17/09/14 14h33

Produtividade dispara no porto de Santos

Valor Econômico

A produtividade dos terminais de contêineres no maior porto do país, o de Santos (SP), disparou no fim do ano passado e atualmente já figura entre as mais altas do mundo. Em 2014, os números de movimentação por hora - principal indicador de eficiência - são superiores aos de grande complexos portuários do mundo. Estão acima de Roterdã (na Holanda) e Hamburgo (na Alemanha) - e se aproximam de Xangai (na China).

O levantamento, obtido pelo Valor, foi feito pela companhia alemã de transporte marítimo Hamburg Süd - para quem a melhora é consequência sobretudo, mas não só, da abertura de dois megaterminais no litoral paulista.

O estudo leva em conta o desempenho na operação dos navios da classe "Cap San", com até 9,6 mil TEUs (unidade padrão de contêiner de 20 pés) e 335 metros de comprimento. São os maiores porta-contêineres a frequentar o porto de Santos, onde atracam no Tecon Santos, da Santos Brasil, e na Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport).

A melhora da performance ocorre após a inauguração de dois megaempreendimentos no ano passado: Embraport e Brasil Terminal Portuário (BTP). Juntos, eles ampliaram a oferta de espaço para contêineres no maior porto da América Latina, então saturada. E juntaram-se ao Tecon Santos, da Santos Brasil - ainda o maior terminal de uso público de contêineres do país - no clã de megaterminais brasileiros.

A Embraport tem como acionistas a Odebrecht (66,7%) e a DP World (33,3%). Inaugurado em julho do ano passado, o empreendimento terá investimentos totais de R$ 2,3 bilhões. A BTP, parceria das europeias Terminal Investment Limited (TIL) e APM Terminals, terá investimento total de R$ 2 bilhões. As operações comerciais começaram em agosto de 2013.

 Os investimentos foram responsáveis por dar fôlego às operações, adicionando capacidade quando o litoral paulista estava em seu limite. Diante do excesso de demanda e da limitação de infraestrutura, a produtividade em Santos havia caído em 2013 para cerca de 60 contêineres por hora - abaixo da média mundial de 80 por hora.

Enquanto os concorrentes não estreavam, o Tecon Santos chegou a operar com 110% de sua capacidade. "No ano passado, Santos entrou em colapso pelo atraso da abertura de BTP e Embraport, porque o volume que estava no pátio do terminal [da Santos Brasil] era tão grande que afetou a produtividade. Quando o pátio está muito cheio, não se consegue movimentar os contêineres do navio para a retroárea e vice-versa", diz Julian Thomas, diretor-superintendente da Aliança, subsidiária da Hamburg Süd no Brasil.

Em 2014, com os novos "players", o cenário mudou: a média de movimentos por hora cresceu para 104. O número não só fica acima da média global como também é superior ao dos portos mais modernos de países desenvolvidos. Roterdã e Hamburgo, por exemplo, movimentam neste ano uma média de 87 e 90 contêineres por hora, respectivamente.

"Estamos vendo a produtividade em Santos em níveis internacionais, e os novos terminais têm um impacto fundamental. Sem eles, não teríamos esses ganhos e continuaríamos em um cenário estressado de navios tendo que esperar para atracar e movimentar em um terminal cheio", diz Thomas.

Os novos terminais causam diferentes efeitos para a melhora da produtividade. O primeiro é que eles conseguem operar navios maiores, que trabalham com mais portêineres simultaneamente. O cais da BTP, por exemplo, tem 1.108 metros, o que permite operar três navios de grande porte ao mesmo tempo. Outro fator é o "desafogamento" de cargas de outros terminais, cuja operação não fica tumultuada nas retroáreas diante de superdemanda.

Fábio Siccherino, diretor de novos negócios da Embraport, diz que a produtividade era uma meta desde o começo. "Estabelecemos que a produtividade seria algo que chamaria atenção. O caminhão que entra no nosso terminal para entregar um contêiner, por exemplo, faz toda a operação em menos de 30 minutos". Na hora de abastecer o navio, a Embraport diz movimentar mais de 30 contêineres por hora (por guindaste).

No BTP, a média operacional de janeiro a setembro é de 30 movimentos por hora por guindaste. Além de um terminal grande, a empresa destaca também o posicionamento estratégico da instalação: é o terminal de contêineres de Santos mais próximo da rodovia no sentido São Paulo-Santos pelo Sistema Anchieta-Imigrantes. No quesito de qualificação profissional, sustenta a BTP, os operadores de guindaste treinam em um dos simuladores mais modernos do mundo adquirido pela empresa.

Enquanto isso, o Tecon Santos - que já existia - vem aumentando há anos os níveis médios de produtividade por navio. O indicador está previsto, inclusive, nos contratos com os armadores. Para o presidente da Santos Brasil, Antônio Carlos Sepúlveda, a melhora da performance no litoral deve-se principalmente ao aumento de espaço no porto - mais do que à ampliação da concorrência - e ao novo porte das embarcações. Quanto maior o navio, mais guindastes podem ser empregados. "A nossa missão é oferecer aos clientes a maior produtividade para que eles tenham uma vantagem competitiva. Temos a maior produtividade por guindaste, uma média de 35 movimentos por hora", afirma.

No início do mês, o Tecon Santos bateu o recorde histórico da América do Sul ao movimentar 1.694 contêineres em 8,74 horas, atingindo 193,92 movimentos por hora na operação de descarga do "Cap San Nicolas", da Hamburg Süd. Cinco guindastes estavam fazendo o desembarque das cargas.

Mas, para ele, recordes isolados na operação de um navio não comprovam grau de eficiência. Mais importante, diz, é a escalada da média da movimentação por hora, que vem crescendo acentuadamente desde 2011, com os investimentos em equipamentos de última geração, aprofundamento de cais e em softwares. Em julho, a média mensal de movimentos por hora chegou a 95 no terminal.

Thomas, da Hamburg Süd, ressalta que a demanda neste ano não está tão grande - o que também colabora com a produtividade. Em outro indicador, de atrasos para atracação e desatracação, houve melhora de 34% neste ano em Santos na comparação com um ano antes. Mesmo assim, pode cair mais com medidas a serem tomadas pelo setor público. As principais demandas são o aumento da profundidade no acesso ao porto (hoje grandes navios dependem da maré) e a melhora do acesso rodoviário a Santos.