21/08/17 13h57

Rio Preto é a terceira em uso de energia solar

Diário da Região

Rio Preto é a terceira cidade do Estado de São Paulo em número de instalações fotovoltaicas que geram energia elétrica a partir da luz solar. No Brasil, ocupa a 21ª colocação entre mais de 5,4 mil municípios onde essa tecnologia já chegou. São 91 unidades de sistemas fotovoltaicos instaladas – a maioria residencial -, com uma potência de 291 kW, o que significa cerca de 43 mil kW/h por mês.

O número é pequeno, daria para abastecer aproximadamente 215 casas com um consumo de 200 kW/h por mês, mas a tendência é de crescimento em níveis altíssimos, tanto pelo barateamento da tecnologia, quanto pelo benefício de reduzir o valor das contas de energia, algo interessante, especialmente quando a cobrança extra da bandeira vermelha vigora.

No Brasil, são 13,3 mil "usinas" geradoras aprovadas e registradas nas concessionárias, com uma potência acumulada de 106,1 mil kW. O Estado de São Paulo tem 2,7 mil instalações fotovoltaicas e 15,7 mil kW de potência, com liderança de Campinas, com 445 unidades e 1,8 mil kW. Em seguida, a capital, com 213 unidades geradoras e 1,6 mil kW de potência.

Os números ainda são tímidos porque a normatização que permite a conexão destes tipos de sistemas à da rede pública da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a resolução 482, é de 2012, mas foi aprimorada em 2015, com a resolução 687. "Até 2024, a Aneel espera aproximadamente 900 mil sistemas instalados no Brasil e essa é uma expectativa conservadora de quase 7.000% de crescimento. Nós, do mercado, acreditamos que possa chegar a 2 milhões", afirma Leandro Martins, diretor de logística e operações internacionais da empresa rio-pretense Ecori Energia Solar, no mercado desde 2014. Trazendo as mesmas projeções da Aneel para Rio Preto, serão mais de 3 milhões de kW/h gerados por mês, o que daria para abastecer 15 mil casas até 2024.

O que vai ajudar nesse crescimento, além de preços mais acessíveis e mais informação sobre o assunto, são as casas populares dos programas de habitação estaduais e federais, que já começarão a vir com os sistemas fotovoltaicos.

Como fazer

Qualquer consumidor pode colocar um sistema de energia fotovoltaica. Pode ser na casa, no condomínio, na empresa. Para isso, deve contratar uma empresa especializada para fazer o projeto que atenda suas necessidades do consumo. E, atualmente, já há algumas linhas de financiamento disponíveis em bancos públicos e privados, mas sempre é bom lembrar da importância de conferir as taxas de juros antes de fechar os contratos.

Segundo Martins, o preço de um sistema parte de R$ 2,5 mil e o interessante é que ele pode ser feito aos poucos, colocando novas placas fotovoltaicas, e ainda pode ser levado para outro imóvel. A possibilidade, dependendo do tipo de consumidor, é de que a conta de energia fique entre 70% e 99% mais barata.

"As placas captam a radiação do sol e geram energia em corrente contínua que precisa ser transformada em corrente alternada, para isso há um inversor de corrente. A partir daí, a energia está pronta para ser conectada no quadro elétrico de distribuição", explica. Esta flexibilidade se torna mais viável com a utilização de microinversores, tecnologia mais avançada e segura, afirma Martins.

O que não for consumido de energia é injetado na distribuidora, que calcula o que foi consumido e injetado por meio de um medidor bidirecional instalado pela concessionária, gerando crédito e débito no fim do mês. "Por exemplo, a pessoa vai viajar num mês e não consume nada de energia, só produz. Isso gera um crédito que o consumidor tem 60 meses para usar." E se o sistema gera mais energia do que é usada nessa unidade, ainda é possível transferir o excedente para outra unidade consumidora, desde que a conta de energia esteja no mesmo nome e na mesma concessionária de energia.

