20/12/18 11h46

Eólica deverá ser segunda maior fonte de energia do país em 2019

Valor Econômico

Após alcançar uma "Itaipu" em capacidade no Brasil, com 14,3 mil megawatts (MW) instalados em 2018, a energia eólica deve assumir, no início do próximo ano, o posto de segunda maior fonte do parque gerador elétrico brasileiro - ultrapassando a biomassa (14,7 mil MW) e ficando atrás apenas das hidrelétricas (97,1 mil MW). De acordo com estimativas da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a fonte deve alcançar 15 mil MW em março de 2019.

 "A fonte eólica representará mais ou menos em torno de 10% da matriz elétrica brasileira em 2019 e vai se consolidar como a segunda maior fonte do parque gerador do país", afirma a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum.

 Segundo as projeções da associação, o parque eólico brasileiro, considerando projetos já contratados nos mercados cativo (por meio de leilões) e livre, alcançará 18,8 mil MW em 2024. Mais otimista, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que a fonte eólica alcançará 20,672 mil MW, em 2024, e 26,672 mil MW, em 2027, de acordo com o Plano Decenal de Energia (PDE) 2027. O expressivo crescimento previsto deve-se à competitividade da fonte no país e conta também com novos projetos.

 Depois da crise enfrentada por fabricantes de aerogeradores, em 2015 e 2016, devido à escassez de encomendas que resultou na saída de algumas empresas do setor, o segmento está em franco processo de recuperação. Segundo Elbia, há dois fatores para isso: a retomada de encomendas para a cadeia de fornecedores - fruto dos leilões de energia - e a expansão do setor no mercado livre, por meio de contratos de longo prazo que viabilizam a construção de novos parques. Contribuiu para esse segundo fator o modelo de financiamento específico para o mercado livre, lançado neste ano pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

 "Minha percepção é que devemos ter no próximo ano 60% dos negócios de eólica [encomendas] no mercado livre e 40% no regulado. Será mais mercado livre que regulado", conta o presidente no Brasil da fabricante dinamarquesa de turbinas eólicas Vestas, Rogério Zampronha.

 "A Vestas continua enxergando o Brasil de forma estratégica. Isso está escrito no plano estratégico da companhia divulgado aos investidores", completa Zampronha. Segundo ele, nessa linha, a companhia está investindo na ampliação da capacidade produtiva de sua fábrica no Ceará para fornecer a turbina de última geração do grupo, com primeiras entregas no país previstas para o fim de 2019.

 Com visão semelhante, a GE tem expectativa de que a tendência de novas contratações seja mantida, com um mix entre mercados regulado e livre. "O mercado livre precisava florescer como alternativa ao regulado. O regulado agora traz a base e fazemos um híbrido entre regulado e livre, dobrando a capacidade instalada. Vemos com bons olhos essa dinâmica de mercado eólico", explica a diretora de Estratégias de Mercado da GE Renewable para a América Latina, Rosana Santos.

 Segundo a executiva, em 2018, o mercado de energia eólica brasileiro retomou os níveis de contratação de antes de 2015, com algo entre 1,3 mil e 1,4 mil MW contratados em leilões regulados. Considerando o mercado livre, a contratação no setor eólico pode chegar a 2,5 mil MW no ano.

 Também de olho no aquecimento do mercado, a Nordex Energy, nascida da fusão da alemã Nordex com a espanhola Acciona Windpower, anunciou a reabertura de sua fábrica de torres de concreto no Rio Grande do Norte. Segundo a companhia, a decisão foi tomada estrategicamente para atender à demanda do parque eólico de Fortim, da Brasil Ventos, no Ceará, para o qual a Nordex Energy fornecerá 41 aerogeradores.

 Pelo lado dos investidores, a Echoenergia, braço de geração renovável da gestora britânica Actis, estima que o mercado de energia eólica deverá contratar cerca de 3 mil MW em 2019, sendo 1 mil MW em projetos de longo prazo no mercado livre e 2 mil MW em leilões de energia no mercado regulado. "Veremos um movimento melhor que o dos últimos anos em termos de contratação de energia", afirma Edgard Corrochano, presidente da Echoenergia.

 A gestora canadense Brookfield também vê "oportunidades muito grandes" no setor de geração de energia renovável no Brasil, conta Carlos Gro, vice-presidente sênior de fusões e aquisições da Brookfield Renewable Group no país. O Brasil, contudo, segue competindo com outros países pelos investimentos da Brookfield, o que faz com que o país precise oferecer condições adequadas, segundo o executivo.

 Pelo lado dos financiadores, Humberto Leite, gerente de Ambiente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), afirma que o setor eólico ocupa lugar de destaque entre os negócios da instituição. "Em 2018 foi assim e 2019 deve continuar na mesma linha, sendo que projetos do mercado livre terão grande relevância. Mas a avaliação sempre é feita caso a caso, para que a estrutura final dê conforto não só para o investidor, mas também para o banco financiador", completou.