05/10/15 14h33

Ambiente em cidades do interior estimula projetos

Valor Econômico

Expressos bem tirados dividem espaço com notebooks, aparelhos celulares e planos de negócios nas mesas dos cafés de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Na cidade, o ecossistema de empreendedorismo cresce e torna-se cada vez mais conectado, movimentando uma rede que envolve desde os cafés até espaços de compartilhamento para infraestrutura de escritório (coworking).

O município oferece boas condições para a instalação de negócios. O potencial para troca de experiências e parcerias é imenso", comenta Paola Miorim, fundadora do Movimento Empreende Ribeirão, organização sem fins lucrativos com a missão de capacitar e promover encontro entre os empresários.

Com Produto Interno Bruto (PIB) estimado em R$ 21,2 bilhões, em 2015, pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Ribeirão Preto irradia potencial econômico para outras 24 cidades. A economia de toda a região, segundo a Fipe, deve movimentar R$ 38 bilhões neste ano. O empreendedorismo é alimentado por um ambiente composto de empresários, educadores, investidores, instituições de ensino, empresas desenvolvedoras de tecnologia, polo de software, parque tecnológico e incubadoras de empresas de base tecnológica.
O Mover, explica Paola, surgiu com o intuito de conectar os empreendedores, realizando encontros, capacitação e ações para promover parcerias. Em 2014, a entidade organizou mais de 150 eventos, nos quais se fecharam mais de 70 alianças, foram realizadas 144 horas de treinamento e outras 944 horas em encontros para relacionamento e troca de ideias. "Estimamos que 4,5 mil pessoas participaram dos eventos no ano passado", destaca Eduardo Cicconi, gerente do parque tecnológico de Ribeirão Preto, que também integra o Mover.

Ribeirão Preto, destaca André Spínola, gerente do Sebrae Nacional, é um dos muitos centros de negócios que alimentam a economia do interior do Brasil. Estudo realizado pelo Data Popular, a pedido do Sebrae, mostra que o consumo fora das capitais e regiões metropolitanas soma R$ 827 bilhões por ano, respondendo por 38% do total de compras realizadas em todo o país. De cada dez reais gastos pelos brasileiros, quatro encorpam os caixas do comércio interiorano.

A análise ainda aponta que 49% dos brasileiros moram em cidades do interior - 74% concentrados em áreas urbanas. "Há municípios importantes em todo o país, com economias pujantes no interior de Estados como Rio Grande do Norte, Pernambuco, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul", exemplifica Spínola.

Segundo ele, ainda não dá para prever os impactos da atual crise econômica no comportamento de consumo nas cidades do interior. Mas o movimento de descentralização do consumo é irreversível. "Não há mais sentido viajar para comprar nas capitais. Com mais informação, o consumidor pesquisa pela internet sobre o produto, inclusive o preço, e avalia as condições do comércio local. Percebe que tem as mesmas condições das metrópoles", comenta Spínola.

As mesmas condições, revela o gerente do Sebrae, são observadas nas fachadas, vitrines e disposição dos produtos das lojas. "No interior, o comércio também está mais bonito, mais preparado. Não perde em nada para os projetos das capitais", diz. O segmento de serviços é apontado com um dos grandes potenciais nesses municípios. "Os habitantes buscam mais qualidade de vida e prezam pelo tempo disponível para cuidados pessoais e com a família. Segmentos como serviços de limpeza, beleza e alimentação estão em alta", comenta.

Observar as mudanças estruturais da economia local também é fundamental na hora de partir para um empreendimento. Para Rômulo de Paulo, sócio fundador da Art IT, a transformação de Campinas (SP) em um 'cluster' de tecnologia da informação e comunicação (TIC) foi essencial no sucesso de seu negócio. Em 2005, três anos depois de iniciar a empresa, ele fechou um contrato de provimento de serviços e soluções para uma grande operadora de telecomunicações. "A oportunidade nos levou para a especialização", lembra.

Paulo acredita que se Campinas não tivesse se tornado um centro de referência o caminho seria mais difícil. "Aqui temos recursos humanos qualificados, universidades, empresas parceiras e infraestrutura", destaca.

Antenado com as tendências, Paulo iniciou um programa de investimento corporativo em empresas iniciantes, ou startups. Seleciona projetos, aporta capital e, dessa forma, faz a roda do empreendedorismo rodar. A DataSafer, especializada em soluções de segurança de dados, é uma das apostas. Segundo Walber Alexandre de Castro, um dos fundadores, o apoio da Art IT permitiu que seu projeto decolasse. "Nossa solução tem foco no mercado de computação em nuvem, algo incipiente no Brasil. Foi difícil encontrar alguém que acreditasse em nossa visão."

O investimento inicial na DataSafer foi de R$ 40 mil. O negócio provou que aplicar em ideias pode ser algo muito lucrativo. "Em dois anos de operação, nossa receita anual chegou a R$ 1,5 milhão (2014) e estamos crescendo de forma acelerada", revela Castro. A carteira de clientes já conta com 300 empresas.