08/07/21 12h19

Embrapa pesquisa produção de etanol mais competitivo

A partir de nanocristais da palha da cana-de-açúcar se torna possível extrair etanol com índice de cristalinidade de 80%

Jornal Primeira Página

Pesquisa realizada pela Embrapa Instrumentação, na unidade de São Carlos (SP), encontrou nanocristais da palha da cana-de-açúcar que produzem etanol de segunda geração. Trata-se da manipulação de macromoléculas extraídas de um resíduo ainda pouco explorado, mas com elevado potencial para a sustentação futura de biorrefinarias. 

Da palha é possível ainda utilizar a matéria-prima na obtenção dos chamados materiais verdes, provenientes de fontes renováveis e sustentáveis, de alto valor agregado. 

“Os nanocristais servem como aditivos, melhorando as propriedades dos materiais usados em embalagens e filmes, por exemplo”, explica a pesquisadora da Embrapa, Cristiane Sanchez Farinas, coordenadora da pesquisa. 

Os pesquisadores constataram que os nanocristais obtidos da palha da cana-de-açúcar, um material abundante, apresentaram alto rendimento e estabilidade térmica, além de índice de cristalinidade de 80%, enquanto o material precursor ficou em 65%. Isso significa que o etanol de segunda geração rende mais como combustível. 

Em 2020, a produção de cana-de-açúcar estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 677,9 milhões de toneladas. O Estado de São Paulo foi o destaque em área plantada, com cerca de 5,6 milhões de hectares, o equivalente a 55% do total no País. 

A palha da cana é um dos principais resíduos de biomassa lignocelulósica gerados nas usinas brasileiras de açúcar ou etanol, estimados entre 10 e 20 toneladas de matéria seca por hectare anualmente. 

Esse volume representa cerca de um terço do total de energia primária da cana-de-açúcar, o que torna o resíduo uma fonte alternativa renovável e sustentável aos combustíveis fósseis, principal fonte energética mundial, responsáveis em grande parte pelas emissões dos gases causadores do efeito estufa. De 1998 a 2018, as emissões globais de CO2 relacionadas à energia aumentaram 48%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). 

NANOCRISTAIS

Semelhantes a grãos de arroz, mas com espessura cerca de 200 mil vezes menor, os nanocristais de celulose (CNCs), também conhecidos como whiskers, são candidatos importantes para substituir alguns produtos de base petroquímica. 

A utilização e aplicação no nosso cotidiano são amplas, abrangem de medicamentos a dispositivos eletrônicos, passando por produtos de consumo, sensores, aerogéis, adesivos, filtros, embalagem de alimentos e engenharia de tecidos, por exemplo. 

A PESQUISA 

O estudo vinculado à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), conduzido pelo pesquisador Stanley Bilatto, busca ampliar a pesquisa e desenvolvimento em bioenergia e investigar novas alternativas tecnológicas para consolidar a liderança brasileira na pesquisa e produção de bioenergia. 

O pesquisador passou pelo Forschungszentrum Jülich, na Alemanha, em 2015, durante o doutorado, e realizou uma parte do seu pós-doutorado na Pritzker School of Molecular Engineering (PME) da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, no ano passado. 

“Os resultados demonstraram que a extração efetiva de nanocristais da palha da cana-de-açúcar abre a possibilidade de obtenção de nanomateriais de alto valor agregado, uma contribuição para a sustentabilidade de futuras biorrefinarias”, relata Bilatto. 

Segundo ele, a palha é majoritariamente utilizada para gerar calor e eletricidade ou é deixada nos campos para melhorar a qualidade do solo, retenção de água, reciclagem de nutrientes e redução da erosão. Mas a palha da cana é rica em lignocelulose e baixa em carboidratos, como açúcares e amido e proteínas armazenadas. 

fonte: https://www.jornalpp.com.br/noticias/cidades/embrapa-pesquisa-producao-de-etanol-mais-competitivo/