22/09/14 14h44

Leilões devem estimular cadeia de fornecedores

Valor Econômico

A cidade de Campinas (SP) passou a sediar em 2013 aquela que é considerada a primeira fábrica de geradores fotovoltaicos em escalada industrial no país. A responsável pelo investimento na planta, com capacidade instalada de 25 MW pico/ano, é a DYA Energia Solar, marca criada no ano passado pelo Grupo Tecnometal, fabricante de bens de capital para o setor de mineração e energias renováveis. Até o momento, a produção dos módulos fotovoltaicos atende pequenos projetos residenciais e comerciais - como um projeto no Parque Villa Lobos, em São Paulo, e na sede da Embrapa, em Brasília. Os grandes contratos de fornecimento de sistemas para a geração de energia de fonte solar, entretanto, já começam a aparecer.

"O leilão, caso venha a acontecer e tenha sucesso em volumes contratados, será uma quebra de paradigma. Ainda existem algumas incógnitas, sobretudo na definição do preço-teto, mas já temos alguns memorandos de entendimento com investidores que vão a leilão", resume o presidente do Tecnometal, Marcelus Araújo.

O executivo se refere ao leilão de energia de reserva programado para outubro, cujo sucesso já é considerado uma condicionante para a entrada da energia de fonte solar na matriz - e um estímulo ao desenvolvimento de uma cadeia local de fornecedores. No total, mais de 400 projetos foram cadastrados, que respondem por 10.790 GW. Será a primeira vez que os projetos de energia solar não competirão com outras fontes.

A DYA importou dos EUA equipamentos para a produção dos módulos geradores fotovoltaicos - placas que convertem a luz solar em energia elétrica - e o time de engenheiros conta com profissionais que haviam atuado na Heliodinâmica, primeira fabricante de sistemas fotovoltaicos nacional, que já encerrou as atividades. "Nossa expectativa é que, dependendo da demanda, tenhamos uma fábrica funcionando com capacidade de até 50 MW. Nosso esforço foi o de desenvolver uma indústria capacitada para atender volumes de pedidos no momento em que houver demanda."

Num ano em que a produção nacional de máquinas e equipamentos vai de mal a pior, com queda de 8,3% no primeiro semestre, segundo o IBGE, o exemplo da DYA mostra como fabricantes de maquinário para o setor de energia têm motivos para comemorar. Enquanto a indústria da energia solar ainda engatinha, os fornecedores do setor eólico já se beneficiam do crescimento da demanda pelas usinas. De acordo com o presidente do Conselho de Energia Eólica da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Roberto Veiga, as encomendas de aerogeradores crescem na esteira da demanda gerada pelos leilões de 2013, que somaram 4,7 GW em energia contratada, o equivalente a cerca de 2.400 aerogeradores a serem entregues até 2018.

Some-se a isso a demanda gerada pelo leilão de junho de 2014 (551 MW contratados), além da expectativa com o leilão de energia de reserva de outubro e o A-5, reprogramado para novembro, quando mais 2 GW de energia eólica poderão ser contratados. "Todas essas contratações preveem a fabricação de aproximadamente 3.600 aerogeradores até o final de 2018, uma carga que se bem distribuída na cadeia produtiva pode movimentar R$ 22 bilhões aos fabricantes de aerogeradores", diz.

Quem já sente o aquecimento nas encomendas do setor de energia é a catarinense Weg. Em 2013, a empresa assinou um acordo tecnológico com a Northern Power Systems para a fabricação de aerogeradores de 2,1 MW de potência em seu parque de Jaraguá do Sul (SC). A primeira encomenda, de 11 aerogeradores, foi entregue em setembro para montagem em um parque eólico em Ibiapina (CE).

Também é prevista a entrega de outras 100 máquinas até o fim de 2015, incluindo 46 aerogeradores que serão instalados em cinco parques geradores em Aracati (CE). Conforme João Paulo Gualberto da Silva, diretor do Departamento de Energia Eólica da Weg, a empresa tem capacidade de entregar 100 aerogeradores de 2,1 MW por ano, com capacidade para chegar a 140 com pouco investimento. "Está em nosso planejamento

estratégico de longo prazo aumentar essa capacidade, mas ainda é um planejamento", afirma.

A fabricante de pás para aerogeradores Tecsis, por sua vez, aposta em dois movimentos simultâneos para atender a demanda. O primeiro é a reestruturação do seu parque fabril no interior paulista - atualmente são 11 plantas em Sorocaba e Itu. A estratégia prevê enxugar seis dessas unidades visando simplificar a gestão operacional e transformá-las, até o final de 2015, em apenas uma, que será construída na região de Sorocaba e atenderá o Sul do país e o mercado externo. Ao mesmo tempo, já está em andamento a construção da nova unidade em Camaçari (BA).

Segundo o presidente do conselho de administração, Pércio de Souza, a planta terá capacidade de 1.600 pás/ano. Com isso, o total da Tecsis no Brasil deve passar das 5,4 mil atuais para 8 mil pás, em 2016.