08/11/17 14h51

‘Uber das entregas’, Loggi vai investir mais de R$ 20 milhões em expansão pelo Brasil

Startup brasileira quer chegar a dez cidades, triplicar equipe e ampliar presença em entregas de e-commerce e delivery de comida

PEGN

A startup brasileira de serviços de entrega Loggi, espécie de “Uber para motoboys” que já faz 50 mil entregas por dia no país, vai investir R$ 23 milhões em 2018 para acelerar sua expansão nacional.

Hoje presente em cinco capitais das regiões Sul e Sudeste com seu serviço principal, o de entrega de documentos, a empresa que une encomendas e motofretistas agora pretende chegar a Salvador, Recife, Campinas, Fortaleza e Brasília. O dinheiro também vai permitir a oferta de entregas para lojas online e a de delivery de comida para restaurantes em mais cidades.

Hoje, cada uma das três áreas responde por um terço das entregas feitas diariamente pela Loggi. A expectativa é que, no futuro, e-commerce e delivery passem a responder pela maior parte da receita da startup. “Com a digitalização das empresas, espero que a gente precise cada vez menos enviar documentos, ainda que isso seja ruim para o meu negócio”, diz o francês Fabien Mendez, fundador e presidente executivo da startup.

Segundo apurou o Estado, a Loggi deve encerrar o ano de 2017 faturando cerca de R$ 200 milhões. “Gastar 10% disso numa expansão nacional é algo bastante plausível”, avalia Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Segundo ele, a Loggi é hoje a principal startup do segmento no País, mas enfrenta concorrentes como Mandaê e Rapiddo – esta última, de propriedade do grupo Movile, que também cuida de marcas como iFood e Playkids.

Além disso, a empresa também é ameaçada por rivais como Uber e Cabify, que também abriram serviços específicos de entrega (UberEats, de comida, e Cabify Express, de documentos, respectivamente). Para Pinho, no entanto, este é um mercado que ainda tem espaço para crescer pelos próximos três anos antes de começar a se consolidar. “Esse setor ainda não chegou nem a 15% de seu potencial e deverá ter grandes empresas muito em breve. A Loggi pode ser uma delas”, diz.

 

Justiça

Para expandir o serviço pelo País, porém, a Loggi pode enfrentar algumas dificuldades. Ao lado do Uber, a empresa foi citada em um relatório do Ministério Público do Trabalho divulgado. Nele, os procuradores afirmam que a relação entre as empresas e seus prestadores de serviço (motoboys e motoristas) configura vínculo empregatício. Na prática, isso obrigaria a empresa a pagar os direitos trabalhistas a todos os 5 mil motoboys que usam a plataforma.

Segundo a Loggi, a empresa já foi alvo de duas investigações da Justiça do Trabalho de São Paulo sobre o tema – ambas foram arquivadas. “Não gostamos de ser comparados com a Uber porque fazemos tudo certinho: todos os nossos parceiros são regularizados e pagam impostos, mas não eles não têm um regime de dedicação exclusiva dos parceiros”, diz Mendez.

 

Mesmo dia

Hoje responsável por entregar encomendas das lojas virtuais de empresas como C&A e Netshoes em São Paulo, a Loggi pretende tornar padrão as entregas de mesmo dia e dia seguinte para sites de e-commerce brasileiros.

Para isso, diz Mendez, a ideia é combinar otimizar os recursos da startup com ajuda do transporte aéreo -- ainda não há previsão para o início da operação conjunta. “Vamos ter um motoboy esperando as encomendas assim que o avião chegar”, explica o francês, que negocia parcerias com empresas de transporte de carga.

Para o executivo da Loggi, será necessário mudar a cultura dos clientes para conseguir cumprir seu objetivo. “Nosso maior competidor é o diretor de logística de um e-commerce dizer que está satisfeito com entregas de quatro dias”, avalia Mendez, que reconhece que a crise econômica não o ajuda. “Hoje, a maior parte dos nossos parceiros de e-commerce está tentando sobreviver, e não encantar o cliente.”

Segundo a professora Priscilla de Souza Miguel, especialista em logística da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), entregas de mesmo dia e dia seguinte são uma tendência para o e-commerce, mas exigem muito planejamento. “É preciso superar os problemas de infraestrutura no Brasil e investir em capacitação de profissionais e planejamento para otimizar o tempo”, diz. “Não é impossível, mas propor isso para o Brasil é um desafio diferente do que fazer isso só em São Paulo.”

Perto de alcançar o lucro – Mendez estima que a marca acontecerá em “um ou dois meses”. A Loggi diz não ter planos para fazer novas rodadas de investimentos.

O último aporte que a empresa recebeu foi em agosto de 2015, em uma rodada de R$ 50 milhões liderada pelo fundo Monashees. “Preferimos nos esforçar em ter uma operação saudável e clientes recorrentes a buscar novas rodadas”, diz o francês, que critica o hábito do Vale do Silício. “O Uber, por exemplo, levantou bilhões, mas hoje tem uma avaliação de mercado que é fora da realidade.”

Além da expansão nacional, a Loggi também pretende triplicar sua equipe, hoje com 240 funcionários. Segundo Mendez, os principais esforços serão nas áreas de engenharia e inteligência artificial. Outro foco da empresa é o setor de atendimento ao cliente, que hoje ocupa 50 funcionários.

O mesmo projeto de expansão, porém, não é proporcional para o número de motoboys parceiros da empresa – a intenção da Loggi é manter a demanda de entregas e a quantidade de colaboradores equilibrada, evitando problemas que aconteceram com os aplicativos de carona paga, por exemplo. Segundo Mendez, um motoboy que trabalha de 7 a 8 horas por dia fatura R$ 4 mil por mês. “O ganho médio dos parceiros tem que crescer mês a mês, senão o negócio fica insustentável.”