Economia

O empresário Samuel Tamarozzi, de Rio Preto, instalou o sistema de energia fotovoltaica na casa em que mora com os pais em janeiro do ano passado. "O primeiro atrativo é a questão financeira, sem contar que é possível também ganhar dinheiro com isso no futuro, e a questão da sustentabilidade, de fazer o bem para o meio ambiente", disse.

A família investiu R$ 17 mil em um sistema com oito placas fotovoltaicas. A conta, que ficava em média em R$ 350, hoje varia entre R$ 60 e R$ 70, depende do consumo. O planejamento com a empresa que instalou o sistema foi para uma redução de 70% na despesa. "Fizemos no telhado, aproveitando a infraestrutura. Podemos ainda aumentar e colocar outras quatro placas fotovoltaicas porque o resultado foi muito bom."

Projeto piloto em bairro

O sistema de energia fotovoltaica também está sendo implantando em bairros populares. Em Rio Preto, no bairro planejado Luz da Esperança, 40 casas já têm o sistema de energia fotovoltaica, um projeto pioneiro de instalação individual em empreendimentos do programa habitacional Minha Casa Minha Vida.

O programa começou há cerca de um ano e meio, explica Victor de Almeida, diretor financeiro do Grupo Pacaembu, responsável pelo empreendimento que tem 1.038 casas. "Na primeira etapa, trabalhamos apenas com a energia fotovoltaica, agora, estamos estudando alternativas combinadas com foco na redução de consumo de energia elétrica", disse.

O projeto é desenvolvido em parceria com a empresa Ambar, de tecnologias para habitação, e Ebes, de projetos de geração fotovoltaica. O projeto foi acompanhado pela Ernst & Young e pelo Instituto de Energia e Ambiente/Universidade de São Paulo, cujos estudos comprovam que é possível reduzir os custos anuais com energia em até R$ 840 por meio da geração própria. A segunda fase inclui a substituição das lâmpadas comuns por LED e a utilização de inteligência de monitoramento de consumo de energia, o que deve melhorar ainda mais o resultado de economia.

Segundo Almeida, o investimento foi de R$ 500 mil e o objetivo é levar para outros projetos da empresa, já que é necessário haver inovações continuamente, tanto para dar vantagens competitivas como para tornar o produto mais interessante. "Sem contar o aspecto financeiro, já que o morador vai pagar contas muito menores", afirmou.

Ele explica que, inicialmente, o custo do imóvel sobe, mas, ao longo do tempo, a redução na conta de energia compensa a parcela um pouco mais alta. "Estamos trabalhando para conseguir que o sistema faça parte do financiamento do imóvel, para incluir esse custo já na prestação da casa."

Economia

A diarista Maria Izis Vicente da Silva viu sua conta de energia cair de R$ 130 para R$ 30 depois de instalar o sistema de energia solar. Maria mora em uma casa de quatro cômodos, com o marido e o filho, no bairro Luz da Esperança, há três anos, mas só teve a instalação do sistema há pouco mais de um. Mesmo com seus aparelhos eletrodomésticos com o selo A de economia de energia, a conta ultrapassava os R$ 100 todos os meses. "A construtora está fazendo testes com as placas, por isso não tive custo com a instalação e agora renovaram o contrato por mais um ano. Ainda não sei se irei ficar com a placa permanentemente no futuro. " 

Empreendimentos virão com o sistema

Há três anos, a Hugo Engenharia adotou algumas premissas de trabalho para a execução dos projetos na área de construção civil. A padronização nas práticas tem como prioridade a geração de energia, o reúso da água e a redução de resíduos da produção. Segundo Hilton Hugo Fabri, diretor da empresa, os quatro últimos projetos da construtora na cidade já seguem essa normativa. São eles o JK Essencial, o Reserva dos Guyras, o Parque Dell 'Oro e o Aracês, que será lançado em setembro. "O sistema de energia fotovoltaica nasce com o projeto, para otimizar a incidência solar. Em edifícios, é muito viável gerar a energia na cobertura, substituindo telhas por placas fotovoltaicas."

