14/09/18 12h42

Empresas brasileiras usam a China para chegar na Europa

Custos competitivos e infraestrutura eficaz são fatores que tornam o investimento no país asiático atraente

Folha de S.Paulo

*Gilmara Santos

Empresas brasileiras com unidades na China investem para expandir suas operações de olho, não só nos negócios com o continente asiático, mas também no mercado europeu.

Custos competitivos e infraestrutura eficaz são alguns dos fatores que tornam o investimento no país atraente para as brasileiras, segundo Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China).

“As companhias brasileiras estão usando a base chinesa para conquistar também a Europa, já que lá há uma logística eficiente com custos menores”, afirma Hsieh Yuan, diretor da Mazars, empresa global de consultoria.

A Embraco, fabricante de compressores, é uma das brasileiras que exporta os produtos feitos na China para 20 países, principalmente europeus.

“[Na chegada ao país], fizemos uma joint venture com uma estatal chinesa para expandir as operações no mercado asiático e essa parceria foi um dos fatores de sucesso”, afirma Luís Felipe Dau, presidente da Embraco.

A WEG, fabricante de motores elétricos de baixa e alta voltagem, concluiu um ciclo de investimentos de US$ 125 milhões no parque fabril chinês e inicia, agora, um aporte de US$ 20 milhões. “Hoje temos quatro operações na China, e vamos expandir o nosso parque com esse novo investimento”, diz o diretor-superintendente da WEG Motores, Luis Alberto Tiefensee.
Outra companhia que também vê oportunidades de crescer no mercado asiático é a Marcopolo, fabricante de caminhões e ônibus.

“Apesar de a China ser o maior mercado mundial para ônibus, hoje não vendemos para eles. Produzimos lá e exportamos para Austrália, África do Sul, Egito, Paquistão”, afirma André Vidal, diretor de estratégia e negócios internacionais da Marcopolo.

Apesar de as empresas brasileiras que já estão em solo chinês estarem confiantes, o montante de recursos investidos naquele país caiu no ano passado, quando foram aplicados apenas US$ 9,8 milhões. No auge dos investimentos, em 2011, as companhias nacionais chegaram a aportar US$ 417 milhões, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

“Houve queda nos investimentos das empresas brasileiras de um modo geral, reflexo da crise financeira que afeta os negócios no país e, consequentemente, os aportes no exterior”, afirma o gerente de negociações internacionais da CNI, Fabrizio Panzini.

Apesar da diminuição, a tendência, segundo especialistas, é que haja aumento no volume nos próximos anos. “Há um potencial enorme para as empresas brasileiras no mercado asiático”, disse Panzini.

Para especialistas, os setores com potencial de expansão são de alimentos, tecnologia da informação, componentes automotivos e têxtil, sendo que mercados tradicionais como de mineração ou metais devem seguir com bom desempenho.

No entanto, questões culturais e o protecionismo chinês são os principais limitadores para investimentos. Isso porque o governo exige que a comercialização de produtos brasileiros fabricados lá tem de ser feita em parceria com uma empresa local.

“A atuação brasileira na China ainda é tímida”, diz Yuan, da Mazars. Segundo ele, depois do boom em 2011, muitas empresas optaram por tirar suas operações de lá, no entanto, em 2015 o fluxo voltou, ainda que em menor quantidade e com um perfil diferente.

Yuan conta que realiza o processo de abertura de empresas para duas companhias brasileiras que pretendem instalar operações em território chinês. Uma no ramo de mineração e outra no de componentes automotivos.