22/06/18 15h20

Para setor do varejo, 30% dos saques do PIS serão destinados ao consumo

Valor Econômico

A liberação de R$ 34,3 bilhões em recursos do PIS/Pasep deve se reverter em R$ 10,3 bilhões para consumo no varejo, segundo cálculos do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, feitos a pedido do Valor.

O volume é proporcionalmente maior (30% contra 25%) do que chegou ao comércio após os saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), no primeiro semestre do ano passado. A CNC diz que R$ 11 bilhões, de R$ 44 bilhões do FGTS, foram destinados ao consumo. Segundo Bentes, as vendas de veículos e de materiais de construção devem ter impulso. "Essa diferença se dá basicamente por conta do comprometimento de renda menor neste início de ano", diz Bentes.

Segundo o Banco Central, o comprometimento de renda das famílias, excluindo-se os financiamentos imobiliários, ficou em 17,8% em março deste ano, último dado disponível, contra 19% um ano antes. "Tudo indica que o indicador vai chegar a 17% no início do segundo semestre", diz.

Ainda de acordo com Bentes, a expectativa é que o dinheiro extra resulte em aumento de 1,8% nas vendas do varejo ampliado no bimestre agosto-setembro, com ajuste sazonal, ante os dois meses imediatamente anteriores. O economista destaca que as compras para o Dia dos Pais, data importante para o comércio, tendem a ser beneficiadas.

A CNC havia reduzido a expectativa para alta das vendas do varejo ampliado em 2018 de 5% para 4,7% depois da paralisação dos caminhoneiros. Mas o número voltou a 5%, incorporando avaliação menos pessimista sobre os efeitos da greve na economia.

Para Bentes, o efeito do PIS/Pasep é benéfico, mas é o cenário conjuntural mais favorável que vai determinar um resultado melhor do varejo. "Por um lado, a economia não está produzindo os resultados esperados. Mas a inflação e os juros continuam baixos, e o mercado de trabalho, embora um pouco decepcionante, está melhor do que no ano passado. O quadro de 2018 é mais favorável às condições de consumo do que em 2017", diz.

O economista da LCA Consultores, Paulo Robilloti, estava com viés de baixa para a projeção do varejo restrito em 2018, mas resolveu manter a expectativa, de alta de 3%. "Avalio que há potencial para o efeito ser maior que o do FGTS. Porém, como o valor médio do PIS é menor do que do FGTS, é bem provável que os setores mais beneficiados sejam supermercados e vestuário", diz.

De acordo com balanço do Ministério do Planejamento, o valor médio das cotas do público que ainda não sacou os recursos é de R$ 1.370. Em três dias, de segunda a quarta-feira, o volume resgatado foi de R$ 539 milhões.

A consultoria Tendências estima incremento de até 0,3 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, cálculo que inclui não só os R$ 34,3 bilhões, mas os R$ 5 bilhões já sacados desde o ano passado, quando o saque ainda não tinha sido estendido para os correntistas com menos de 60 anos. O número é mais tímido do que a projeção do governo, de impacto de 0,55 ponto percentual no PIB.

"A medida pode contribuir para alívio financeiro adicional às famílias e, em maior medida, em aumento pontual do consumo", destaca nota assinada por Alessandra Ribeiro e Thiago Xavier, economistas da Tendências. Apesar do efeito positivo da medida, a consultoria mantém a projeção de crescimento no ano em 1,7%.