencial do ecossistema das sete cidades.

“Temos na região agentes relevantes, como universidades de boa qualidade e potenciais empreendedores, além de incubadoras, coworkings e poder público com iniciativas favoráveis”, assegura Luiz Schimitd, presidente do Itescs. Entretanto, mesmo com cenário favorável, essas empresas do Grande ABC representam apenas 0,53% das 6.307 existentes em todo País, conforme a Associação Brasileira de Startups.

Schimitd observa que as universidades da região possuem bom ‘celeiro’ de inovação, ou seja, desenvolvem inteligência inovadora em seus estudantes, porém, as sete cidades não absorvem essas ‘mentes empreendedoras’. “Muitas ideias fomentadas aqui acabam indo para a Capital (seja para concepção, incubação ou aceleração).”

“Somos (o Grande ABC) um mercado em crescimento, mas ainda temos aquela cultura de que a pessoa sai da faculdade para trabalhar em uma grande empresa, como Volkswagen ou Scania. Precisamos desenvolver a mente empreendedora da região”, avalia Antero Paulo dos Santos Matias, coordenador da Mondó, incubadora da Universidade Metodista de São Paulo.
Para o fomento do ramo, Felipe Carvalho, diretor de Desenvolvimento Econômico, Inovação, Tecnologia e Turismo da Prefeitura de Santo André, defende que o relacionamento entre empresas e empreendedores precisa ser fortalecido. “A ideia é que as empresas apresentem suas dificuldades e as startups desenvolvam soluções para essas demandas.”

Matias pontua que, muitas vezes, estudantes desenvolvem projetos inovadores durante o curso, entretanto, elas acabam ‘se perdendo’. “As incubadoras têm que atrair alunos e ex-alunos para desenvolver suas ideias e não jogar o resultado de um trabalho no lixo. A universidade deve incentivar que a pesquisa não fique na sala de aula. É preciso tirar do papel e vendê-la”, afirma.

Atualmente, o Grande ABC conta com seis espaços de desenvolvimento de projetos inovadores: incubadoras Mondó, da Metodista, e a da Universidade Federal do ABC; laboratórios UpLab, do Senai-SP em São Caetano, e o de indústria 4.0 do Instituto Mauá de Tecnologia; além da parceria entre Itescs e USCS (Universidade Municipal de São Caetano).

Além disso, existem dez coworkings, importantes para troca de conhecimentos e estabelecimento de rede de contatos.

ALTO RISCO AINDA INIBE INVESTIMENTOS

Um dos fatores que freiam investimentos em startups é o alto risco, uma vez que 75% deixam de existir ainda no primeiro ano, lembra Matias. “O investidor brasileiro almeja baixo risco e rápido retorno”, completa. “O País ainda está amadurecendo. Precisamos lembrar que elas apresentam soluções inéditas e possuem alta arrecadação”, salienta Maria Rita Spina Bueno, diretora executiva da Anjos do Brasil.

No País, a única lei favorável ao aporte em empreendimentos inovadores é a 155/2016, que determina proteção patrimonial ao investidor-anjo – pessoa física que investe capital próprio –, ou seja, mesmo que haja perdas monetárias, não há responsabilização pelo encerramento do empreendimento. “É necessário que o governo proponha algum tipo de incentivo aos investidores, como abatimento no Imposto de Renda (o que já acontece em países da Europa e nos Estados Unidos)”, exemplifica Maria Rita.

Vale lembrar que o investidor-anjo não é responsável apenas pela parte financeira, mas também pela mentoria do projeto. Por este motivo, a diretora executiva orienta que os interessados procurem redes de anjos. “Assim, ninguém investe sozinho e o empreendimento ganha mais expertise, porque eles (os investidores) podem atuar em diferentes áreas do negócio, como networking, gestão de pessoas e a parte financeira”.

PREFEITURAS SÃO FUNDAMENTAIS PARA APRESENTAR IDEIAS ÀS INCUBADORAS

Luiz Schimidt defende que, além de legislação favorável, o poder público tem papel importante no fomento do ecossistema de startups. “As prefeituras precisam acelerar o processo de incentivo”, avalia. “Para o mercado, elas (as gestões) precisam fornecer consultoria e, para a sociedade, funcionar como conectoras de incubadoras, mentores, aceleradoras e assim por diante.”

Felipe Carvalho assegura que a Prefeitura de Santo André faz ações para identificar os agentes presentes no município e conectá-los. “A gestão está preparando o ambiente de inovação e empreendedorismo por meio do Centro de Inovação do Parque Tecnológico (que deve sair do papel até 2020)”.

Em São Bernardo, o Ceitec (Centro de Empreendedorismo e Inovação Tecnológica)afirma que apoia e incentiva a criação de startups na cidade. No local, atualmente há 19 projetos em fase de pré-incubação, ou seja, fase de fortalecimento como empresa, que termina em setembro. Na sexta-feira, foi divulgado chamado público para que novos projetos se inscrevam.

STARTUP ANDREENSE TEM PROJETO NO CANADÁ

Lançado em 2014, o aplicativo idealizado e desenvolvido em Santo André Filho Sem Fila está, desde o ano passado, com projeto piloto no Canadá. A plataforma tem o objetivo de reduzir a fila de carros na porta das escolas ao término das aulas – o pai ou responsável programa o chamado e, quando está chegando no local, um aviso é enviado automaticamente à escola, que prepara a saída do aluno com antecedência.

“A ideia veio após meu sócio esperar quase 30 minutos na porta da instituição de ensino para conseguir pegar os filhos”, conta Rubens Rodrigues, co-fundador. Além de otimizar o tempo dos pais, evita o congestionamento comum em áreas escolares. Atualmente, são 130 escolas cadastradas em 52 cidades, que somam 30 mil alunos.

O embarque para o Canadá foi possível graças à aceleradora local. “Participamos da seleção (para aceleração) e passamos. Essa ajuda é necessária para nos adaptarmos a outro mercado. Lá, a questão do trânsito não é tão latente quanto aqui, por exemplo”, explica Rodrigues.

Para que a plataforma seja lançada oficialmente, os sócios estão buscando investidores.

LOJA VIRTUAL - Também no ramo da Educação, a startup Eskolare visa facilitar a vida dos pais e também a da escola. O aplicativo concentra, por meio de lojas virtuais, produtos necessários para o estudo, tais como livros, uniformes, passeios e aulas extraclasse.

“A ideia é reunir, em uma única plataforma, todos os itens solicitados pela escola, assim, os pais poupam tempo de pesquisa e deslocamento, além de poder pagar todos os produtos de uma só vez”, explica o sócio são-bernardense Erick Moutinho.

Para a escola, Moutinho destaca que o benefício é não precisar fazer a gestão dos fornecedores, além de saber quais estudantes compraram ou não o material necessário. “Para as instituições não há custo nenhum, e os produtos oferecidos para os pais são mais em conta do que no mercado.”

A plataforma começou a operar em novembro de 2017 e contou com aporte de R$ 200 mil, provenientes de 14 investidores-anjo. Em quatro meses de operação, foram cerca de 3.400 transações no Rio Grande do Sul e no Paraná onde, segundo Moutinho, possuía maior demanda. Os negócios no Estado de São Paulo estão em fase de implementação.