19/09/14 12h36

Matemática e inovação: uma dupla capaz de impulsionar os negócios

Em um cenário de competitividade acirrada, as ciências matemáticas podem ser a solução para empresas que precisam otimizar processos e estruturas, melhorar produtos, incorporar novas tecnologias, reduzir consumo de matérias-primas e ampliar resultados

ICMC São Carlos - USP

Se sua empresa tem um problema e você acredita que, usando a matemática, seja possível solucioná-lo, está na hora de buscar a ajuda dos especialistas do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP. Esse foi o principal recado transmitido pelo diretor do Centro, José Alberto Cuminato, durante a palestra “Inovação e matemática”, destinada a empresários de Sorocaba e região, que aconteceu na última terça-feira, 16 de setembro.  

Resultado de uma parceira entre a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK) e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), a palestra foi realizada na sede regional do Ciesp em Sorocaba. Cerca de 60 empresários compareceram ao evento, ávidos por compreender melhor como a matemática, aliada à inovação, tem o potencial de impulsionar seus negócios.

  “As ciências matemáticas podem ser muito importantes para o desenvolvimento econômico de um país, principalmente quando a competitividade é acirrada”, disse Cuminato. Entre os diversos exemplos apresentados pelo especialista para mostrar as aplicações dessa ciência na indústria, está a invenção dos celulares, que não existiriam se não fosse a matemática. Sem ela, não haveria também a maioria dos processos de imagem atualmente empregados na medicina como a ressonância magnética. Já na área de logística, é a matemática que está por trás dos algoritmos presentes nos softwares que gerenciam a distribuição de produtos, otimizando as atividades de forma confiável e ágil.  

“A matemática pode contribuir para a melhoria de processos que não são competitivos porque estão ultrapassados ou usam uma tecnologia que já não é a mais adequada”, adicionou Cuminato. O diretor do CEPID-CeMEAI explicou que o centro foi criado há dois anos e inspira-se em instituições similares presentes no exterior, sendo o primeiro na área de ciências matemáticas a ser financiado pela FAPESP.

Sediado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, o centro conta com a participação de pesquisadores da USP, UNICAMP, UNESP, ITA e da UFSCar. Segundo Cuminato, uma das metas do CEPID-CeMEAI é diminuir a dificuldade de interação entre a academia e o setor produtivo, um entrave muito comum em todo o mundo. Enquanto na academia os resultados de uma pesquisa científica costumam ser alcançados apenas no longo prazo, nas empresas, o tempo urge. Por outro lado, na academia, a maioria dos recursos destinados à pesquisa são públicos; enquanto nas empresas, a escassez de recursos é maior.

 “Essa é a primeira vez que tenho a chance de falar para uma plateia de empresários. Em São Carlos, não teremos as soluções para todos os problemas do setor produtivo brasileiro, mas podemos colocar as empresas em contato com pesquisadores de universidades do Brasil e do exterior, contribuindo para reduzir a distância que separa nossos mundos”, defendeu o pesquisador.  

Projetos em andamento – Um dos projetos desenvolvidos no CEPID-CeMEAI resultou na criação de um software para o planejamento de fundição em indústrias de pequeno porte. Entre os desafios existentes, devido à diversidade de ligas e peças, está a decisão de quais ligas fundir nos fornos disponíveis e quais peças devem ser vazadas a partir das ligas fundidas.  

De acordo com Cuminato, nesse caso, a empresa envolvida no projeto não aplicou qualquer recurso na pesquisa. Apenas apresentou aos pesquisadores do CEPID-CeMEAI as informações referentes ao processo industrial a fim de que eles pudessem compreender o problema e modelar um software sob medida. “Como a empresa não quis se tornar parceira da USP e obter os direitos de propriedade do software, o produto está disponível para fornecemos a outros clientes”, explicou o diretor.  

Há diversos outros projetos sendo realizados para diferentes setores da economia: da medicina à indústria petroquímica. “Temos 16 projetos em andamento nos quais estamos empregando métodos estatísticos”, revelou o pesquisador do CEPID-CeMEAI Francisco Louzada Neto em sua apresentação. Entre os exemplos trazidos está o desenvolvimento de novas metodologias para análise de dados oncológicos, um sistema de controle estatístico para gestão da qualidade e um software para detecção de jovens talentos no esporte. Ambas inovações em fase de prospecção de empresas parceiras.  

Pesquisa aplicada na Alemanha – O evento em Sorocaba contou ainda com a participação do pesquisador sueco Stefan Jakobsson, que apresentou exemplos de pesquisas realizadas pelo Instituto Fraunhofer, uma das maiores organizações para pesquisa aplicada na Europa e que inspirou a criação do CEPID-CeMEAI, do qual é parceira.  

Jakobsson mostrou uma simulação realizada pelo Instituto para montadoras de veículos que buscam aprimorar o processo de pintura em carros. Segundo ele, cada vez que um novo modelo entra na linha de produção, o trabalho realizado pelos robôs na pintura precisa ser reorganizado. “Por meio de estudos de eletrodinâmica, do rastreamento das gotículas de tinta e do fluxo de ar, criamos o projeto de uma fábrica de pintura virtual, assim, conseguimos simular como os sprays de tinta devem ser direcionados para que a tarefa seja efetuada com mais rapidez e qualidade”, afirmou o sueco.  

Entre os diversos outros projetos mostrados está o aprimoramento do design de estruturas flexíveis empregadas na indústria automotiva e a simulação de como essas estruturas funcionam ao serem acopladas às demais peças do veículo. “Espero que a apresentação tenha sido o começo de uma colaboração entre o Instituto Fraunhofer e as empresas de vocês”, finalizou.  

Desafios do Inovar-auto – Durante o evento, também foi discutido o desafio de promover a inovação na cadeia automotiva brasileira. Há dois anos em vigência, o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-auto), proposto pelo governo federal, concede benefícios fiscais para as empresas que estimularem e investirem na inovação e em pesquisa e desenvolvimento dentro do Brasil.  

Para o supervisor de processos produtivo da ZF, Michel Haddad, o Inovar-auto já impactou o mercado ao diminuir a importação de veículos leves, porém, esse efeito não tem sido observado no setor de autopeças. De acordo com Haddad, por se tratar de uma cadeia longa e complexa – que vai muito além das montadoras, pois envolve grandes empresas de autopeças, além de empresas menores e fornecedores de matérias-primas –, a grande dificuldade é aumentar a competitividade das empresas nacionais. “Isso se reflete no aumento da importação de autopeças”, explicou.  

Haddad afirmou também que, do total de investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento pela indústria automotiva em 2012, o maior percentual (60,5%) é proveniente do setor de autopeças, sendo as montadoras responsáveis apenas por 31,4% desses investimentos. “A indústria automotiva é um dos pilares da economia do nosso país, por isso é preciso estar atento a esse cenário”, completou Haddad.  

Talvez o emprego da matemática seja uma das saídas para resolver esse e tantos outros problemas do Brasil. “A esperança do nosso país é a inovação e a tecnologia. Que possamos trazer como resultado dessa palestra pelo menos um case de sucesso”, concluiu o diretor do Ciesp Sorocaba, Antonio Beldi.