Segundo Fabri, as pesquisas indicam que a tendência, no futuro, será a incorporação das placas de energia solar em outras áreas dos edifícios, nesse caso, adequando a arquitetura para comportar e gerar energia. "O objetivo do sistema fotovoltaico é gerar parte da energia consumida na área comum, como iluminação do hall, elevadores, motores, bombas hidráulicas, entre outros", disse.

O interessante, segundo ele, é que essa energia não precisa ser acumulada – o que encareceria o processo – dessa forma, ela volta para a concessionária de energia elétrica, que desconta os créditos. "Para o morador é muito interessante porque a conta de energia do condomínio é uma das mais caras. Ao baixar o custo, o rateio do condomínio será bem menor", afirmou. A expectativa é de uma redução de cerca de 60% do valor.

O Parque Dell 'Oro, condomínio residencial em construção no Jardim Fuscaldo, será entregue em fevereiro de 2019 já com todo o sistema de geração de energia solar. São três torres e 216 apartamentos com metragem entre 65 e 80 metros quadrados, dos quais 75% estão vendidos. A instalação do sistema acaba encarecendo o projeto, mas quando se divide entre o total de apartamentos, segundo Fabri, o impacto é pequeno. De R$ 2 mil a R$ 3 mil por unidade. "O cliente ganha porque vai ter um condomínio mais econômico, um maior valor de revenda do imóvel e também ganha o meio ambiente."

Segundo Fabri, a adoção dos sistemas de energia solar é uma tendência no Brasil – até porque aqui as condições climáticas são extremamente favoráveis -, já presente muito fortemente em países como Alemanha e Canadá. "Os sistemas estão ficando mais baratos porque a produção das placas está em escala, dessa forma, a tendência é de um crescimento geométrico."

Totalité fez segunda etapa

Em Rio Preto, as unidades residenciais são a maioria, assim como no Brasil, mas esse tipo de sistema de geração de energia já começa a chamar a atenção de empresas, sejam elas indústrias, condomínios de escritórios ou novos empreendimentos habitacionais. Hoje, das 91 unidades geradoras de energia solar da cidade, sete são comerciais, mas a tendência é de grande crescimento no segmento nos próximos anos.

No edifício de escritórios comerciais Totalité, que entrou em funcionamento em Rio Preto em 2013, a adoção do sistema de energia fotovoltaica foi tão positiva que uma segunda etapa já foi implementada. Entre o fim de 2015 e início de 2016, foram colocadas 32 placas na cobertura do edifício. Como houve uma redução considerável no custo da energia, em maio deste ano, mais 52 placas foram colocadas no espaço físico que ainda havia disponível. A conta de energia – comum a todos os condôminos do edifício– caiu de R$ 4,2 mil para R$ 2,2 mil por mês.

Segundo o gerente técnico operacional da empesa, Roberto de Oliveira, a decisão de seguir com o investimento no sistema foi justamente pelo resultado positivo obtido. O valor total para adequação e colocação do sistema ficou em torno de R$ 113 mil. "Esse é o caminho. Existe uma fonte solar de energia, fazemos a captação da natureza sem ter que tirar nada dela. Isso faz uma grande diferença para o meio ambiente", disse.

O Totalité tem nove andares e 208 salas comerciais ocupadas por médicos, advogados, dentistas, arquitetos, além de outros serviços e comércios. Cada locatário ou dono da sala paga sua própria conta de energia elétrica, mas a conta de energia comum a todos – a do condomínio – tem ficado mais barata pela adoção do sistema fotovoltaico.

A energia solar é responsável por fazer funcionar o elevador, bomba de recalque (capta a água da rua e manda para as caixas d'água do prédio), iluminação em geral, etc. A produção de energia atual ainda requer o complemento da energia elétrica que vem da concessionária CPFL Paulista. "A projeção para chegar aos 100% de produção, exceder e 'vender' para a concessionária é de cinco anos", afirmou.