29/05/19 12h51

Preparar pessoas para o futuro e transformar empresas: temas do congresso da micro e pequena indústria

60% das empresas brasileiras são micro e pequenas indústrias que precisam se preparar para um mercado cada vez mais tecnológico. Inseridas na economia digital, o faturamento sobe, em média, 20% e o tempo de sobrevivência do negócio é maior

FIESP

O Congresso da Micro e Pequena Indústria nasceu em 2006 e vem sendo realizado anualmente com o objetivo de debater temas e apresentar ferramentas que apoiem a gestão e a melhoria dos negócios dessas empresas. Com agenda inovadora, em 2019 o tema escolhido foi Preparando pessoas, transformando empresas. Em sua 14ª edição, promoveu, mais uma vez, nos dias 26 e 27/5, o compartilhamento de conteúdo, experiências e soluções, além do feirão de crédito, sala digital e espaço para networking e coworking e oficinas práticas.

O presidente da Fiesp/Ciesp, Paulo Skaf, se disse satisfeito em contar com participação expressiva de pessoas interessadas em criar e encontrar novos caminhos para suas empresas: “Esse é o Brasil que a gente precisa e que a gente sonha. Acredito no trabalho, na inovação, no esforço. O Brasil é fantástico, um país maravilhoso do qual devemos nos orgulhar”. Porém, ele frisou as mudanças impactantes no mundo do trabalho, que ocorrem também em função das novas tecnologias, como internet das coisas e Inteligência Artificial, que irão extinguir profissões e setores, mas também criarão novas áreas de atuação. “É isso o que estamos fazendo aqui: buscando as soluções”, afirmou.

Logo após a abertura, foco no digital: a experiência que vende – Como a indústria pode se conectar com o cliente na era digital, com Marcelo Pimenta (Sebrae); o novo papel do líder na era digital sob o comando de Yuri Lazaro (Business School São Paulo) e os caminhos das pequenas e médias empresas diante da Revolução Industrial com Ricardo Terra (Senai-SP). O dia se encerrou com Inovação Horizontal com Antonio Carlos Teixeira Alvares (Brasilata) e Transformação digital nos negócios com Rodrigo Wagner (Nespresso).

Nas oficinas práticas, profissionais renomados trataram de como fazer negócios no Facebook e Instagram, como inovar com o Canvas e o uso da Inteligência artificial nos negócios.

 

60% das empresas brasileiras são micro e pequenas indústrias

No painel “Atuação governamental para a competitividade da pequena e média indústria”, José Ricardo Roriz Coelho (2º vice-presidente da Fiesp), lembrou que 60% das empresas brasileiras são micro e pequenas indústrias, responsáveis por empregar grande número de pessoas.

Diante do peso que possuem na economia nacional, Roriz apresentou os principais entraves enfrentados por esses empresários: tributação complexa, burocracia, difícil acesso ao crédito e capital de giro, investimentos e insegurança jurídica.

“Aqui no Congresso, oferecemos o feirão para acesso ao crédito de maneira mais competitiva. Essas empresas precisam de capital de giro para refinanciar suas dívidas. As empresas estão investindo pouco. Uma das razões é que 40% das empresas estão com capacidade ociosa grande, entre 30% a 35%”, contabilizou. Quanto à insegurança jurídica, Roriz foi enfático ao destacar que “as empresas brasileiras valem 20% a menos por causa da insegurança jurídica”.

Em função dos entraves mencionados por Roriz, Carlos Alexandre da Costa, da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, afirmou “não queremos fazer nada de cima para baixo. Queremos sempre ouvir a sociedade. Fizemos um plano de governo e estamos nos esforçando para cumpri-lo, como as principais reformas estruturais, como as da Previdência e Tributária. Temos que ter uma carga leve. Precisamos de um Estado menor. Quem traz solução para o país não é o governo, mas o setor privado”.

Em efeito comparativo, Costa apontou que os dados de competitividade do Brasil são assustadores. “A nossa produtividade média é muito baixa. Ela é 25% em comparação com um trabalhador americano. Existe algo de errado no Brasil que baixa e penaliza a pequena e microempresa no Brasil. Temos de apoiar as médias, micros e pequenas. A tendência natural é que a gente pense logo em grandes empresas, em política de produtividade. As grandes defasagens competitivas estão afetando mais as micro”, pontuou.

A principal causa de mortalidade das PMEs, segundo Costa, está no planejamento, capacitação e gestão. “Nós temos que dar um salto produtivo. Temos parcerias com Sesi e Senai para trazer essas soluções de produtividade e de capacitação gerencial”, contou.

