26/12/18 14h11

Brasil ganha mercado em países das Américas

Valor Econômico

A exportação brasileira para parte importante dos países do continente americano cresceu em ritmo maior que a da China, de 2015 a 2017. Nesse período, os embarques nacionais avançaram 13,7% para países do Mercosul, Aladi e Nafta, enquanto a venda de bens chineses para esses mesmos blocos cresceu 4,5%. Os dados estão em levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O avanço brasileiro foi puxado por produtos manufaturados, como veículos e outros equipamentos de transporte, máquinas e equipamentos, produtos químicos e alimentos.

 O desempenho brasileiro representa melhora em relação ao período imediatamente anterior. De 2012 a 2015, a venda de produtos nacionais às mesmas regiões recuou 17,3% enquanto a dos chineses subiu 14,3%. As variações se referem aos embarques totais dos dois países às três regiões. Esses mercados, porém, são preponderantemente importadores de manufaturados — tanto do Brasil quanto da China, explica Rafael Cagnin, economista do Iedi.

 Além do avanço dos embarques totais, o desempenho da exportação de manufaturados brasileiros para os três blocos quando se leva em conta o dinamismo dos produtos nos mercados de destino também melhorou nos últimos três anos, destaca Cagnin.

 A fatia de produtos manufaturados classificados como “oportunidade aproveitada” subiu de 25% para 35% das exportações brasileiras aos três blocos, de 2012 para 2015. Em 2017, essa fatia avançou ainda mais, para 40%. Esses produtos, diz o economista, são os que apresentam demanda crescente nos destinos e que também representam parcela cada vez maior das exportações do Brasil ou da China. Ou seja, isso significa que o Brasil aproveitou melhor a oportunidade de vender bens cuja demanda está em ascensão nos mercados de destino.

 Os produtos classificados como “oportunidade aproveitada” pertencem aos setores de veículos automotores, metalurgia básica, outros equipamentos de transporte, máquinas e equipamentos, produtos químicos, alimentos e bebidas. No caso de veículos automotores, diz o estudo, embora sua participação tenha recuado entre 2012 e 2015, houve aumento significativo das exportações para os países dos três blocos entre 2012 e 2017. Outro destaque foi metalurgia básica, que tinha uma participação pequena em 2012 e passou a ser o segundo setor mais importante na categoria desses bens com demanda em ascensão.

 O levantamento do Iedi mostra que, apesar do avanço brasileiro em ritmo maior nos últimos anos, o montante exportado pelo país fica ainda muito abaixo do embarcado pelos chineses. Somente em 2017, a China vendeu US$ 544,6 bilhões para os países do Mercosul, Nafta e Aladi. No mesmo período, o Brasil exportou US$ 69,6 bilhões.

 Entre os três blocos, o mercado mais importante para o país asiático é o Nafta, que comprou no ano passado US$ 497,6 bilhões em produtos chineses. Na mesma comparação, o bloco, que reúne Estados Unidos, Canadá e México, é também o mais importante para o Brasil, que exportou no ano passado US$ 34,4 bilhões para os três países. Para o Mercosul, o Brasil embarcou US$ 22,6 bilhões.

 Mesmo assim o resultado geral das exportações brasileiras às três regiões entre 2015 e 2017 é positivo, avalia Cagnin. Nesse período, diz ele, o Brasil parou o processo de perda de participação que ficou muito claro logo após a crise financeira e econômica global de 2008, devido à estratégia chinesa de aumentar sua presença em países emergentes para compensar a perda de dinamismo das economias centrais. Esse movimento já havia sido atenuado de 2012 a 2015. Os dados de 2017, diz Cagnin, mostram não só um aumento da exportação para os três blocos maior que o da China como também uma reversão positiva do desempenho em mercados mais dinâmicos, representados por produtos com demanda em ascensão.

 Uma boa notícia também, ressalta Cagnin, diz respeito ao bens classificados como “oportunidade perdida”, como é chamado o grupo de produtos que, apesar de ter demanda crescente nos países de destino, perdem participação na exportação do Brasil ou da China. A parcela de oportunidades perdidas pelo Brasil caiu gradativamente nos últimos anos, segundo o estudo do Iedi, de 25% para 21% do total embarcado em manufaturados pelo Brasil aos três blocos, de 2012 para 2015. Em 2017, a participação desse grupo foi reduzida para 15%.

