31/07/14 18h17

FAB tenta estimular fornecedores nacionais

Valor Econômico

A experiência da brasileira Contec, que conseguiu produzir no país o para-brisa blindado do caça AMX, foi apresentado em um evento ontem, em São Bernardo do Campo (SP), como um exemplo de como a indústria nacional pode avançar no segmento de defesa. A Contec começou a nacionalizar o para-brisa depois que o fabricante europeu deixou de fornecer o produto.

"Em 2009, o fabricante europeu deixou de fornecer o produto e por conta disso toda a frota de AMX, a espinha dorsal da aviação de caça da FAB [Força Aérea Brasileira], ficou no chão", afirmou o brigadeiro Ricardo Cesar Mangrich, diretor do Centro de Logística da Aeronáutica.

O para-brisa fabricado no Brasil, segundo o presidente da Contec, Christian Conde Antônio, atingiu nos testes de resistência ao impacto resultados tão eficientes quanto os produtos estrangeiros. A empresa investiu R$ 4 milhões no desenvolvimento do projeto, que durou três anos. "Fornecemos um lote de 20 para-brisas completos. No mundo, apenas três empresas detém essa tecnologia", ressaltou. Hoje, 85% da receita da empresa vem do fornecimento de blindagem para o setor automotivo e arquitetônico e 15% para o segmento de defesa.

A FAB também comprou 20 unidades do mesmo produto da empresa americana PPG. A inglesa GKM e a francesa Saint Gobain também atuam nesse mercado.

O grupo alemão Steinhauser, que atua na gestão do desenvolvimento de projetos nas montadoras instaladas na região do ABC, começou recentemente a movimentar seus negócios para o setor aeroespacial. "Vamos construir uma unidade em Sorocaba, que usará sua capacidade para atender às duas áreas de atuação da empresa", disse o diretor de Negócios, Karl Steinhauser. Segundo ele, o grupo acaba de adquirir uma empresa em São José dos Campos e vai começar a fornecer para a Embraer.

Com cerca de R$ 30 bilhões de contratos em carteira, envolvendo o desenvolvimento e a modernização dos seus equipamentos estratégicos e de serviços, a FAB apresentou ontem para as empresas de defesa de que forma elas podem aumentar a participação no fornecimento desses produtos. O evento reuniu mais de 550 empresas e girou em torno do programa F-X2, que prevê a produção de 36 caças no Brasil e investimento estimado em US$ 4,5 bilhões.

O município de São Bernardo, por exemplo, vai abrigar uma fábrica de aeroestruturas que exigirá investimento de US$ 150 milhões. O valor será bancado pela sueca Saab, fabricante do caça Gripen NG, em parceria com a brasileira Inbra Aerospace.

"Também queremos aproveitar a atual infraestrutura existente no parque produtivo metal-mecânico e químico já instalado na região do Grande ABC para atender às encomendas do setor de defesa e, ao mesmo tempo, ampliar as linhas de atuação das empresas", disse o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Jefferson José da Conceição.

Com uma produção mais diversificada, segundo o secretário, as empresas têm mais fôlego para enfrentar os períodos de baixa demanda na produção, principalmente no segmento de defesa, que fica muito sujeito às oscilações do orçamento federal. Ele cita o exemplo da Termomecânica, que ganhou a licitação da Marinha para fornecer uma chapa de aço especial do submarino brasileiro.

O prefeito de São Bernardo do Campo, Luís Marinho (PT) disse que as vantagens logísticas do município, incluindo o projeto de um aeroporto local, deverão se converter em um grande chamariz de empresas, principalmente do setor de manutenção e de modernização de aeronaves.

Marinho esteve recentemente em Israel para visitar empresas do setor de defesa. Uma delas, a IAI, maior indústria aeroespacial e de defesa do país, foi escolhida para fornecer dois aviões cargueiros e de reabastecimento em voo para a FAB. O contrato aguarda dotação orçamentária para ser efetivado. Entre outras atividades, a IAI faz manutenção de motores para o mercado de aviação civil.