02/02/18 13h49

Indústria surpreende e torna o cenário para 2018 mais positivo

Valor Econômico

O crescimento mais acelerado da produção industrial no fim de 2017 deixa perspectivas favoráveis para o setor e para a atividade econômica como um todo neste ano. Em dezembro, a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, divulgada pelo IBGE, surpreendeu e mostrou crescimento de 2,8% na comparação com novembro, pela série com ajuste sazonal. Foi a maior alta desde junho de 2013 e superou em muito a média das estimativas de 24 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data, que era de 1,7%. No ano de 2017, a indústria cresceu 2,5%, após três anos de queda.

"O ano começa com uma tendência de recuperação mais vigorosa da indústria. É um ano que deve ser mais favorável em termos de recuperação do emprego, rendimento das famílias, normalização do mercado de crédito, e com a inflação em um patamar baixo e juros permanecendo nas mínimas históricas", diz Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Entre o terceiro e quarto trimestres de 2017, a produção industrial registrou crescimento de 1,9%. Foi o ritmo mais veloz do ano, acima dos três primeiros trimestres, quando a expansão foi de, respectivamente, 1,3%, 1,2% e 1,3%. Só essa alta do último trimestre de 2017 já deixa herança estatística de 2% para os três primeiros meses de 2018. Isso significa que, se entre janeiro e março o setor permanecer no mesmo nível de dezembro, a produção crescerá 2%. Os cálculos são de Marco Caruso, economista-chefe do Banco Pine.

Apesar dos números positivos e da expectativa de crescimento, os economistas adotam cautela ao analisar a recuperação do setor em prazos mais longos. "Ainda não há muito o que comemorar", diz Luis Afonso Lima, economista-chefe da Mapfre Investimentos. "O nível está super baixo, estamos saindo do fundo do poço".

Ele calcula que a produção industrial crescerá 3% em 2018. Mas no curto prazo fatores como a eleição, a capacidade ociosa ainda alta, o encolhimento do BNDES e o alto endividamento das empresas limitam a retomada. Em um prazo mais longo, segundo ele, a recuperação do setor pode ser "de fôlego curto" e "não sustentada", dados os atuais patamares das taxas de investimento e poupança.

A equipe econômica do Itaú Unibanco avalia, em relatório, que a recessão mudou a composição da indústria, dificultando o cálculo dessazonalizado no fim do ano. Por isso, o crescimento de 2,8% de dezembro em relação a novembro deve ser encarado com "cautela". Mesmo assim, o banco destaca que setores ligados ao investimento, como insumos típicos da construção civil, seguem em crescimento consistente com a recuperação gradual da atividade.

O desempenho da indústria no fim do ano passado pode também ter reflexos no PIB do quarto trimestre, a ser divulgado em 1º de março, de acordo com André Macedo, gerente da coordenação da indústria do IBGE. Para ele, diversos "tipos de comparação mostram uma aceleração da indústria no fim do ano". "Todos os sinais recentes da indústria têm reflexos positivos sobre o PIB", diz. Ele pondera, no entanto, que o PIB industrial não necessariamente será igual à produção do setor.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula crescimento de 1,2% do PIB industrial no quarto trimestre, resultado que, se confirmado, será o melhor para o período desde 2010 (1,4%). Mesmo assim, a instituição espera estabilidade do PIB do setor em 2017. Para 2018, a expectativa é de um crescimento robusto, de 3,7%.

"A incerteza que ainda permanece é a eleitoral, que pode trazer alguma volatilidade neste ano", diz Leonardo Mello de Carvalho, economista do Ipea.