04/12/17 14h16

Yaskawa entra em geração solar no Brasil

Valor Econômico

O Brasil tem um dos maiores potenciais no mundo para o desenvolvimento de energia solar, mas depende de um projeto setorial que fique acima das questões políticas e seja realista do ponto de vista econômico. A opinião do diretor geral da japonesa Yaskawa no Brasil, Luís Fernando Simione, dá uma boa ideia da postura do grupo japonês no seu novo nicho de atuação. A subsidiária brasileira esta na fase final de certificação de um inversor fotovoltaico destinado aos sistemas de geração solar e planeja entrar efetivamente no mercado ainda no primeiro semestre do próximo ano.

Uma das líderes mundiais em robótica e com forte atuação em automação, o centenário grupo japonês entrou em solar há dois anos, ao comprar a americana Selectria, fabricante de inversores fotovoltaicos. O valor do negócio não foi divulgado. Com o desenvolvimento e montagem no Brasil, a companhia pretende oferecer um produto que atenda às exigências de nacionalização e assim facilite o enquadramento dos projetos de seus clientes nas exigências do BNDES.

"Ao lado do México, o Brasil é um dos maiores países em potencial para desenvolver um parque solar", afirma Simione, responsável pelas áreas de automação e geração solar. O segmento de robótica tem uma operação separada no país. "Com o esgotamento das usinas hídricas, é preciso olhar as renováveis como uma opção viável para o futuro", completou. (veja reportagem País já está entre os maiores do mundo)

O executivo alerta, no entanto, que o desenvolvimento de um parque de geração de energia renovável, seja solar ou eólica, tem de respeitar critérios técnicos e econômicos. Não pode ser conduzido por políticas imediatistas, incentivos econômicos artificiais ou se centrar apenas no apelo ambiental.

"Primeiro tem de ter vontade política, com um cronograma de leilões bem definido. E precisamos de regras claras e uma política nacional de projetos. Não adianta vir com incentivos do tipo redução de impostos que duram algum tempo e depois são retirados. Isso cria um ambiente artificial", afirma Simione.

O inversor brasileiro está sendo certificado nos Estados Unidos e foi desenvolvido para atender o que se chama no jargão do setor elétrico de geração centralizada, que são os grandes projetos solares. Ele será montado na fábrica da Yaskawa no Brasil, instalada em Diadema (SP), e o planejamento prevê a possibilidade de exportações para outros países da região que investem em solar, como Colômbia, Peru e Argentina.

Como o produto só chega ao mercado em 2018, Simione considera que no primeiro ano a receita do segmento solar será marginal para a companhia no Brasil. Mas ele acredita que já em 2019 ou 2020 a geração solar será responsável por 50% do faturamento da sua área no país. A empresa não divulga o faturamento no Brasil. No mundo, o grupo faturou US$ 3,5 bilhões no último ano fiscal encerrado em fevereiro, com a Ásia respondendo por 67%, seguida das Américas (19%), Europa (13%) e Austrália e África do Sul com 1%. A Yaskawa deve fechar o ano com 500 megawatts (MW) vendidos em energia solar, sendo 80% nos Estados Unidos.

Apesar da falta de um cronograma de médio prazo para os leilões de renováveis, Simione está confiante nos certames marcados para este mês e acredita que a Yaskawa chega ao mercado em um bom momento. "Todos são entrantes nesse segmento", afirma. Entre seus maiores concorrentes estão companhias de peso como a WEG, ABB e Siemens. "Nosso produto será competitivo e financiável", afirmou.

A Yaskawa não escapou da crise no país, onde chegou nos anos 50 acompanhando a Nippon Steel que veio para ajudar a montar a Usiminas. A área de robótica conseguiu manter um bom desempenho nos últimos anos puxada pelo setor automotivo, tanto por parte das montadoras como das fabricantes de autopeças. Já o segmento de automação viu seus principais clientes reduzirem os investimentos. Siderurgia mineração, estaleiros, construção civil e máquina-ferramenta estão na lista.