19/07/18 11h19

Indústria de alimentos vai ganhar polo em Diadema

Diário do Grande ABC

Responsável pela geração de pelo menos 10 mil empregos em Diadema, o setor de alimentação deve ganhar polo especializado. A iniciativa é do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) da cidade e pretende fomentar o segmento, que conta com 30 fabricantes e pelo menos 120 empresas em toda a cadeia. A expectativa é a de que o número de vagas aumente em 50% em um período de três anos.

O segmento é o terceiro mais representativo da indústria da cidade, ficando atrás somente de metalmecânica (que corresponde a 38%) e plástico e borracha (11,3%), e sendo responsável por 9,9% da produção.

A iniciativa pretende trazer união e modernização às empresas do ramo, além da criação de um APL (Arranjo Produtivo Local), que compreenderá ações conjuntas para que as empresas de alimentação consigam preços melhores, se qualifiquem e, consequentemente, aumentem sua competitividade. “A nossa expectativa é conseguir construir isso em parceria com a Prefeitura”, afirmou o gerente regional do Ciesp Dario Sanchez. O primeiro APL da região foi criado em 2006 pelo setor de cosméticos da cidade.

Segundo o coordenador do setor de alimentos do Ciesp Diadema, Omar Abu-Jamra Jr., a ideia é que a iniciativa fomente o setor por meio de seminários e treinamentos. O primeiro acontece no dia 15 de agosto e trata sobre limpeza na indústria de alimentos. “É importante melhorar a qualidade e a eficiência de acordo com a legislação em relação ao assunto. Além disso, vamos ter também em agosto (14 a 23) treinamento sobre rotulagem, trazendo novidades como o passo a passo da tabela nutricional e, principalmente, a questão de elementos alergênicos, que hoje precisam ser informados na embalagem”, disse.

Abu-Jamra Jr., que também é empresário do ramo alimentício há 19 anos, destacou que a cidade faz parte da rota do setor por estar bem localizada logisticamente, e que ainda há espaço para crescer, desde que haja modernização. Entre as grandes empresas estão a Wickbold, fabricante de pães – leia mais abaixo –, a Arabian Foods, que produz sorvetes e pães para a rede de fast-food Habib’s, e a Kobber Alimentos, que atua no segmento de produtos naturais, como barras de cereais e granola.

“Cabe a nós juntar as instituições para maior sinergia. Por exemplo, hoje temos demanda muito grande por rótulos mais limpos e produtos com melhor valor nutricional, favorecendo a saúde. Outro aspecto é quanto aos testes de novos alimentos.

Vamos poder trabalhar junto com o Senai para desenvolver produtos, já que eles podem ajudar na questão da análise laboratorial e dar o suporte necessário com laudo, garantias e qualidade por exemplo”, exemplificou.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Laércio Soares, confirmou que há interesse no desenvolvimento do APL. “Estamos convictos de que esta é a melhor forma de incentivar o setor”, disse, sem estimar data. A expectativa de Abu-Jamra Jr., porém, é que o arranjo comece a funcionar até o fim do ano. Empresas interessadas podem entrar em contato com o Ciesp.

Segmento começa a superar crise causada por operação a PF

A Operação Carne Fraca, iniciada em março de 2017 pela PF (Polícia Federal), que suspendeu exportações do produto em diversos locais do País, acabou atingindo em cheio o setor alimentício. Aos poucos, porém, a estabilidade começa a voltar ao segmento.

Segundo o coordenador do setor de alimentos do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Diadema, Omar Abu-Jamra Jr,, além da crise econômica dos últimos anos, as empresas tiveram queda nas vendas com a ação da PF. Isso porque o preço da carne de frango, que seria exportada, acabou ficando mais atrativo no mercado interno. “Isso respingou no Brasil inteiro. Foram atingidos todos os outros produtos industrializados, desde massas prontas a embutidos. As famílias preferem comprar este peito de frango que custa mais barato. Mas, depois da greve dos caminhoneiros, tem havido abertura para que se volte a consumir carne. A visão que o mundo tem hoje da indústria brasileira é muito positiva, com produtos de boa qualidade, nutritivos e diferenciados. Por isso é importante fazer uma sintonia em relação ao marketing”, destacou.

O empresário é diretor-presidente da empresa Nutri.com, localizada em Diadema desde 1999. A fábrica, que produz matéria-prima para a indústria alimentícia, fatura em torno de R$ 25 milhões anuais. Entre os produtos estão conservantes, antioxidantes proteínas e mix para produtos semiprontos, entre eles, estão os fornecidos para a Massa Leve, situada em Rio Grande da Serra, utilizados em pastéis e pizzas da marca. “Ampliamos nossa gama de produtos e, além do mercado interno, também exportamos para países da América Central, América Latina e Europa”, contou.

Wickbold deve participar de iniciativa

Uma das empresas cotadas a participar do polo, tanto por seu tamanho quanto por sua tradição, a fabricante de pães Wickbold completou 80 anos de existência e, desde 1986, está em Diadema.

Naquela época, já tinha fábrica automatizada em São Paulo, quando surgiu a necessidade de ampliar a capacidade produtiva. “O mercado crescia junto com as oportunidades de expansão territorial. A região prosperava e o local era estratégico, pois nos permitia atender com facilidade toda a Grande São Paulo e o Litoral. Hoje, possuímos outras três plantas, que se localizam em Hortolândia (Interior), Contagem (Minas Gerais) e Rio de Janeiro”, conta o gerente e herdeiro da marca, Pedro Wickbold.

Segundo ele, a empresa continuou na cidade porque o local se mantém estratégico para a distribuição. “A localização possibilita a contratação de bons profissionais tanto do Grande ABC quanto de São Paulo. Ficamos também por uma questão sentimental: Diadema virou a nossa casa, símbolo de tempos prósperos.”

Embora não revele o faturamento, Wickbold garante que a fábrica teve avanço considerável nas receitas no ano passado frente a 2016, quando tinham acabado de adquirir a marca Seven Boys. “Vivemos período focado na captura de sinergias e no alinhamento cultural entre as empresas. Em 2017, conseguimos absorver os aprendizados e fazer um ano bastante especial para a companhia.” Aliás, o gerente conta que a empresa acabou de contratar para nova linha de produção na fábrica, sem citar números.

Segundo Wickbold, a única maneira de continuar crescendo, diante da alta concorrência, é atender de forma rápida e cuidadosa as novas demandas do consumidor. “Estamos sempre atentos ao mercado internacional para entender quais oportunidades de ganho de escala e eficiência poderemos ter com as novidades tecnológicas que surgem no segmento alimentício”, diz.

A história da marca começou em 1938, quando Henrique e Gertrudes Wickbold, imigrantes alemães, assumiram padaria no Brooklin, em São Paulo. Vieram para o Brasil no período pré-guerra e se aventuraram na panificação após um amigo do casal, dono do estabelecimento, voltar ao país natal. “As entregas eram feitas em carroças e, os pães, assados no forno a lenha. Foi um começo difícil, que precisou de muita resiliência até dar certo e virar literalmente o ganha-pão da família.”