10/05/17 14h45

Empresa brasileira inova com aditivo que confere proteção eletroestática permanente

O novo aditivo é capaz de impedir o acúmulo de eletricidade estática em embalagens, pisos, calçados, carpetes, tecidos, esteiras industriais e até em tintas

Pequenas Empresas & Grandes Negócios

Empresa de base tecnológica incubada na Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), a IQX – Inove Qualyx desenvolveu, com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), um aditivo com proteção eletroestática.

O novo aditivo é capaz de impedir o acúmulo de eletricidade estática em embalagens, pisos, calçados, carpetes, tecidos, esteiras industriais e até em tintas. Com isto, é possível aumentar a segurança das instalações industriais, além de reduzir as perdas de produtos sensíveis às descargas ocasionais dessa energia.

A inovação deve beneficiar diversos setores industriais, além de agregar valor para fabricantes de equipamentos e insumos industriais.

A eletricidade estática é responsável por um bom número de incêndios e explosões em plantas industriais, além de resultar em grandes perdas causadas pela destruição cotidiana de componentes eletrônicos sensíveis às descargas dessa força invisível.

Além da queima instantânea de circuitos eletrônicos, as descargas eletroestáticas produzem avarias parciais que comprometem a vida útil desses componentes, provocando a troca ou devolução de produtos já vendidos. Para se ter uma dimensão do problema, basta pensar que uma pessoa pode acumular 12 mil volts no corpo ao caminhar sobre um carpete, quando apenas 10 volts são suficientes para danificar um microchip.

Desenvolvida a partir de glicerina bruta e polímeros condutores, o aditivo, batizado de Eco-resina Condutiva IQX permite modular o nível de condutividade (antiestática, dissipativa ou condutiva) do produto final de acordo com a aplicação desejada. Possibilita até a blindagem eletromagnética, eliminando interferências e bloqueando sinais de celular.

Por estar disponível em diferentes formas (pasta, pó, grânulos ou líquido), o aditivo pode ser facilmente incorporado ao processamento de vários materiais. Com o apoio do PIPE, a empresa desenvolveu vários masterbatches condutivos, ou seja, compostos que trazem o aditivo já combinado com o polímero no qual ele será usado (polietileno, polipropileno, policloreto de vinila etc.).

Essa versatilidade faz com que o aditivo represente novas oportunidades para uma série de setores industriais agregarem valor aos seus produtos. “Uma embalagem que vale centavos pode passar a valer alguns reais com um aditivo que lhe confere propriedades dissipativas”, garante a química Silmara das Neves, sócia-fundadora da IQX.

A IQX Inove foi criada em 2011, por Neves e pela também química Carla Fonseca, com o apoio do PIPE, para desenvolver aditivos condutivos utilizando glicerina bruta e polímeros condutores como matérias-primas. A empresa comprovou a viabilidade da proposta (fase 1 do PIPE) e desenvolveu toda uma linha, já patenteada, de aditivos e masterbatches condutivos (fase 2 do PIPE, ainda em vigência).

Em 2017, teve proposta aprovada em chamada conjunta da FAPESP e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para o desenvolvimento comercial do produto, que prevê sua inserção no mercado global, no âmbito do Programa PIPE/PAPPE.

A empresa já tem clientes do porte do Grupo Amazonas, por exemplo – que atua no setor calçadista, de adesivos, regeneração de borrachas e construção. Segundo Neves, graças à parceria com a IQX, o grupo lançou uma nova linha de produtos destinados à proteção eletroestática, incluindo o primeiro piso dissipativo em borracha já fabricado no Brasil.

Outra parceria da IQX possibilitou o desenvolvimento de tintas para a blindagem eletromagnética, que podem ser usadas para revestir as caixas onde o circuito eletrônico vai impresso ou para pintar ambientes que precisam estar livres da interferência de celulares.

No total, diz Neves, a IQX consolidou cerca de 20 parcerias nos segmentos de borracha, tintas e embalagens que estão permitindo a customização de seus produtos para diferentes aplicações industriais.

A estratégia de desenvolvimento colaborativo possibilitou que o aditivo já tenha sido testado e escalonado para produção industrial de borrachas, termoplásticos, tintas e têxteis. As borrachas são usadas na fabricação de solados de equipamentos de proteção individual (EPI), pisos industriais e correias de transporte de grãos e minérios. Os plásticos, por sua vez, são empregados na produção de utensílios de proteção eletroestática e em embalagens antiestáticas de todo tipo, desde bombonas rígidas até os sacos plásticos transparentes.

As tintas aditivadas com o IQX permitem obter revestimentos antiestáticos, dissipativos ou condutivos para pisos, superfícies plásticas e de papelão, além de blindagem eletromagnética ou maior resistência à corrosão. Na área têxtil, o aditivo permite a fabricação de carpetes, tapetes e tecidos para dissipação de cargas eletroestáticas, evitando que atraiam poeira e outros contaminantes. Outros usos possíveis seriam em bocais de tanques de combustíveis e em chapas termoformadas para a confecção de chips eletrônicos.

Os principais beneficiários potenciais da inovação são as indústrias eletroeletrônica, automotiva, química, petroquímica, de mineração, têxtil, calçadista e farmacêutica, entre muitas outras.

Um diferencial do novo aditivo condutivo da IQX é que ele não desaparece do produto em que foi incorporado.

Sustentabilidade no DNA

Todos os desenvolvimentos da IQX estão focados na sustentabilidade, destaca Neves. Os aditivos condutivos, por exemplo, usam como uma de suas principais matérias-primas a glicerina bruta, que é um resíduo da fabricação de biodiesel.

Outro aditivo criado pela empresa, o IQX Regenera, permite o reaproveitamento da borracha vulcanizada oriunda de rebarbas, refugos industriais e pneus usados. O aditivo bloqueia as ligações de enxofre da vulcanização, possibilitando que esse material possa ser novamente processado e utilizado como substituto parcial da borracha virgem.

“O IQX Regenera permite o aproveitamento total dos refugos, que podem ser reprocessados sem sair da fábrica, com grande economia de matéria-prima e com ganhos ambientais”, destaca Carla Fonseca.

Por ser um produto destinado a um mercado amplo e muito carente de soluções para minimizar as perdas da produção, as sócias acreditam que o IQX Regenera deverá ser o principal vetor de crescimento da empresa nos próximos anos.

Aliás, desenvolver estratégias para a inserção dos produtos da IQX no mercado nacional e internacional é o principal foco da Fase III do PIPE, que teve início em março. A certificação dos produtos e a participação da empresa em feiras e eventos internacionais são as primeiras ações previstas.