07/02/20 12h00

Paraíso das pérolas se torna um dos símbolos da riqueza mundial

Com uma economia forte e diversificada, Emirados Árabes hoje se consolidam como uma nação de grandes oportunidades e altos índices de desenvolvimento social

InvestSP

Para compreender as razões pelas quais os Emirados Árabes Unidos (EAU) alcançaram o atual status econômico é preciso olhar para muito além da atividade petrolífera. A comunidade humana mais antiga daquele bloco de países é do período neolítico, 5.500 a.C. Nesse período, já se podia comprovar a interação daquele povo com o mundo exterior, especialmente as civilizações ao norte. Os contatos persistiram e se ampliaram graças ao cobre nas montanhas Hajar, lá pelos anos 3.000 a.C. O desenvolvimento se ampliaria em épocas posteriores de uma região considerada econômica e geograficamente bem estratégica, viabilizada sobretudo pela domesticação de camelos no fim do segundo milênio a.C.

No século I, iniciou-se o tráfego terrestre entre Síria e cidades ao sul do Iraque. Depois, surgiram as viagens marítimas ao porto de Omana (atualmente, Umm al Qaywayn), que se estenderam à Índia – uma opção dos romanos à rota do mar Vermelho. Já exploravam as pérolas durante milênios. O comércio alcançaria novas fronteiras. Tudo impulsionado pelos trajetos oceânicos, além das feiras em Doba, que atraíam mercadores de lugares distantes, entre eles, os chineses.

No ano de 630, os enviados de Maomé pregavam a conversão da fé para o islamismo. Depois da morte do profeta, houve, em Doba, uma das mais intensas batalhas das Guerras da Apostasia. Os conflitos provocaram a derrota dos não muçulmanos e a supremacia do Islã na península Arábica. Em 637, Julfar (agora, Ras al Khaimah) virou plataforma da conquista iraniana. Durante séculos, Julfar se transformou em um porto riquíssimo e no mais amplo cenário de pérolas transportadas pelo trajeto do oceano Índico. “Por sua posição estratégica no mapa-múndi do comércio global, entre o ocidente e oriente, os territórios que hoje compõem os Emirados Árabes sempre foram cobiçados e disputados por quem almejava ter o controle do fluxo mundial de mercadorias”, afirma o professor e historiador Marcus Westphalen, especialista em Oriente Médio pela Universidade de Fribourg, na Suíça. “Mesmo nos tempos atuais, com uma situação geopolítica mais estável, a região é de extrema importância para todo o mundo.”

No começo do século XVI, o expansionismo português no oceano Índico seguiu a rota de exploração do navegador Vasco da Gama, que pôde testemunhar a batalha dos turco-otomanos na costa do golfo Pérsico. Consequentemente, os lusitanos puderam controlar aquela área no período presumível de 150 anos. Assim, também conquistaram os habitantes da península Arábica. Vasco da Gama obteve auxílio de Ahmad Ibn Majid, navegador e cartógrafo árabe de Julfar, para localizar e cumprir a complicada rota das especiarias asiáticas. 

Império Otomano

Algumas áreas da nação não resistiram à influência direta do Império Otomano durante o século XVI. Logo a região seria conhecida como a Costa Pirata pelos britânicos. Afinal, os invasores lá concentrados ocuparam o ambiente marítimo, apesar de os navios europeus e árabes patrulharem aquele setor do século XVII ao XIX. As expedições britânicas protegiam o comércio indiano dos intrusos de Ras al-Khaimah que, em 1819, promoviam campanhas contra essas sedes e outros portos da costa. Em 1820, todos os xeques aderiram a um tratado de paz. No entanto, as invasões persistiram até 1835. É que os líderes da resistência se recusavam a participar das hostilidades marítimas. Em 1853, eles decidiram se juntar ao Reino Unido para assinar um acordo pacificador. Os “Xeques da Trégua” firmaram uma “trégua marítima perpétua” a ser executada pelo Reino Unido. 

Os conflitos entre eles foram encaminhados para uma resolução dos britânicos. Em 1892, o Reino Unido, os Xeques da Trégua e outros principados do golfo Pérsico fortaleceram o vínculo em outro ato assinado para neutralizar as ambições dos europeus. Os xeques não concordavam em ceder nenhum território, exceto ao Reino Unido. Não se juntariam aos governos estrangeiros, a menos que houvesse consentimento. Em troca, os ingleses assumiram o pacto de proteger a costa da Trégua de agressões marítimas, além de intervir nos casos de ataques terrestres. 

Mapa das pérolas

No século XIX e início do XX, o cenário de pérolas cresceu como nunca e proporcionou emprego e renda ao povo do golfo Pérsico. Na prática, gerava recursos financeiros à comunidade local. Só que a Primeira Guerra Mundial provocaria impactos negativos na pesca desse valorizado

 produto. A depressão econômica entre 1920 e 1930, somada à invasão japonesa das pérolas cultivadas, é que destruiria o antes rico segmento. A indústria do setor desapareceria depois da Segunda Guerra Mundial, no momento em que o recém-independente governo da Índia decidiu instituir elevados impostos para as pérolas importadas dos estados árabes do golfo Pérsico. O declínio comercial das joias trouxe os piores desdobramentos. Seria mesmo impossível construir uma boa infraestrutura. 

