19/04/07 11h39

Parceria para pôr álcool em duto e açúcar nos trilhos

Valor Econômico - 19/04/2007

O descompasso entre os pesados investimentos na construção de novas usinas - quase 100 projetos em todo país - e os poucos aportes no escoamento da produção de açúcar e, sobretudo de álcool, poderá ser reduzido. Uma aliança entre as principais usinas do país e as ferrovias, como a ALL (América Latina Logística), poderá colocar a produção do setor, finalmente, nos trilhos e dutos. Um grande projeto de infra-estrutura logística já começou a ser costurado entre as usinas do setor sucroalcooleiro e companhias ferroviárias. Os estudos estão avançados e prevêem a construção de armazéns de açúcar e álcool, com desvios ferroviários até as principais regiões produtoras do país, tudo amarrado a um corredor de alcooduto. O Valor apurou que a ALL estuda um projeto de centro de captação de álcool em Mairinque (SP), onde já existe um entroncamento rodo-ferroviário. O álcool chegaria até o local via caminhão e seguiria até o porto de Santos (SP) por alcoodutos. Com uma participação ínfima no setor sucroalcooleiro, a MRS - um consórcio da Usiminas, CSN, Vale do Rio Doce e Gerdau - está em fase inicial de um estudo de viabilidade para a construção de um base de concentração de açúcar em Jundiaí (SP), de onde escoaria o produto das usinas da região até o porto de Santos. Boa parte da produção do país de açúcar é escoada via rodovia. Menos de 15% vão por ferrovias. A produção brasileira é de quase 30 milhões de toneladas. No caso do álcool, quase nada segue por trilhos. As exportações atuais estão estimadas em 3,5 bilhões de litros. Em cinco anos, os volumes devem atingir 6 bilhões de litros. Os volumosos aportes da Petrobras, por meio de sua subsidiária Transpetro, na construção de alcoodutos - estimados em US$ 600 milhões e ligando as principais regiões produtoras, a partir de Senador Canedo (GO) ao porto de Ilha D'Água (RJ) - ainda não têm data fechada para sair do papel, mas devem começar este ano, de acordo com Marcelino Guedes Gomes, diretor de dutos e terminais da estatal. Gomes afirmou que já está em operação um alcooduto ligando Paulínia (SP) ao terminal de Ilha D'Água. A Petrobras ainda negocia o formato de seus investimentos para a construção dos alcoodutos. A maior carência é em Goiás, onde começará o duto. Segundo Gomes, o projeto dos alcoodutos da Petrobras é irreversível. Os custos de transporte de um caminhão-tanque de Paulínia até Ilha D'Água, por duto, saem R$ 51 (US$ 25) o metro cúbico. O mesmo trajeto por caminhão sai a R$ 90 (US$ 44), segundo a Ecoflex Trading. Os investimentos da iniciativa privada em infra-estrutura para álcool começam a ganhar corpo. "Estamos alinhados com a Unica em um grande projeto de logística", disse Melquíades Terciotti, diretor do grupo paulista Nova América, detentor da marca União, líder no varejo. Só 15% da produção da sua vai por ferrovias. "O álcool é distribuído 100% por caminhão".