30/01/14 14h52

Akzo Nobel vê um novo papel para o Brasil em inovação

Valor Econômico

Fazer mais com menos é hoje uma das diretrizes básicas para empresas que procuram gerir de forma sustentável processos e produtos. Menos água para fabricar mais bebida, menos terra para produzir mais grãos, menos energia para mover mais máquinas. No caso da Akzo Nobel, fabricante de tintas, revestimentos e especialidades químicas, a diretriz fica clara em uma tinta cujo nome é quase um slogan: Rende Mais, que promete cobrir uma superfície maior com menor quantidade do produto, que pode ter uma diluição em água de 50% a 80% superior à dos convencionais.

O circulo virtuoso gerado a partir da utilização de um produto altamente concentrado - menor quantidade para o mesmo desempenho, menos transporte, menos emissões de carbono, menos embalagens - é um processo já conhecido em outros setores. Porém, mais do que o diferencial em redução de impactos ambientais, a tinta, cuja tecnologia está em avaliação para implantação na Índia, aponta para um novo papel do Brasil na Akzo Nobel no quesito sustentabilidade e inovação. "Temos mais de dez centros de pesquisa e desenvolvimento em diferentes áreas e fábricas. Construímos esses centros e trazemos conhecimento do exterior para o Brasil. Agora começamos a ver em nossos centros brasileiros que as pessoas trazem inovações que levamos para fora", diz Ton Buchner, CEO da empresa que somava, até setembro, faturamento de € 11,1 bilhões no mundo.

"As condições atmosféricas no Brasil nos permitem desenvolver coisas aqui que funcionam também em outros países", afirma o executivo, que assumiu o comando da empresa em abril de 2012. Entre as inovações verde-amarelas está também o conceito de micro emulsões na formulação de defensivos, que promete reduzir a concentração dos produtos aplicados e seu impacto ambiental. A tecnologia foi recém-aplicada para patente na Europa e deve ser estendida para os EUA e América do Sul.

A expectativa é que o fluxo de exportação de inovações cresça. A Akzo Nobel inaugurou em abril do ano passado um laboratório em Mauá (SP), com investimento de € 1 milhão. O centro de análises atende as oito unidades de negócios da empresa no país com pesquisas de novas tecnologias e deve, segundo Jaap de Jong, diretor da companhia no Brasil e América Latina, "ser o hub para matérias-primas renováveis em todo o mundo". Seria um bônus na participação do negócio brasileiro que hoje é o quarto mercado da Akzo Nobel no mundo e que, segundo as projeções de Buchner, iria fechar o ano com crescimento de 7,5% sobre os € 987 milhões de 2012.

Novas tecnologias são consideradas estratégicas na gestão da companhia. Os investimentos em inovação absorvem 2,5% do faturamento, cerca de € 350 milhões, dos quais € 250 milhões estão reservados para a busca de soluções de sustentabilidade, diz Buchner. As pesquisas possibilitaram, por exemplo, que o uso de energia renovável atingisse os atuais 33% no total consumido pelas operações.

A busca pela otimização dos recursos e redução de impactos vai além das fábricas. "Se você olha a pegada de carbono desde a compra do material ao descarte pelo consumidor nós representamos 10%", conta o executivo. "Então trabalhamos melhor com os nossos fornecedores para, juntos, reduzirmos suas pegadas, fazendo pesquisas, buscando biomateriais, produtos mais amigáveis."

A companhia está, desde outubro, engajada em um programa batizado de Planeta Possível, cujo mote é fazer radicalmente mais com radicalmente menos. Trata-se, segundo Buchner, de "entregar mais valor usando menos material, criando menos lixo, usando menos energia, sendo uma companhia mais circular". Esse esforço precisa correr de forma paralela ao processo para melhorar o desempenho, diz o CEO, que está à frente de um trabalho de reestruturação e adaptação de portfólio que pretende culminar com 9% de retorno sobre as vendas até 2015. "Precisamos integrar os dois. A estratégia de negócios precisa ser ao mesmo tempo a estratégia de sustentabilidade, sustentabilidade é negócio."

Mas custos não são tudo. "Energia renovável geralmente não costuma reduzir tanto custos, é mais que estamos convencidos de que é a melhor coisa a fazer", diz o CEO. O mesmo vale para a água: "Ela é muito barata na maioria dos países. Se você economiza não é por dinheiro, mas porque é responsável". É preciso olhar para o futuro. "O preço dessas coisas hoje não faz com que as empresas sejam mais sustentáveis, mas se você pensa em prazos mais longos, lidar com essas três coisas - resíduos, água, energia e CO2 vai ficar mais caro então é preciso assegurar agora que você será significativamente mais eficiente que os demais nesses aspectos em três, cinco ou dez anos."