12/06/17 15h03

Governo e indústrias discutem plano nacional para modernização do setor

Valor Econômico

Diante do encolhimento sistemático da participação da indústria brasileira no Produto Interno Bruto (PIB) desde meados dos anos 80, governo e empresas tentam reverter a situação apostando em ampla modernização da atividade manufatureira com a inserção do país na onda da Indústria 4.0 ou da "nova revolução industrial", como prefere chamar o escritor britânico Peter Marsh. Ele esteve no Brasil na semana passada para apresentar suas visões sobre os rumos do setor em eventos da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Em um dos encontros, realizado em São Paulo, Rafael Rodrigues Moreira, assessor especial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, anunciou o lançamento, para outubro deste ano, de um plano nacional voltado à Indústria 4.0.

Segundo ele, a iniciativa terá aspectos de política industrial, com ênfase em incentivos fiscais a empresas inovadoras e start-ups, além de estímulos governamentais para adoção e geração de tecnologias e formação mão de obra especializada. O principal objetivo, segundo Moreira, é massificar a produção industrial a partir de práticas mais modernas.

"Pretendemos ancorar o plano ou a estratégia em instrumentos que possam ser úteis ao próprio setor privado, como regimes fiscais, principalmente aqueles que serão e precisarão ser renovados [Inovar Auto]. Nesse processo, já há questões legais a serem observadas, o que vai permitir construir um ambiente favorável para que a iniciativa privada possa atuar em cima disso, adotando e criando novas tecnologias para aumentar sua produtividade", explicou Moreira.

No mesmo evento, Pedro Passos, copresidente do conselho de administração da Natura e integrante da MEI, disse que, para se recuperar, a primeira lição que a indústria brasileira deve fazer é se espelhar e seguir referências de seus competidores mais desenvolvidos.

"A indústria no mundo está numa nova fronteira e nós não fomos competentes [para acompanhar]", criticou Passos, citando dado de pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que aponta que a China tem cerca de 300 robôs para cada 10 mil trabalhadores industriais, enquanto no Brasil essa relação é de "pouco mais de uma dezena" de robôs nas fábricas para cada 10 mil trabalhadores.

Marsh, autor do livro "The New Industrial Revolution: Consumers, Globalization and the End of Mass Production", reconhece que a indústria brasileira passa por forte declínio, é afetada pelas crises econômica e política, mas avalia que o país tem uma cadeia industrial bastante variada e empresas inovadoras em diferentes setores. Nesse contexto, vê o país em posição favorável para "misturar" experiências e tecnologias para que o setor mergulhe na "nova revolução industrial".

"Na verdade, esse conceito - ou Indústria 4.0, não importa o termo - indica que o setor manufatureiro está diante de novas oportunidades. A chave para mergulhar nessa nova revolução é a habilidade de integrar grupos de tecnologia por meio de um processo de 'blending' para criar novos produtos e serviços", contou Marsh.

Essa mistura de processos inclui digitalização da produção e mudanças organizacionais. "Digitalização é implementar nas fábricas novas formas de comunicar e processamento de informação, impressão 3D e adoção de máquinas que aprendem [machine learning]. O resto está no campo das ideias, o que envolve pensar em nichos de mercado, participar de cadeias globais de produção e se cercar de profissionais capazes de combinar habilidades técnicas e pessoais", avalia o escritor.

"Empresas novas e modernas, as start-ups, são muito importantes para o futuro da indústria, mas não podemos nos esquecer dos velhos negócios", diz Marsh. "Costumo citar o exemplo da Lego, empresa dinamarquesa quase centenária, que passou por grave crise anos atrás, perdeu mercado, mas se reinventou. Baseada em novas ideias, a Lego mexeu em design e modernizou técnicas de produção e de sua própria organização. Tudo isso para continuar produzindo o mesmo e único produto, o tijolinho de plásticos para montar."