16/04/18 12h06

Empresas menores resistem à automação, mesmo com tecnologia acessível

Empreendedores devem acompanhar desenvolvimento tecnológico para não perder competitividade

Folha de São Paulo

Automatizar é tornar um processo mais eficiente usando tecnologia. Pode ser informatizar as vendas e o controle de estoque, criar informações sobre a produção ou robotizar o atendimento.

A automação é fundamental na indústria 4.0, que visa tornar as empresas mais ágeis com uso de inteligência artificial, explica Marcelo Prim, gerente-executivo de Inovação e Tecnologia do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

É possível, por exemplo, usar sensores para aprender que a agulha de uma máquina quebra a cada 20 dias. A máquina avisa a hora da troca, o que evita uma interrupção repentina da produção.

"Você sabe o que está acontecendo a um baixo custo, qualquer empresa pequena pode se digitalizar", diz.

Segundo um estudo da Jiva, que faz soluções de gestão, o nível de automação das pequenas empresas no estado de São Paulo é de 40%.

"O índice baixo evidencia que os empresários estão envolvidos nas operações e pouco atentos à parte gerencial e estratégica", afirma Fábio Túlio, presidente da empresa.

Participar de feiras e prestar atenção na concorrência é essencial. E antes de investir em automação, vale procurar aconselhamento de serviços como o Sebrae.

Werter Padilha, coordenador do comitê de Internet das Coisas da Abes (Associação Brasileira das Empresas de Software), acredita que, com o avanço da tecnologia, as empresas menores ganham mais chances de competir com as grandes. A estrutura enxuta dá agilidade para adotar as novidades do mercado.

Segundo Túlio, automatizar processos está cada vez mais barato. Se o empresário não tiver recursos para investir, há linhas de financiamento, como as da agência Desenvolve SP e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Para o varejo, a Totvs, que faz sistemas de gestão, tem equipamentos para venda informatizada que custam a partir de R$ 200 ao mês. Startups também têm soluções para empresas pequenas.

O Senai tem um pacote para digitalizar uma indústria pequena por R$ 35 mil, que permite que a companhia interprete as informações captadas na produção e crie ações de melhoria contínua.

No site Senai 4.0, há um questionário que avalia a maturidade da empresa em relação à indústria 4.0.

O empreendedor recebe um relatório com o diagnóstico e um consultor cria um plano de digitalização.

No escritório de advocacia Urbano Vitalino, a inteligência artificial Watson, da IBM, insere processos no sistema, que lida com 100 mil ações judiciais de clientes de grande porte, como bancos.

Segundo eles, enquanto um estagiário leva 15 minutos na tarefa, e erra 20% das vezes, o sistema gasta segundos e tem 98% de acertos.

A inteligência artificial lê os processos, identifica os pedidos e sugere a defesa. "Deixa os advogados livres para trabalhar em pesquisa e revisão", diz o diretor do escritório, Urbano Vitalino Neto.

O sistema torna a produção mais confiável e diminui parte dos custos.

"Quem não investir vai sair do mercado de advocacia de volume", afirma Neto, que diz que o sistema se pagará em poucos anos.

Na franquia de clínicas odontológicas Orthodontic, a recepção foi automatizada. Com 230 franqueados, eles investiram R$ 3 milhões em tecnologia em 2017, valor que deve dobrar neste ano.

"Temos 7.000 atendimentos ao mês, havia fila para fazer check-in e pagar", diz o sócio-fundador da rede, Fernando Massi.
No novo sistema, o cliente se apresenta no totem de autoatendimento. Após ser atendido, o dentista agenda o retorno via tablet.

A automação substituiu por um sistema de envio de SMS o profissional que ligava para lembrar os clientes das consultas.
Ao se automatizar, a empresa precisa treinar quem tinha funções manuais em outros cargos, para não cortar vagas.
Massi diz ter empregado em vendas 80% do pessoal que ficou obsoleto com a tecnologia adotada pela franquia.