Em 1930, a pioneira empresa petrolífera dos EAU efetuou inquéritos preliminares para viabilizar o primeiro carregamento de petróleo bruto exportado de Abu Dhabi. O aumento das receitas do petróleo levou o governador de Abu Dhabi, xeque Zaíde ibne Sultão Naiane, a criar um programa de construções para escolas, moradias, hospitais e rodovias. Em 1969, começaram as exportações do petróleo de Dubai. Então, o chefe do governo local, xeque Rashid bin Saeed Al Maktoum, liberou as reservas para melhorar o nível econômico da população. “Embora hoje os Emirados tenham uma economia extremamente forte e diversificada, o petróleo foi o alicerce para a construção econômica e social”, diz o historiador grego Vasilios Meichanesidis, professor da Universidade de Oxford. 

Em 1955, o Reino Unido se juntou a Abu Dhabi na disputa contra Omã relacionada ao oásis Buraimi, território ao sul. Em 1974, o pacto entre Abu Dhabi e Arábia Saudita teria solucionado as divergências fronteiriças entre eles. No entanto, o acordo ainda espera o aval dos Emirados Árabes Unidos e não é reconhecido pelo governo saudita. Oficialmente, a divisa está indefinida. Os dois lados chegaram a delinear a fronteira em maio de 1999. Era mais uma das muitas tentativas históricas de reconciliação regional.

 NOVOS DEGRAUS

Em 1960, descobre-se petróleo em Abu Dhabi. Era o que faltava para surgirem rumores de unificação. Em 1966, o xeque Zaíde ibne Sultão Naiane assume como governador de Abu Dhabi. Os britânicos perdem investimentos petrolíferos e contratam empresas petrolíferas americanas. Os europeus já haviam iniciado um modelo desenvolvimentista que iria estimular pequenas reformas nos Emirados Árabes. Os xeques resolveram formar um conselho destinado a coordenar diferentes questões. Eles definiram o Conselho dos Estados da Trégua e nomearam Adi Bitar (porta-voz do xeque Rashid bin Saeed Al Maktoum) como secretário-geral e representante legal do conselho, desfeito no instante em que se oficializou o surgimento dos Emirados Árabes Unidos. 

Em 1968, o Reino Unido anunciou a decisão tomada e reafirmada em março de 1971. Objetivo: interromper as relações e se afastar dos sete Sheikhdoms da Trégua que estiveram, junto a Bahrain e Qatar, sob proteção britânica. O grupo queria montar e unificar um bloco de emirados árabes. No entanto, em meados de 1971, eles ainda não conseguiam chegar a um consenso, embora o vínculo britânico expirasse em dezembro daquele ano. Em agosto, o Bahrain assumiu a independência e, em setembro, o Qatar.

 

Em dezembro de 1971, expirou-se o tratado britânico-Sheikhdoms da Trégua. Os estados (no total de sete) que não haviam declarado as respectivas autonomias se tornaram independentes juntos como um país único. As lideranças de Abu Dhabi e Dubai se uniram em dois emirados independentes. Ainda prepararam uma constituição, convocaram comandantes de mais cinco emirados para uma reunião e ofereceram a eles a chance de compor um novo país. Decidiu-se que a constituição seria escrita em 2 de dezembro de 1971. Na mesma data, no palácio Guesthouse de Dubai, mais quatro emirados aceitaram entrar no bloco, que se chamaria Emirados Árabes Unidos. Em 1972, Ras al-Khaimah se uniu à parceria.

Perfil

Um agrupamento de sete pequenos emirados (Abu Dhabi, Ajman, Dubai, Fujairah, Ras al-Khaimah, Sharjah, Umm al-Quwain) compõe os Emirados Árabes Unidos. O país localiza-se na península Arábica e na divisa da Arábia Saudita (ao sul e oeste), Qatar (noroeste), golfo Pérsico (norte) e Omã (leste). O território está situado ao norte da linha do Equador. A nação pertence ao hemisfério setentrional. Também se localiza no lado leste do meridiano de Greenwich e integra o hemisfério oriental. Lá, vivem cerca de 4,6 milhões de pessoas. Os Emirados recebem um enorme contingente de imigrantes. Pelo menos 75% da população procede de outros países. A maioria reside em áreas urbanas (78%). Dubai é o emirado mais populoso: 1,3 milhão de habitantes, segundo apontam as pesquisas oficiais.

A economia local baseia-se na produção e exportação de petróleo. O emirado de Dubai não tem nesse produto a primeira fonte de receitas (assegura somente 7% da renda). A economia é impulsionada pelo movimento financeiro das empresas transnacionais, além da zona franca Jebel Ali. O país mostra um alto grau no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 0,815. A taxa de mortalidade infantil é de nove óbitos a cada mil nascidos. O percentual de analfabetismo é de 10%. O saneamento básico atende à maioria das residências.