13/09/18 12h10

Empresas brasileiras fortalecem exportações e presença internacional na Automechanika

Vender no exterior aumenta competitividade e eficiência de fabricantes nacionais de autopeças

Automotive Business

*PEDRO KUTNEY

As 50 fabricantes brasileiras de autopeças que participam este ano da Automechanika Frankfurt (11 a 15 de novembro), na Alemanha, buscam um de dois objetivos, ou ambos: cultivar novos clientes estrangeiros para aumentar as exportações a partir do Brasil e solidificar presença internacional por meio de operações fora do País.

Mas os dois casos provocam o mesmo resultado: buscar mercados externos eleva qualidade, eficiência e competitividade das corporações não só para exportar, mas também para melhorar o desempenho doméstico, conforme destaca Elias Mufarej, conselheiro do Sindipeças e coordenador do programa Brasil Autoparts de apoio às exportações, mantido pela entidade em conjunto com a Apex, agência brasileira de fomento ao comércio exterior ligada ao Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

“O setor de autopeças está buscando constantemente fórmulas de incentivo às exportações e isso também é um valor para ser mais competitivo no mercado interno, porque as empresas que buscam clientes no exterior precisam ser mais eficientes e garantir qualidade”, avalia Mufarej.

Desde o início dos anos 2000 o Sindipeças promove a construção do pavilhão brasileiro na Messe Frankfurt durante a Automechanika – este ano o espaço reúne 38 empresas, o mesmo número do evento há dois anos, mas 10 delas vieram pela primeira vez. O acontecimento é parte do programa Brasil Autoparts, que envolve participação em feiras internacionais, missões comerciais ao exterior e rodadas de negócios com compradores internacionais no Brasil. O projeto é renovado a cada dois anos com a Apex, que nesta última edição investiu R$ 7,5 milhões, com contrapartida de R$ 4 milhões do Sindipeças, totalizando R$ 11,5 milhões.

Parte dos recursos serve para promover e subsidiar a participação associados da entidade em feiras, barateando os custos. No caso da Automechanika, cada participante paga de R$ 3,5 mil a R$ 5 mil pelo pequeno espaço para expor seus produtos e receber clientes no maior salão de autopeças do mundo. O valor é irrisório quando se considera que o metro quadrado durante o evento custa € 280.

“Existem empresas que estão presentes há anos e têm cultura exportadora, mas para muitas esta é a única forma acessível de exposição internacional”, afirma Elaine Colnago, assessora de fomento à exportação do Sindipeças, dedicada ao projeto Brasil Autoparts, que atualmente tem 250 associados envolvidas. “Nossa missão é sensibilizar as empresas sobre a importância de exportar para aumentar a competitividade e manter os negócios no exterior independentemente do câmbio, para garantir a confiabilidade dos produtos brasileiros no exterior”, reforça Elaine.

O Sindipeças estima que este ano as autopeças brasileiras vão faturar US$ 8,26 bilhões com exportações, valor 11,5% maior do que o aferido em 2017. “É um bom momento para exportar, a atratividade do câmbio é ímpar, temos recebido muitos contatos de empresas que nunca exportaram. Mas as condições para isso já não sãos as mesmas de 20 ou 30 anos atrás, quando o Brasil tinha custo mais competitivo como a China hoje”, conta Mufarej. Ele avalia que as autopeças brasileiras construíram boa imagem no exterior e a Automechanika é uma “vitrine muito qualificada” para mostrar isso. “Aqui as pessoas agendam reuniões com potencias compradores do mundo inteiro a todo momento e têm acesso a clientes que nem saberiam que existiam se não estivessem aqui”, reforça.

Entre as empresas brasileiras na Automechanika, a mais internacional delas hoje é a Fras-le, que monta estande próprio na feira em Frankfurt há mais de duas décadas. Fabricante de pastilhas e lonas de freio do grupo Empresas Randon, a Fras-le tem fábricas na China, Índia, Argentina, no Uruguai e nos Estados Unidos, além de centro de distribuição na Alemanha. Com isso, as exportações e as operações externas representam 55% do faturamento, de R$ 529,2 milhões no primeiro semestre deste ano, 34,8% acima do registrado no mesmo período um ano antes.

