16/05/18 11h33

Mercedes investe R$ 90 milhões em nova pista de provas no interior de SP

Com 12 quilômetros de extensão, o local será usado para testar caminhões da marca; montadora espera que a aprovação da nova política do setor possa impulsionar a segunda fase do projeto

DCI

A Mercedes-Benz anunciou nesta terça-feira (15) um investimento de R$ 90 milhões na construção de uma pista de provas para caminhões em Iracemápolis (SP). Porém, para garantir o sucesso da fase 2 do projeto, que deve envolver um campo para testes de alta velocidade, a montadora aguarda avanço da política industrial do setor, o Rota 2030.

Segundo o presidente da Mercedes do Brasil, Philipp Schiemer, a fase 2 da nova pista de testes já está em planejamento e não necessariamente precisa do Rota 2030 para sair do papel, mas assim como o Inovar-Auto foi essencial para a conclusão da fase 1, o Rota 2030 “ajudaria bastante agora”, diz.

O aporte da Mercedes na pista de testes de Iracemápolis não está incluso no programa de investimentos de R$ 2,4 bilhões no Brasil para o período de 2018 a 2022, que a montadora anunciou no final do ano passado.

A pista inaugurada ontem possui 12 quilômetros de extensão, em um terreno de 1,3 milhão de metros quadrados. De acordo com Schiemer, os R$ 90 milhões investidos irão se pagar em breve e, por enquanto, não há necessidade de alugar a pista para uso de outras empresas. No entanto, ele não descarta que essa opção seja adotada no futuro. “Essa possibilidade existe, mas temos que tomar cuidado, por conta dos segredos industriais presentes aqui.”

Ao lado da fábrica de automóveis da Mercedes, a nova pista não tem qualquer relação com a planta, segundo executivos, tendo sido criada com o intuito de servir para testes especificamente de caminhões.

“Analisamos diversas áreas, mas escolhemos aqui por ter fácil acesso. Apesar das operações da planta e da pista serem independentes, há algum aproveitamento, como de restaurante comum para os funcionários, por exemplo”, conta Philipp Schiemer.

Na sua avaliação, fazer a pista era necessário porque as exigências de qualidade para os caminhões são cada vez maiores e não pareceu uma boa estratégia para a montadora continuar alugando as pistas de outras empresas. “Iremos diminuir a nossa despesa corrente e isso nos trará maior equilíbrio.”

Há ainda a possibilidade de se testar produtos globais na pista de Iracemápolis, já que espelha as condições do campo de testes da Daimler em Wörth, na Alemanha.

A pista de testes de durabilidade, por exemplo, conta com mais de 840 placas de concreto pré-moldado que não se repetem e são idênticas às colocadas na pista da Alemanha e de Madras, nos EUA, ressalta o vice-presidente de desenvolvimento de caminhões e agregados da Mercedes-Benz do Brasil, Christof Weber.

Para desenvolver a pista, a Mercedes colocou um caminhão com 2.160 sensores para rodar por 16 mil quilômetros e captar todas as condições das estradas do Brasil.

“Com a severidade das rodovias brasileiras, tudo o que acontece aqui pode ser replicado para os demais países do mundo”, acrescentou Weber.

 

Mercado brasileiro

Neste ano, Schiemer espera que a Mercedes tenha um crescimento de 20% a 30% das vendas do mercado, mas o executivo se mostrou preocupado com a situação do câmbio no Brasil e na Argentina. “A volatilidade do dólar gera imprevisibilidade, o que represa os investimentos.”

No caso argentino, o executivo lembra que 15% do que é produzido pela empresa no Brasil é destinado às exportações ao país vizinho. “Tivemos mais de 8 mil produtos embarcados para a Argentina. Esse é um problema para o qual não temos uma solução imediata e já vamos sentir os impactos negativos este mês”, aponta.

Com relação à possibilidade do Rota 2030 só oferecer crédito em Imposto de Renda para quem investir em pesquisa & desenvolvimento, com base na Lei do Bem, Schiemer entende que a medida não é algo atrativo para o setor, visto que hoje são poucas as empresas que apuram lucro.

“O incentivo fiscal sofreria uma distorção de realidade. Muitos criticam a possibilidade de dar incentivos mais expressivos, mas esquecem do quanto a indústria automotiva paga de imposto no Brasil”, lamenta o executivo.