Eólica deverá ser segunda maior fonte de energia do país em 2019
Valor EconômicoApós alcançar uma "Itaipu" em capacidade no Brasil, com 14,3 mil megawatts (MW) instalados em 2018, a energia eólica deve assumir, no início do próximo ano, o posto de segunda maior fonte do parque gerador elétrico brasileiro - ultrapassando a biomassa (14,7 mil MW) e ficando atrás apenas das hidrelétricas (97,1 mil MW). De acordo com estimativas da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a fonte deve alcançar 15 mil MW em março de 2019.
"A fonte eólica representará mais ou menos em torno de 10% da matriz elétrica brasileira em 2019 e vai se consolidar como a segunda maior fonte do parque gerador do país", afirma a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum.
Segundo as projeções da associação, o parque eólico brasileiro, considerando projetos já contratados nos mercados cativo (por meio de leilões) e livre, alcançará 18,8 mil MW em 2024. Mais otimista, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que a fonte eólica alcançará 20,672 mil MW, em 2024, e 26,672 mil MW, em 2027, de acordo com o Plano Decenal de Energia (PDE) 2027. O expressivo crescimento previsto deve-se à competitividade da fonte no país e conta também com novos projetos.
Depois da crise enfrentada por fabricantes de aerogeradores, em 2015 e 2016, devido à escassez de encomendas que resultou na saída de algumas empresas do setor, o segmento está em franco processo de recuperação. Segundo Elbia, há dois fatores para isso: a retomada de encomendas para a cadeia de fornecedores - fruto dos leilões de energia - e a expansão do setor no mercado livre, por meio de contratos de longo prazo que viabilizam a construção de novos parques. Contribuiu para esse segundo fator o modelo de financiamento específico para o mercado livre, lançado neste ano pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"Minha percepção é que devemos ter no próximo ano 60% dos negócios de eólica [encomendas] no mercado livre e 40% no regulado. Será mais mercado livre que regulado", conta o presidente no Brasil da fabricante dinamarquesa de turbinas eólicas Vestas, Rogério Zampronha.
"A Vestas continua enxergando o Brasil de forma estratégica. Isso está escrito no plano estratégico da companhia divulgado aos investidores", completa Zampronha. Segundo ele, nessa linha, a companhia está investindo na ampliação da capacidade produtiva de sua fábrica no Ceará para fornecer a turbina de última geração do grupo, com primeiras entregas no país previstas para o fim de 2019.
Com visão semelhante, a GE tem expectativa de que a tendência de novas contratações seja mantida, com um mix entre mercados regulado e livre. "O mercado livre precisava florescer como alternativa ao regulado. O regulado agora traz a base e fazemos um híbrido entre regulado e livre, dobrando a capacidade instalada. Vemos com bons olhos essa dinâmica de mercado eólico", explica a diretora de Estratégias de Mercado da GE Renewable para a América Latina, Rosana Santos.
Segundo a executiva, em 2018, o mercado de energia eólica brasileiro retomou os níveis de contratação de antes de 2015, com algo entre 1,3 mil e 1,4 mil MW contratados em leilões regulados. Considerando o mercado livre, a contratação no setor eólico pode chegar a 2,5 mil MW no ano.
Também de olho no aquecimento do mercado, a Nordex Energy, nascida da fusão da alemã Nordex com a espanhola Acciona Windpower, anunciou a reabertura de sua fábrica de torres de concreto no Rio Grande do Norte. Segundo a companhia, a decisão foi tomada estrategicamente para atender à demanda do parque eólico de Fortim, da Brasil Ventos, no Ceará, para o qual a Nordex Energy fornecerá 41 aerogeradores.
Pelo lado dos investidores, a Echoenergia, braço de geração renovável da gestora britânica Actis, estima que o mercado de energia eólica deverá contratar cerca de 3 mil MW em 2019, sendo 1 mil MW em projetos de longo prazo no mercado livre e 2 mil MW em leilões de energia no mercado regulado. "Veremos um movimento melhor que o dos últimos anos em termos de contratação de energia", afirma Edgard Corrochano, presidente da Echoenergia.
A gestora canadense Brookfield também vê "oportunidades muito grandes" no setor de geração de energia renovável no Brasil, conta Carlos Gro, vice-presidente sênior de fusões e aquisições da Brookfield Renewable Group no país. O Brasil, contudo, segue competindo com outros países pelos investimentos da Brookfield, o que faz com que o país precise oferecer condições adequadas, segundo o executivo.
Pelo lado dos financiadores, Humberto Leite, gerente de Ambiente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), afirma que o setor eólico ocupa lugar de destaque entre os negócios da instituição. "Em 2018 foi assim e 2019 deve continuar na mesma linha, sendo que projetos do mercado livre terão grande relevância. Mas a avaliação sempre é feita caso a caso, para que a estrutura final dê conforto não só para o investidor, mas também para o banco financiador", completou.