27/12/18 15h17

Startups apostam em alta no mercado de estágios

Valor Econômico

Empresas de intermediação de estágios entre estudantes e o mercado de trabalho estão apostando no reaquecimento dos negócios, nos próximos meses. O setor foi prejudicado pela alta do desemprego, que reduziu as vagas para iniciantes, mas investe em novas formas de atuação, com plataformas on-line e aplicativos. Dados do segmento sinalizam que há muito espaço para crescer.

 As vagas para estágios aumentaram 13,4% no país, passando de 178,9 mil no primeiro semestre de 2017 para 203 mil no mesmo período de 2018. O Brasil tem 369,3 mil estudantes contratados, de acordo com levantamento do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), entidade sem fins lucrativos em atividade há 54 anos.

 A WallJobs, startup de recrutamento, seleção e gerenciamento de estagiários criada em 2015, conta com cerca de três mil companhias clientes, dois milhões de estudantes cadastrados e 350 universidades conveniadas. Mais de 45 mil vagas já foram divulgadas no site da empresa, que garante manter uma operação 100% digital. Atualmente, oferece 234 oportunidades, número 70% maior do que o registrado no primeiro semestre de 2017.

 Cerca de 40% das posições da WallJobs são para a área de comunicação, 30% para departamentos de administração e financeiro, enquanto o restante é voltado para tecnologia e atendimento ao cliente, diz o CEO Alexandre Sande. O valor médio mensal das bolsas é de cerca R$ 1,4 mil.

 "O ano começou muito bem mas, com as eleições, as empresas reduziram um pouco as contratações", diz. De acordo com o executivo, os altos índices de desemprego também afetam o setor. "Por lei, cada companhia pode ter até 20% da mão de obra ocupada por estagiários. Quando o número de empregados cai, a quantidade de estagiários também diminui." A Lei do Estágio, com medidas de garantia e fiscalização dos direitos dos estudantes que trabalham, completou dez anos este ano.

 Com cerca de mil processos de estágio finalizados, a WallJobs conseguiu garantir uma forte atuação na região Sudeste, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Trabalha desde a captação do currículo até a elaboração do contrato junto às universidades. Tudo é feito de forma digital, segundo a empresa, e a admissão pode ocorrer em 72 horas. Para gerar receita, cobra dos empregadores um valor mensal e cuida da administração dos contratos. O serviço é gratuito para os estudantes. Também oferece uma plataforma de anúncios de vagas para facilitar a busca dos gestores de RH.

 A partir do momento em que oferece a vaga, o cliente pode selecionar filtros, como universidade, curso, nível de inglês e período de estudo do candidato. O sistema indica os nomes mais adequados. Depois, o estudante é avaliado em 12 competências, como liderança e raciocínio analítico. Caso não seja selecionado, recebe um relatório com aspectos que podem ser melhorados.

 A WallJobs faturou R$ 500 mil em 2017 e o plano é fechar 2018 com um faturamento em torno de R$ 2 milhões. "Estamos investindo em tecnologia e na área comercial para acelerar as contratações." Um dos clientes é o Itaú Unibanco. Recentemente, apoiou o banco nas inscrições para um programa de estágio de férias. "Em menos de um mês, atraímos mais de seis mil interessados." Para ampliar a base de candidatos, também participa de eventos em universidades. O objetivo é internacionalizar os negócios em 2019. Já há conversas com grupos da América do Sul, mas o foco é chegar aos Estados Unidos e Europa, diz Sande.

 Na Matchbox, com pouco mais de um ano de operação, já foram atendidas 301 empresas interessadas em estagiários. Atualmente, tem cerca de 400 vagas, divididas em oito clientes. O número é 100% maior que o obtido no segundo semestre de 2017. No total, realizou 16 programas, com cerca de 800 posições, em mais de 15 Estados, como Maranhão e Pará. A maioria das colocações está no Sudeste, com uma concentração maior em São Paulo, diz o CEO Kleber Piedade, que atende marcas como Avon e Bosch.

 O mercado está em um período de reaquecimento e volta a contratar, diz. Segundo ele, em diversos clientes, o número de vagas disponíveis está cerca de 20% acima do volume previsto quando a Matchbox foi chamada. "Setenta por cento das oportunidades são para engenharia e administração, os dois cursos mais procurados."

 A empresa trabalha com recrutamento de outros perfis de profissionais, mas a carteira de estágios representa 31% do faturamento. A expectativa é que essa parcela aumente até cerca de 37%, nos próximos meses. O faturamento em 2017 foi de R$ 1,8 milhão, com apenas meio ano de operação, e a estimativa é alcançar R$ 2,9 milhões, até dezembro.