12/09/14 14h32

Galderma investirá R$ 200 milhões no Brasil em 2015

Valor Econômico

O plano é ter no Brasil e na China, em cinco anos, centros de pesquisa e desenvolvimento na área de procedimento estético, para tratamentos como os que usam toxina botulínica, produto que ganhou popularidade com a marca Botox, da Allergan. Na Galderma, a marca desta toxina é a Dysport.

Antunes, brasileiro, é o CEO da Galderma há 10 anos. Economista, ele partiu do Brasil em 1981 para estudar em Nebraska (EUA), com bolsa de estudos da Sandoz. Um ano depois foi para Basileia, passou pela Itália, voltou para Brasil, e foi para Argentina e Suíça de novo. Está na Galderma desde 1997.

Antunes disse que o Brasil é um dos maiores mercados do mundo em consumo de produtos para saúde da pele, o que justifica a ampliação da capacidade de produção e de pesquisa no país. "No Brasil, a maior parte de nossos produtos, diferenciados e muitos importados, atende as classes A e B. Mas tem também a classe C, enorme no Brasil, que queremos alcançar. Temos aspirações muito grandes em relação a este mercado. O dinheiro no Brasil mudou de mão, como me dizem os dermatologistas brasileiros''.

A Galderma foi criada no Texas (EUA) em 1961 e desde 1981 era uma joint venture da Nestlé com a L'Oréal. Em fevereiro deste ano, a Nestlé comprou os 50% da companhia francesa na Galderma, assumiu 100% desta, por estimados € 2,7 bilhões.

Em seguida a essa operação ''altamente estratégica'', o grupo suíço anunciou a criação da Nestlé Skin Health (NSH), com a ambição de se tornar o líder global de saúde da pele. A NSH, com seu próprio "board" e gestão executiva, começou com a combinação da Galderma e da Buebchen, uma subsidiária alemã da Nestlé ativa em cosméticos e produtos para bebês, crianças e mulheres grávidas.

No ano passado, as vendas da Galderma alcançaram € 1,653 bilhão e o lucro foi de € 234 milhões (margem de 14,1%). Tem 5 mil funcionários e opera em 80 países. É organizada em três áreas de negócios: produtos que exigem prescrição médica (47%, em comparação a 80% dez anos atrás); produtos que não necessitam de receita (33%) e tratamentos estéticos e corretivos, o que inclui seu próprio "botox" (20%). A ideia é que cada unidade tenha o mesmo peso nos negócios dentro de alguns anos.

Analistas não têm dúvidas de que a empresa pode crescer 8% ao ano, o dobro do mercado mundial do setor, nos próximos cinco anos. O mercado de dermatologia pura é estimado em US$ 36 bilhões, dos quais Galderma tem fatia de 5%. Mas o mercado mais amplo de saúde da pele é estimado em US$ 120 bilhões e a empresa quer abocanhar 10%, com mais de US$ 10 bilhões, em menos de dez anos.

Antunes diz que a companhia vai se concentrar 100% na saúde da pele, sem misturar com cosméticos tradicionais. "Beleza puramente dita é outra coisa. Nosso enfoque é a saúde da pele'', afirmou. "Temos uma abordagem muito séria sobre a saúde. Temos mais de 600 cientistas trabalhando só nisso o tempo todo, o ano inteiro''. Um paciente com câncer de pele, por exemplo, pode precisar de produto para prevenir riscos de muito sol e também de medicamentos para lesões da pele. Em cada etapa do tratamento ou da doença, a Galderma quer oferecer todos esses produtos.

"Estamos desenvolvendo nossa estratégia inteira em torno da prevenção'', diz o executivo. "Vai ser um mundo muito melhor se assegurarmos que as pessoas envelheçam de forma saudável, porque podem ficar ativas mais tempo, com maior interação social, maior mobilidade, e melhor autoestima. E se a pessoa ficar doente, vamos tratá-la também''.

Especialistas identificam mais de 3 mil doenças da pele. Cada pessoa é afetada pelo menos uma vez por uma delas em sua vida. Cerca de 6% da população mundial têm psoríase, que causa vermelhidão e irritação, outros 5% têm rosácea, 60% a 80% dos adolescentes têm acne e a cada ano 3,5 milhões de novos casos de câncer de pele são diagnosticados no mundo.

Esse mercado é imenso, impulsionado pelos países emergentes; pela demografia (o número de pessoas com mais de 60 anos deve chegar a 1 bilhão em 2020, com demanda três ou quatro vezes maior por produtos dermatológicos); pela urbanização e a crescente conscientização a respeito de saúde e bem-estar; além de gastos maiores na área de saúde nos Estados Unidos, o maior mercado do mundo.

A Galderma tem 34 filiais no mundo, e a brasileira é a segunda mais importante, depois dos EUA. O maior uso per capita de produtos médicos dermatológicas da empresa é a Austrália, onde o seguro-saúde paga, por exemplo, os protetores solares.

Antunes não esconde o entusiasmo em relação ao Brasil, terceiro mercado mundial, só atrás dos EUA e do Japão. Segundo a consultoria Euromonitor, o mercado dermatológico brasileiro cresceu 9%, para US$ 660 milhões em 2012. A Galderma não detalha seu faturamento, mas estima-se que abocanhou parte importante do mercado brasileiro.

Segundo Antunes, a nova fábrica de Hortolândia será grande o suficiente para atender o Cone Sul, o que representa um consumo muito grande. "Transportar água através do Atlântico é caro'', diz. Com uma fábrica maior no Brasil, ele ambiciona reduzir o impacto de emissão do gás carbono, reduzir custos de transportes, substituir importações e tornar os produtos mais competitivos.

"No Brasil, cada vez mais as pessoas têm o seu dermatologista preferido'', diz. "Os dermatologistas brasileiros estão anos luz à frente dos outros países no que se trata de procedimentos corretivos e estéticos'', acrescenta. ''Primeiro, pela mente aberta do consumidor brasileiro. Segundo, são médicos muito bem formados, não estão amarrados no passado. Se tem uma categoria brasileira liderando no mundo, são os dermatologistas, que seguem tendências, vão a cursos, gostam de novidades.''

Premiado recentemente com o "Lifetime in Dermatology Achievement'', por uma publicação americana especializada, Antunes conta que se inspira nos dermatologistas brasileiros. "Se temos hoje o Restylane, é porque uma dermatologista brasileira me especificou que tipo de preenchedor deveríamos ter, porque nem todos são iguais. E o mesmo ocorreu com o conselho de uma dermatologista sobre o Dysport, que deveríamos fazer a licença desse produto que já existia para esclerose múltipla. Compramos a licença e o desenvolvemos o produto para a medicina estética.''

Antunes quer fazer mais pesquisa no Brasil e gostaria de ter a ajuda do governo. "Não é dinheiro não'', diz. "É suficiente se me autorizam ensaios clínicos de forma mais rápida. Nos EUA, eu consigo autorização um ano antes que no Brasil. E tempo é dinheiro. Se o Brasil se tornasse mais eficiente, faríamos lá muito mais pesquisa''.