05/01/17 12h04

DiDi Chuxing, da China, investe no aplicativo de táxis 99

Valor Econômico

No que pode ser considerado o maior investimento em uma startup brasileira até hoje, o aplicativo 99 (antigo 99 Taxis) recebeu um aporte de cerca de US$ 100 milhões de investidores, apurou o Valor. A rodada, que contou com a participação dos fundos Tiger Global, Monashees e Qualcomm Ventures, que já tinham investido na companhia, foi liderada pela chinesa DiDi Chuxing, maior aplicativo de transporte da China, com 400 milhões de usuários e 17 milhões de motoristas cadastrados. A companhia assumirá um assento no conselho da 99.

O investimento no Brasil é o mais recente de uma série de aportes feitas por empresas de internet chinesas no Brasil.

Valendo US$ 35 bilhões, e com investidores como a Apple, a DiDi iniciou uma estratégia de expansão global no meio do ano passado, depois de "vencer" a disputa com o Uber pelo mercado chinês. O Uber tentou manter-se independente no país, mas acabou vendendo suas operações chinesas à DiDi.

O aporte dos chineses no Brasil ocorre depois de meses de especulação sobre uma fusão entre os dois aplicativos brasileiros de maior relevância no setor, a 99 e a Easy (antiga Easy Taxi). A união era considerada a saída mais interessante para as duas empresas diante do acirramento da competição, mas o negócio esbarrava na necessidade de um investimento pesado para rechear o caixa da nova operação.

As duas companhias lideravam com tranquilidade o setor de aplicativos de transporte no Brasil até a chegada do Uber, em 2014. Com US$ 18 bilhões captados em várias rodadas de investimento, o aplicativo americano colocou pressão sobre os concorrentes locais, que perderam espaço. A estimativa é que ele tenha capturado 80% do mercado de corridas por aplicativos. A fatia pode ter diminuído um pouco depois que promoções como o desconto de 30% para corridas de taxi foram lançadas, mas a hegemonia permanece.

Segundo Paulo Veras, co-fundador e presidente do conselho da 99, com a nova rodada de investimento será possível competir de forma mais igual com o Uber. "Para competir você precisa de capital e ferramenta. E agora temos os dois. Não tenho dúvidas que dá pra mudar o jogo", disse. De acordo com ele, a maior parte do dinheiro captado será investida ainda em 2017. Nas prioridades estão melhorias internas para ganho de eficiência, melhorias no atendimento aos clientes e no funcionamento do aplicativo. O número de funcionários deve dobrar até o fim do ano, chegando a 400 pessoas.

Com operação apenas no Brasil, a 99 tem uma receita bruta entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões. No fim de 2016, a companhia chegou a atingir o equilíbrio entre receitas e despesas (break even). Mas esse balanço não vai mais se manter. "Provamos que é possível fazer. Mas agora vamos investir para crescer em ritmo chinês", disse.

De acordo com Veras, a 99 vinha buscando dinheiro novo desde o começo de 2016. A rodada anterior recebida pela companhia havia sido em abril de 2015, quando a Tiger Global entrou no negócio, com um investimento de US$ 25 milhões. "Falamos com todo mundo desde fundos até investidores estratégicos e concorrentes", disse.

Segundo o executivo, a ideia agora é consolidar a presença no Brasil e, depois, expandir a operação para a América Latina. O avanço pode acontecer de forma orgânica, ou por meio de aquisições. De acordo com Veras, não está descartada uma oferta de compra da Easy, que já tem presença na região. O Valor apurou que a Easy está em conversas com o aplicativo espanhol Cabify. Procurada, a Easy afirmou que sempre mantém conversas com "players" de mercado.