 A parcela dos produtos que representam “oportunidade aproveitada” nas exportações chinesas aos três blocos, porém, ainda é maior que a do Brasil. Essa fatia, mostra o Iedi, saiu de 45%, em 2012, avançou para 56%, em 2015, e depois recuou para 53%, no ano passado.

 Outra ressalva importante, segundo Cagnin, diz respeito aos manufaturados classificados como “produtos em retrocesso”. Esse é o grupo de bens que apresentam demanda cadente nos países de destino e queda de participação na exportação do Brasil ou da China.

 Nas exportações brasileiras aos três blocos, ressalta o economista do Iedi, essa parcela de produtos em retrocesso aumentou de 17%, em 2012, para 26%, em 2015, avançando ainda mais em 2017, para 29%. Assim, o Brasil conseguiu aproveitar mais oportunidades no embarque a mercados mais dinâmicos, mas uma parte das exportações ainda é representada por produtos com demanda em queda, o que ainda mostra a necessidade de um ajuste estratégico na pauta de exportação brasileira, avalia Cagnin. “São produtos cujos mercados serão cada vez mais reduzidos ao longo do tempo, com demanda residual. Mercados dos quais os players mais ágeis já pularam fora”, diz ele. Nas exportações chinesas, destaca o economista, a participação dos produtos em retrocesso vendidos aos três blocos subiu de 12% para 21%, de 2012 para 2015 — mas desapareceu no ano passado.

 O estudo do Iedi também calculou a ameaça chinesa às vendas nacionais aos três blocos — em 2015, 37,4% das exportações brasileiras que sofriam ameaça direta da China foram destinadas ao Mercosul. Além de a ameaça direta não ter sido observada em 2017, a ameaça indireta recuou nesse ano frente a 2015 e 2012.

 A ameaça direta acontece quando a China aumenta participação de mercado de determinado produto em um país ou bloco ao mesmo tempo em que o Brasil reduz sua fatia no mesmo destino e em relação a igual produto. Já a ameaça indireta é detectada quando tanto a participação dos chineses e dos brasileiros aumenta para o mesmo produto e o mesmo mercado, mas a do país asiático cresce em ritmo mais acelerado. Em 2017, 69% das exportações brasileiras aos três blocos submetidas à ameaça direta da China foram destinadas ao Nafta. Os outros 31% foram rumo a países da Aladi.

 É importante lembrar que o avanço da exportação do Brasil aos três blocos nos últimos anos, ressalta Cagnin, se deu por fatores que podem não ter continuidade. O desempenho positivo, diz, certamente está associado ao encolhimento do mercado doméstico, à permanência da taxa de câmbio em níveis mais favoráveis à exportação, bem como à vigência parcial do Reintegra, benefício que devolve ao exportador parte dos tributos pagos no processo de produtos do bem vendido ao exterior. O maior dinamismo da economia e do comércio mundial também foram fatores essenciais.

 O que se viu no decorrer de 2018 e o que há em perspectiva para 2019 mostra quadro diferente, diz Cagnin. O que se espera para os primeiros meses do ano que vem, avalia, é a manutenção de crescimento ainda muito lento da economia, na expectativa sobre as medidas de política econômica do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. O benefício do Reintegra, lembra o economista, foi zerado e o câmbio se manterá sujeito a oscilações por fatores internos ou externo. O agravamento da crise argentina no decorrer de 2018 também deve continuar afetando os embarques para o Mercosul.

 Além disso, prossegue o clima de tensão no mercado internacional, por causa do conflito comercial entre China e Estados Unidos. O saldo líquido disso para as exportações brasileiras deve ser positivo, diz Cagnin. Além do efeito negativo da tensão em todo o comércio internacional, uma retaliação pelos americanos aos produtos chineses, afirma ele, pode elevar pontualmente as exportações de manufaturados aos Estados Unidos, mas certamente aumentará a ameaça chinesa às exportações brasileiras aos demais países.