Também neste painel, Patricia Ellen da Silva, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, lembrou que o Desenvolve SP oferece apoio ao micro crédito para as PMEs. “Não temos que direcionar recursos para poucos, mas direcionar para todos. Lançamos recentemente a política dos polos econômicos, com a simplificação e desburocratização. Além disso, temos parceria com o Sebrae, Senai, Centro Paula Souza, com o Sistema S”, afirmou.

Para fechar, o deputado estadual Itamar Borges, afirmou que a Frente Parlamentar do Empreendedorismo e Combate à Guerra Fiscal tem o objetivo de contribuir na organização das entidades nas ações do governo. “O corte de gastos e redução da burocracia tem que ser constante, é como cortar a unha. Estamos à frente de dois principais temas, como as reformas da Previdência e a Tributária”, finalizou.

 

As pequenas e médias empresas na era da 4ª revolução industrial

Como as pequenas e médias empresas podem absorver as tecnologias do presente, otimizar seus negócios com as tecnologias do futuro, e agir de acordo com a nova jornada do consumidor foram os principais pontos de discussão do painel que reuniu representantes da Microsoft Brasil, do Facebook e do Google.

Os data centers, antes disponíveis apenas para as grandes corporações, estão hoje disponíveis para as pequenas e médias empresas graças ao que vem sendo chamada de quarta revolução industrial.

“Qualquer empreendimento pode lançar mão de sistemas robustos e nuvens de inteligência para proporcionar soluções aos seus clientes de forma segura, sustentável e econômica”, afirmou Rodrigo Paiva, diretor de pequenas e médias empresas da Microsoft. “Graças à inteligência artificial, computadores ganharam paridade humana e hoje são capazes de reconhecer falas e objetos como os homens, realizar testes de compreensão de leitura e até mesmo fazer traduções muito próximas ao nível humano”, acrescentou o executivo.

Em função dos recursos proporcionados pela tecnologia, tornou-se possível identificar e criptografar documentos de clientes, experiências de leitura para pessoas com transtornos de aprendizagem e até mesmo localizar indivíduos desaparecidos por meio do desenvolvimento de softwares de reconhecimento facial.

“Há inúmeras possibilidades hoje em dia, mas não podemos jamais esquecer nosso compromisso com responsabilidade, privacidade, segurança e transparência”, pontuou Paiva. “Junto com a revolução industrial e as novas inteligências disponíveis, esses valores vão suportar os negócios de vocês e ajudá-los a construir um futuro melhor para o Brasil e para todos nós”, acrescentou o empresário.

Na exposição do diretor de marketing para pequenas e médias empresas do Facebook, Leo Bonoli, a inserção das pequenas e médias empresas na economia digital foi exaltada como algo indispensável na era da indústria 4.0. Dados apresentados pelo executivo mostraram que as pequenas e médias empresas inseridas na economia digital apresentam faturamento, em média, 20% maior do que aquelas que não estão, além de maior tempo de sobrevivência.

“Essas empresas usam as ferramentas digitais para analisar os comportamentos e os hábitos de seus consumidores e também falar com eles de forma mais assertiva, efetiva e dinâmica”, destacou Bonoli. Sessenta e quatro por cento das empresas usam o WhatsApp para falar com seus consumidores e acessar novos clientes; 25%, o Facebook; e 15%, o Instagram para esse fim”, acrescentou o especialista. Essa estratégia reflete mudanças na jornada do consumidor que passaram a ser identificadas nos últimos anos, em virtude das ferramentas digitais.

Como observou Rodrigo Rodrigues, diretor de pequenas e médias empresas da Google Brasil, 1 em cada 5 domicílios brasileiros acessa a internet pelo celular, e expectativa é que até 2020, mais de 70% das pesquisas por serviços e produtos sejam feitas por esse dispositivo.

“A jornada do consumidor não é mais linear como era há alguns anos”, afirmou Rodrigues. “Por ter se tornado fragmentada, precisamos falar com nossos consumidores de forma customizada e em todos os momentos em que há oportunidade para interação”, sugeriu o empresário.

Em sua apresentação de encerramento do Congresso da Pequena e Média Indústria, o CEO da Amazon Brasil, Alex Szapiro, jogou luz justamente sobre o valor que o cliente deve ter para os empreendimentos. “A obsessão por nossos clientes está dentro da cabeça de cada um dos vendedores do nosso marketplace”, ressaltou Szapiro. “Buscamos o que faz sentido para a nossa empresa e para o nosso cliente e enxergamos a tecnologia como uma ferramenta para solucionar o problema de nossos usuários”, acrescentou o diretor.

Aparentemente, não há quem discorde de Rodrigo Paiva: “o poder da tecnologia não é definido pelo o que ela faz, mas pelo que fazemos com ela”. Talvez essa seja uma das grandes lições aprendidas durante esses dois dias de Congresso da Micro e Pequena Indústriadebates.