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Exportador muda mix e direciona produção ao mercado interno

Valor Econômico - 24/09/2007

As fabricantes de bens de consumo reduziram as exportações e priorizaram o mercado interno, incentivadas pelo aquecimento da demanda doméstica, principalmente a mais popular. Para atingir os clientes das classes C, D e até E, as empresas diversificaram a distribuição e adaptaram os produtos, reduzindo custos e preços. Com essa estratégia, as companhias recuperaram o patamar de produção que haviam perdido após a valorização do real. O movimento contribui para explicar a forte alta de 7,2% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2006. Esse percentual é superior ao aumento de 5,4% do PIB do país, na mesma comparação. A fabricante de calçados Democrata conseguiu que um de seus modelos chegasse às vitrines das lojas abaixo de R$ 100 - um apelo importante para o varejo. No fim de 2006, a Democrata chegou a exportar metade de sua produção. Com o fortalecimento da moeda brasileira, o volume de vendas no exterior caiu e a exportação deve fechar o ano representando 30% das vendas. O mercado popular se tornou interessante para as empresas brasileiras depois que os consumidores incrementaram seu poder de compra com a ajuda dos reajustes do salário mínimo, do crédito farto e dos programas assistenciais do governo. Para atender a esse segmento, a Docol aumentou em 30% o portfólio de sua linha Pertutti, que significa "para todos" em italiano. Nessa linha, os produtos são, em média, 50% mais baratos que os itens com a marca Docol. A empresa fabrica torneiras, chuveiros e outros metais sanitários. O resultado de uma combinação de medidas foi o aumento de 17% nas vendas da linha Pertutti de janeiro a agosto deste ano em comparação com o mesmo período de 2006. Um desempenho superior às vendas totais da Docol, que cresceram 10% na mesma comparação. A Lupo, fabricante de meias e roupas íntimas, não precisou baratear produtos para ampliar seu público. O ganho de renda nas classes de menor poder aquisitivo permitiu que os consumidores passassem a comprar itens mais incrementados, mesmo que com preços um pouco maiores do que as peças que estavam acostumados a consumir. A prova de que a empresa está vendendo itens mais sofisticados está no balanço. Enquanto o volume de produção aumentou em 9% de janeiro a agosto, na comparação com igual período do ano passado, o faturamento mostrou uma alta de 19%. No setor de construção civil, um dos mais aquecidos da economia nacional, as incorporadoras canalizam seus lançamentos para as classes C e D, com financiamentos e prazos de pagamento longos. O mercado externo perdeu importância para a Eliane. No auge do "boom" exportador do país, em 2003 e 2004, as vendas para o exterior chegaram a representar 40% do faturamento da empresa. Hoje estão em 30%. A Movelar, fabricante de móveis localizada em Linhares, Espírito Santo, também se beneficia do boom imobiliário e foi outra empresa que conseguiu amenizar as perdas no mercado externo com vendas para um público de classe C no Brasil. A Movelar trabalha com móveis de diversas faixas de preço, mas são os produtos voltados para classe C e D os que impulsionam as vendas neste ano.