06/02/17 15h42

Aciesp faz mapeamento da produção científica no Estado de São Paulo

PROTEC

“Quando o empresário tem que tomar a decisão de se instalar em uma determinada região, ele precisa saber onde estão os nichos de expertise. Informação é crítica para essas decisões”, comenta o idealizador do projeto, José Eduardo Krieger

A Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) acaba de lançar um estudo com o mapeamento das atividades científicas no Estado. Baseado nos grupos de pesquisa e pesquisadores cadastrados no CNPq, o “Mapa da Ciência de São Paulo” analisa as 15 mesorregiões paulistas e levanta o número de pesquisadores, a produção de artigos e o impacto dessa produção, desde 2002 até 2011. O objetivo do estudo é criar um banco de dados que indique as áreas de concentração de diferentes expertises e como esse tipo de conhecimento vem se desenvolvendo.

“A gente precisa se colocar no sapato de alguém externo à comunidade científica, e estruturar uma maneira de mostrar onde estão os experts desses conhecimentos”, comenta o professor titular de Medicina Molecular na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), José Eduardo Krieger, que idealizou o projeto durante sua gestão como presidente da Aciesp, entre 2011 e 2015.

Segundo ele, esse estudo é importante justamente porque constitui um mapa das expertises do Estado de São Paulo, levando em conta suas 15 mesorregiões econômicas. “Quando o empresário tem que tomar a decisão de se instalar em uma determinada região, ele precisa saber onde estão os nichos de expertise. Informação é crítica para essas decisões”, comenta.

Além de ser um instrumento para desenvolvimento de empresas inovadoras, Krieger ressalta que este também é um material fundamental para políticas públicas.

Para o atual presidente da Aciesp, Marcos Buckeridge, o fato de o estudo ser baseado nos grupos de pesquisa do CNPq, permite um levantamento mais amplo dos pesquisadores e pesquisas realizadas em São Paulo. Ao todo, foram mapeados 7,5 mil grupos de pesquisa nesse período. “O documento é uma análise da evolução da produção científica por todo o Estado na primeira década do século XXI”, resume.

O estudo é focado na densidade de pesquisadores por mesorregião – divisão criada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para fins estatísticos, que congrega municípios com similaridades econômicas e sociais de uma área geográfica – distribuídos nas oito grandes áreas científicas (saúde, humanas, exatas e da terra, biológicas, sociais aplicadas, engenharias, agrárias e linguísticas, letras e artes).

Para cada área de conhecimento, foram feitos mini-gráficos com o número de pesquisadores, o percentual deles em relação a todo o Estado e o número desses cientistas que possuem índice h entre 1 e 2, 3 e 5 e maior ou igual a seis – ou seja, o impacto de suas produções em dois períodos, entre 2009 e 2011 e durante toda a década analisada.  O mapeamento também traz a evolução da produção científica, com o número de artigos produzidos ano a ano, de 2002 a 2011, o número de citações que essas publicações tiveram, além da média de citações por artigo.

Nesse período, o estudo contabilizou um total de 54 mil pesquisadores em São Paulo. Desses, 22% estão concentrados na área de ciências da saúde e cerca de 17% em humanas.

“Vai ser bacana, por exemplo, a partir desse mapeamento, discutir o papel das ciências sociais, porque esse é um ponto polêmico que o governador já levantou, e que tem muita pesquisa relevante. Ao mesmo tempo, o estudo mostra também lacunas, onde deveríamos ter feito mais e não fizemos”, comenta Buckeridge.

Distribuição

Como esperado, as mesorregiões Metropolitana de São Paulo e de Campinas possuem as maiores concentrações, em todas as áreas. Mas é interessante observar que mesmo as regiões mais distantes desses centros, como as de Presidente Prudente, Assis ou Bauru, possuem estudos de alto impacto.

“O estudo mostra a contribuição da ciência em todo o Estado de São Paulo, que não está concentrada apenas na capital, mas está distribuída por todo o território. Precisamos agora buscar uma distribuição mais homogênea”, diz a vice-presidente da Aciesp, Vanderlan Bolzani.

Bolzani, que é também vice-presidente da SBPC, ressalta a importância de, a exemplo do que fazem os países mais desenvolvidos, conhecer onde estão os pesquisadores de São Paulo e verificar como essa massa crítica vem colaborando para o desenvolvimento da CT&I. “Não adianta ter 54 mil cientistas, se os cidadãos não têm ideia do que são eles, o que fazem, e como essa ciência pode impactar no dia-a-dia de todos”, diz.

Segundo ela, os dados mostram o que cada região tem de mais forte. “A partir dessa radiografia, é possível ao Estado fazer uma autoavaliação sobre o que ele deseja para a CT&I. O que o governo e toda a população esperam de um Estado que tem um corpo científico tão robusto? Esperamos que seja olhar para frente”, conclui.

O próximo passo, conforme conta Krieger, é criar uma interface eletrônica, com informações mais específicas, que promova ligações entre pesquisadores, empreendedores, e sociedade em geral. “Esse é apenas um primeiro recorte, que reflete as atividades dos primeiros anos desse novo milênio. A ideia é perenizar esse tipo de procedimento”, diz.