“Passamos pelo maior período de internacionalização de nossa história com muitas aquisições, e não vamos parar, devemos ter mais notícias sobre isso em breve”, revela o CEO da Fras-le, Sérgio Carvalho – também chefe de operações (COO) das seis empresas de autopeças da Randon. “A empresa sempre buscou os mercados externos e é bem-sucedida no exterior porque existe uma política empresarial focada nisso, com processos robustos que garantem qualidade e reconhecimento internacional”, avalia.

Outra empresa fortemente internacionalizada com presença constante na Automechanika há mais de 20 anos é a Zen, fabricante de polias e impulsores (pinos) de motores de partida com fábrica em Brusque (SC). A empresa tem representações no exterior mas ainda não Também dedicada ao mercado de reposição e participante de mais de duas décadas com estande próprio na Automechanika, a ZM tem a mesma estratégia com menos intensidade. A empresa exporta cerca de 50% do que produz em Brusque (SC) – principalmente solenoides, induzidos, motores de arranque, alternadores, polias, parafusos de roda e cruzetas. Quase todos esses componentes também são fabricados na China e exportados de lá. “É uma maneira de oferecer custo melhor ao cliente e entrar em mercados que não estávamos”, diz a assistente de marketing Poliana Zimermann. Com isso, mais da metade do faturamento vem hoje do exterior.

Fabricando exclusivamente para vendas no aftermarket em São Bernardo do Campo (SP) sensores de oxigênio (lambda), de temperatura do cabeçote do motor (CHT) e de rotação e fase, a MTE-Thomson até agora conseguiu fugir da produção no exterior e hoje obtém 55% do faturamento com exportações para 140 países, cerca de 25 deles no Leste Europeu. Presente pela 11ª vez com estande próprio na Automechanika, a empresa vem aumentando as vendas externas com foco em cobrir brechas de mercado. “As variações cambiais não importam tanto para nós porque temos receita internacional, o que compensa as importações que fazemos”, afirma o gerente comercial de exportação Marcos Roque.

construiu fábricas em outros países. Mesmo assim, as exportações representam quase 60% do faturamento.

“Conseguimos nos manter competitivos graças a uma cultura corporativa focada na eficiência de nossos processos”, justifica o CEO Gilberto Heinzelmann. Segundo ele, as participações na Automechanika abrem possibilidades de negócios não só com clientes novos, mas também com os já existentes que visitam a empresa em Frankfurt a acabam consolidando novos projetos. “É um hub de oportunidades melhor do que qualquer outro no mundo. Só aqui consigo reunir clientes de meia dúzia de países em um mesmo jantar”, conta. A Zen faz 60% de suas vendas para o mercado de reposição e 40% vão para fornecedores de equipamento original (OE), principalmente fabricantes de motores de partida como Bosch, BorgWarner e Valeo, incluindo embarques para China, Índia, México e Europa.

No melhor estilo “se não pode com eles, junte-se a eles”, algumas empresas brasileiras descobriram que podem produzir na China para baixar seus custos e vender no mundo todo. A Gauss, de Curitiba (PR), que há mais de 20 anos monta estande próprio na Automechanika Frankfurt, é um caso extremado dessa estratégia. Apesar de ter hoje 30% do faturamento gerado no exterior, a empresa exporta menos de 3% da produção brasileira, mas envia para cerca de 50 países quase 100% do que produz em sua fábrica na China, inaugurada em 2007. Essa foi a forma que encontramos para ser competitivos”, diz o CEO Claudio Doerzbacher Jr. No entanto, ele conta que ainda sobraram alguns poucos clientes, como um do Egito, que fazem questão de receber o produto na caixa com a inscrição made in Brazil.

Dedicada 100% ao aftermarket, a Gauss é fabricante de uma longa lista de componentes elétricos com 4 mil itens e lança algo como 600 produtos por ano, os mais vendidos são os reguladores de voltagem. “Queremos agora aumentar ainda mais a amplitude de nosso portfólio e para isso mantemos uma equipe de 21 engenheiros no Brasil e na China”, conta Doerzbacher Jr. A empresa paranaense também tem escritório na Alemanha e vai abrir em breve um centro de distribuição no país.

As estratégias podem variar, mas seja no Brasil ou além das fronteiras, o segredo do sucesso internacional para as empresas brasileiras de autopeças está invariavelmente no foco, em tratar exportações e operações estrangeiras como estratégia perene de longo prazo, que não muda ao sabor das variações cambiais. Para isso, no entanto, é preciso contar com processos eficientes e qualidade. Sem isso, no mundo atual, não dá nem para começar.