21/02/18 11h37

Mercosul e Canadá lançam, no dia 9, negociações para ter livre comércio

Valor Econômico

Os sócios do Mercosul e o Canadá vão anunciar no dia 9 de março, em Assunção, a abertura de negociações para um acordo de livre comércio. E não querem perder tempo: menos de duas semanas depois, a partir do dia 19, autoridades dos dois lados já se reúnem em Ottawa para dar início às tratativas. A percepção é de que pode haver um entendimento amplo, rápido e equilibrado. 

Há poucos dias, o governo canadense avisou aos sul-americanos que todas as instâncias para a obtenção de um mandato negociador haviam sido finalmente percorridas. Do lado de cá, não existem mais pendências a resolver. Com isso, os dois lados se disseram prontos para sentar-se à mesa e começar o processo de barganha típico das negociações.

O lançamento ocorrerá em Assunção não apenas devido ao exercício da presidência rotativa do Mercosul pelo Paraguai, mas porque o ministro canadense de Comércio, François Philippe Champagne, estará em Santiago na véspera para a assinatura do "TPP-11" - a nova versão da Parceria Transpacífica sem um dos 12 membros originais, os Estados Unidos, que abandonaram o tratado na primeira semana de Donald Trump na Casa Branca.

Os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Marcos Jorge de Lima (Indústria, Comércio Exterior e Serviços), bem como seus colegas do Mercosul, devem ir também para o anúncio.

O governo brasileiro confia em uma evolução relativamente célere das negociações porque, ao contrário das tratativas com a União Europeia, não há grande incompatibilidade entre interesses "ofensivos" e "defensivos".

No jargão comercial, são chamados de interesses ofensivos aqueles produtos, ou setores, em que há pedidos de eliminação acelerada de tarifas para exportar mais. Interesses defensivos são o oposto: quando se luta para preservar alíquotas que protejam bens ou segmentos considerados sensíveis na concorrência com os importados.

Um dos grandes atrativos para o Mercosul, nas negociações com o Canadá, foi o aceno feito por Ottawa de que estaria disposto a liberalizar o mercado de compras públicas tanto em âmbito federal como nas províncias canadenses. Trata-se de um mercado de quase US$ 250 bilhões e no qual se aposta em possibilidade de maior participação das empresas brasileiras. Normalmente, os acordos internacionais só preveem abertura de licitações no nível federal. No caso canadense, 90% de todas as compras são de governos locais.

Em 2017, o comércio Brasil-Canadá atingiu US$ 4,48 bilhões, com crescimento de 6% sobre o ano anterior, mas ainda cerca de 50% abaixo do pico registrado em 2011. Os superávits têm se alternado bastante de lado a lado.

Em um extenso trabalho de pesquisa, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mapeou oportunidades de avanço dos produtores brasileiros no mercado canadense. Há potencial de ganhos para bens manufaturados como máquinas, produtos químicos, alimentos, metalúrgicos, automóveis e pneus. Carnes, milho, café, melão e fumo são áreas agrícolas que oferecem chances de aumento das vendas.

Como tem uma ampla variedade de acordos de livre comércio, à qual se soma um tratado anunciado no ano passado com a UE, o Canadá importa mais de 90% de suas mercadorias com tarifa zero. Pagando alíquotas, os produtos brasileiros tornam-se menos competitivos na comparação com outros fornecedores.

A mídia canadense tem apontado automóveis, serviços financeiros, produtos minerais e da indústria florestal (papel e celulose) como pontos de forte interesse na negociação com o Mercosul. Mas lembra que o país vem enfatizando a necessidade de incluir regras trabalhistas e ambientais em seus acordos, o que pode provocar alguma dificuldade nas conversas.

Um trunfo político que pode ser usado na negociação é o bom entendimento entre o primeiro-ministro Justin Trudeau e o presidente argentino Mauricio Macri. Além de jovens lideranças globais, que têm se dado bem, ambos terão certo protagonismo em 2018 - o Canadá comanda o G-7 e a Argentina lidera o G-20.