24/11/14 15h07

Fundo de doação financia projeto de ensino

Folha de S. Paulo

Os estudantes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo tinham dois pequenos fundos patrimoniais para receber doações de ex-alunos e de empresas com a ambição de financiar pelo menos parte dos programas de ensino de engenharia, que hoje são bancados quase que exclusivamente pelo orçamento da universidade.

Neste ano, os dois fundos juntaram forças e formaram o Amigos da Poli para captar mais recursos e financiar projetos dos alunos. O fundo já tem R$ 7 milhões em caixa e só o rendimento anual é suficiente para bancar parte de 12 projetos de extensão.

"Queremos um dia bancar a reforma da Poli, mas por enquanto o foco são os projetos dos estudantes. E projetos de ensino, porque pesquisa tem outras fontes de recurso", disse Maximo Gonzales, diretor do fundo da Poli. Entre os projetos financiados está o da equipe Thunderatz, que desenvolve robôs para lutas em competição.

O Amigos da Poli segue o modelo dos fundos patrimoniais de universidades americanas e europeias, conhecidos como fundos de endowment. Eles captam doações e recebem imóveis e dinheiro de heranças para financiar o custeio das universidades.

No Brasil, as universidades públicas são financiadas pelos governos federal e estadual, enquanto as privadas são bancadas pelas mensalidades escolares.

No modelo americano, só um terço do orçamento vem das mensalidades dos alunos. Outro terço é recebido para a pesquisa, por meio de parcerias com setor público, fundações e empresas privadas. E a terceira parte vem do rendimento desses fundos patrimoniais, que recebem doações e heranças.

O imposto sobre heranças, que chega a 50%, estimula os donos de grandes fortunas a destinarem parte do espólio à caridade.

Na Universidade Harvard, 35% das receitas vêm do rendimento do fundo de endowment, que tem US$ 36,4 bilhões e é o maior do mundo. As mensalidades dos estudantes respondem por 20%, enquanto patrocínios e parcerias entram com o resto.

Mesmo em instituições públicas como a Universidade de Michigan, só 9% do orçamento vem do governo; 21% vem de mensalidades e o restante do endowment, doações, parcerias e prestação de serviços à comunidade.

A ideia foi seguida pela FEA (Faculdade Economia e Administração) da USP, que bancou metade da reforma da biblioteca por meio de doações, sendo a maior doação a do acervo pessoal do professor emérito Delfim Neto. O fundo patrimonial da FEA já tem R$ 200 mil e está em fase de constituição.

O Insper tem um programa ambicioso de captação de doações que banca bolsas de estudo para 141 alunos, que vão de 10% a 100%. As bolsas parciais são na verdade um empréstimo, que depois de terminado o curso os estudantes reembolsam.

Já as integrais não são reembolsadas. Para o próximo ano, o fundo de bolsa já captou R$ 2 milhões. "Não queremos ter um curso só para aluno rico, mas para todos que tenham talento e que queiram estudar", diz Claudio Haddad, presidente do Insper.

A expansão do Insper é bancada por doações e patrocínios, que vão de R$ 100 a R$ 450 mil. O novo curso de engenharia já levantou R$ 90 milhões em doações.