05/10/15 14h29

Bons cursos unem teoria e prática

Valor Econômico

Universidades como Harvard, MIT e Stanford povoam os sonhos de muitos jovens brasileiros que têm como objetivo tocar o próprio negócio, de preferência, único e inovador, capaz de gerar impacto, provocar rupturas. Outros, disputam uma vaga por aqui, em instituições como Unicamp, USP, Federal de Pernambuco, Insper e ESPM, todas com fortes traços de apoio à atividade empreendedora. Mas no que essas universidades diferem de outras espalhadas pelo país? Para os consultores, ao contrário da maioria, seus cursos somam teoria e prática, algo essencial para quem quer empreender.

Na visão de Luiz Mesquita, pesquisador brasileiro que liderou o estudo "Competence Versus Identity as Drivers of Nascent Entrepreneurship", o segredo está na combinação certa de ecossistemas, incluindo intenso network e oportunidades para que as ideias se cruzem e fertilizem umas às outras.

"Por mais que esse tenha sido o foco de países como Cingapura, França, Holanda, Malásia, China e Índia, as empresas nascentes só se fortificaram em ambientes que somavam mais de um ingrediente, que integravam a universidade ao ecossistema empreendedor", escreve Mesquita.

A opinião é compartilhada por Carolina Costa, diretora acadêmica de graduação do Insper, observando que não é necessário fazer os alunos criarem uma empresa, mas sim, permitir que eles estejam próximos a mentores, incubadoras e empreendedores de sucesso. "Tudo isso, dentro do ambiente universitário", destaca. "No Brasil, o modelo mais aproximado de grandes universidades como Babson, MIT e Stanford, é a Unicamp".

O Insper, segundo Carolina, está trabalhando para chegar lá. Nos últimos anos, tem destinado um valor significativo do orçamento da própria faculdade, em torno de R$ 250 mil por ano, para que os alunos planejem e executem seus projetos. "Se somarmos a infraestrutura e a orientação qualificada disponível para esse fim, esse valor sobe para cerca de R$ 1 milhão", afirma. "Em dois anos, saímos de quatro para 16 grupos tocando projetos, com mais de 700 alunos envolvidos na produção". O objetivo principal, de acordo com a diretora, é criar condições para que o jovem protagonize, de fato, o desafio de trabalhar em grupo, aprenda a lidar com as frustrações e com os próprios erros. "Para que isso dê resultados é preciso ter uma integração de todas as áreas da universidade, é preciso querer transformar e criar mecanismos para gerar e medir o impacto que isso provoca em toda a estrutura", afirma.

Embora ainda não ocupe o topo da lista entre as universidades mais procuradas por jovens que desejam empreender, o Instituto Mauá, com sede em São Caetano do Sul, desde o final dos anos 90 tem trabalhado para integrar seus cursos de engenharia, administração e design em atividades que possam gerar startups inovadoras. O curso de administração nasceu em 1996, com vocação empreendedora, lembra o professor Ricardo Balistiero, coordenador da área de Administração da Mauá.

"O estímulo a empreender acontece desde o primeiro dia de aula e, já no primeiro semestre, os alunos trabalham com projetos e atividades especiais, que transcendem a sala de aula", afirma Balistiero. "Além disso, no terceiro e quarto ano, nas disciplinas regulares, alguns trabalham com projetos empreendedores dentro da Oficina da Inovação, e outros com Jogos de Empresa". Ele destaca, ainda, que desde o ano passado os projetos contam com a participação de representantes de todos os cursos. A engenharia cria, o design materializa e a administração ajuda a vender. "Estimulamos que os Trabalhos de Conclusão de Curso sejam, inclusive, feitos entre cursos. Não existe empreendedorismo só de uma área", ressalta.

O professor Paulo Lemos, da Unicamp, é ainda mais enfático, defendendo a tese de que é preciso flexibilizar o conteúdo a quem quer aprender. "A educação on-line cresce em um ritmo acelerado, justamente porque permite às pessoas aprenderem quando podem", afirma. "E a qualidade desse ensino na área de empreendedorismo tem melhorado muito, com plataformas importantes, como a Coursera, fazendo parcerias com universidades de ponta como a USP e Unicamp, no Brasil, e a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, entre outras".

Na visão de Lindália Reis, diretora de inovação da Universidade Estácio, do Rio de Janeiro, para que tenhamos os 'craques' do futuro, jovens brasileiros que criem negócios inovadores e competitivos globalmente, precisamos primeiro criar as boas 'escolinhas de futebol', onde eles possam testar, experimentar, falhar e minimizar os riscos inerentes a qualquer tipo de novo negócio. "A Estácio tem um DNA empreendedor e a cada ano investe mais na expansão do seu ecossistema", diz Lindália. Em 2014, criou a primeira pré-aceleradora gratuita, o Espaço Nave (Núcleo de Aceleração e Valorização da Estácio), um espaço de 800 metros quadrados no Porto Maravilha, com programa startup nave, em que recebem formação, mentoria com profissionais experientes do mercado e networking com os lideres do ecossistema. "Desde que abrimos o programa, já são três turmas, cada uma com mais de 30 empresas criando impacto no mercado", afirma.