29/11/17 12h22

Planalto pede ajuda a multinacionais para entrar na OCDE

Valor Econômico

Multinacionais americanas com forte presença no Brasil e entidades empresariais, como a AmCham, já foram procuradas pelo Palácio do Planalto com um pedido: ajudar, com seus lobbies em Washington, a candidatura brasileira à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além disso, o presidente Michel Temer foi aconselhado por auxiliares a telefonar ao colega Donald Trump cobrando apoio da Casa Branca.

Até agora, os Estados Unidos têm se mostrado o maior obstáculo ao início do processo de adesão do Brasil à OCDE, que foi solicitado formalmente no fim de maio, após anos de aproximação com a entidade sediada em Paris.

Não há nenhuma oposição específica dos americanos ao ingresso brasileiro. Trump alimenta certa indiferença pelos fóruns multilaterais. A Casa Branca já defendia uma ampliação mais cautelosa da OCDE e não quer que ela se torne uma espécie de Nações Unidas, com perda de voz e de influência dos sócios atuais.

Além do Brasil, outros cinco países estão em busca de ingresso: Argentina, Peru, Croácia, Romênia e Bulgária. Muitos europeus, como Reino Unido e Itália, têm manifestado entusiasmo com o pleito brasileiro. Na sexta-feira, o México também fez questão de demonstrar "apoio claro" e em "todas as instâncias" da organização para a entrada do Brasil, conforme declarou o chanceler Luis Videgaray no Itamaraty.

A burocracia em Washington, no entanto, resiste e usou uma reunião de conselho da OCDE na semana passada para expressar sua oposição ao inchaço da entidade. Trata-se de uma postura muito mais da área técnica do que de Trump. Os maiores focos de resistência estão no Departamento de Comércio e no USTR. Nos departamentos de Estado e do Tesouro, a objeção diminuiu.

Em um jantar em Washington, o presidente republicano se comprometeu com o argentino Mauricio Macri - a quem conhece desde os tempos de empresário - e isso se reflete em preferência dos escalões mais baixos do governo por Buenos Aires.

O cenário que tem ganhado força em Paris, segundo fontes brasileiras, é um processo de ampliação começando por dois países - um da América do Sul e outro do Leste Europeu. Na leitura de autoridades em Brasília, a Argentina assumiu a dianteira na corrida pela primeira vaga.

Tomando o cuidado de não atuar contra a pretensão do vizinho no Mercosul, o Planalto tem feito questão de enfatizar aos sócios da OCDE que acha justo um aval ao Brasil logo na primeira leva de autorizações para iniciar o processo de entrada na entidade.

Entre os países que não são membros, o Brasil é quem mais assinou instrumentos legais da organização e participa de seus comitês; também possui alto índice de compatibilidade com suas normas e resolveu aderir, em junho, a outros códigos da OCDE. Além disso, o governo argumenta que um sinal verde ao processo de adesão representaria importante impulso às reformas econômicas.

Vendo que os canais diplomáticos estão obstruídos pela própria vacância de postos-chave no Departamento de Estado desde a posse de Trump, uma das estratégias tem sido buscar o apoio empresarial. Um argumento usado nas conversas é que a entrada do Brasil na OCDE favoreceria, em última instância, as multinacionais no país, ao melhorar o ambiente de negócios, aumentar a segurança jurídica e dificultando a retirada do pedido de adesão qualquer que seja o resultado das eleições em 2018.

A indefinição sobre início de negociações com o Brasil para a entrada do país como membro é uma das razões do adiamento de visita do secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, ao país. Ele deveria vir a Brasília, no mês que vem, para lançar relatório da entidade sobre a economia brasileira. Como a questão persistente é a entrada do Brasil na entidade, a visita foi empurrada para fevereiro. Até lá, a expectativa é que a OCDE defina quais países começam a negociar primeiro a entrada. Oficialmente, Gurría mudou a programação para visitar Brasil e Chile na mesma semana.

Ontem, o diplomata Carlos Márcio Cozendey foi nomeado chefe da delegação brasileira junto às organizações econômicas sediadas em Paris. Na prática, será o principal representante do país na OCDE. Cozendey atualmente comanda a Subsecretaria-geral de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.