13/08/14 15h25

Brasil será um grande exportador, prevê Shell

Valor Econômico

A participação brasileira na produção mundial de petróleo deverá alcançar cerca de 5% em meados da próxima década, com o aproveitamento de recursos da camada pré-sal. A expectativa é do executivo chefe da equipe de análise de cenários futuros de energia da petroleira anglo-holandesa Shell, Wim Thomas. Segundo ele, a produção brasileira já atende por quase 3% da demanda global por petróleo.

Para efeito de comparação, considerando dados do "World Energy Outlook 2013", da Agência Internacional de Energia, 5% da produção mundial de petróleo hoje equivale, aproximadamente, à produção somada de Angola e Venezuela, dois integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

"Os volumes do pré-sal brasileiro serão muito necessários para atender a crescente demanda por petróleo até 2030 e depois desse período", afirmou o executivo, ao Valor. "A participação brasileira [na produção mundial de petróleo] já é significativa. E em meados da próxima década, ela pode crescer para cerca de 5%, dado o potencial de recursos do Brasil, mas apenas se todos os projetos possíveis forem executados no prazo", completou ele.

O especialista, que veio ao Brasil para participar hoje de encontro para discutir o futuro dos alimentos, água e energia, no Rio, contou ainda que o Brasil poderá se tornar um grande exportador de petróleo no futuro, com o desenvolvimento das áreas do pré-sal.

"O Brasil pode se tornar um exportador significativo ao longo do tempo, dependendo do ritmo de desenvolvimento de seus recursos petrolíferos, políticas de eficiência energética no setor de transporte e de uso de combustíveis alternativos para atender a demanda doméstica".

A Shell é uma das parceiras da Petrobras no campo gigante de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, que possui volume recuperável de 8 bilhões a 12 bilhões de barris de petróleo - o que pode quase dobrar as reservas de petróleo do Brasil. A anglo-holandesa possui 20% do consórcio que desenvolve Libra, formado ainda pela estatal brasileira (operadora, com 40%), a francesa Total (20%) e as chinesas CNPC e CNOOC (com 10%, cada).

A Shell é a segunda maior produtora de petróleo do país, no ranking por operadores da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), atrás da Petrobras. Os campos operados pela companhia - Parque das Conchas, Bijupirá e Salema, todos na Bacia de Campos - produziram 88,4 mil barris/dia em junho, segundo dados apurados pela agência.


Um dos responsáveis pela elaboração de cenários energéticos de longo prazo da Shell, com horizonte 2050, Thomas acredita que o Brasil "ainda vai levar um tempo" para explorar o seu potencial de recursos de gás não convencional, principalmente o gás de folhelho.

"Existe um potencial significativo para o gás não convencional no Brasil. No entanto, muitas bacias ainda são imaturas e necessitam ser exploradas, bem como estão localizadas em áreas de difícil acesso ou ambientalmente sensíveis. Dado o foco do Brasil no offshore [petróleo no mar], vai demorar um tempo ainda para que esta base de recursos seja explorada", explicou Thomas.

No Brasil, a Shell possui um bloco terrestre onde há perspectiva de gás natural não convencional, na Bacia de São Francisco, em Minas Gerais. A companhia perfurou um poço na região, mas sem sucesso e agora está avaliando qual estratégia vai tomar com relação à área.

Questionado sobre a possibilidade de os Estados Unidos se tornarem um grande exportador de gás natural de xisto no futuro, alterando a dinâmica atual do mercado internacional do energético, ele afirmou que existe um potencial da ordem de 10 bilhões de pés cúbicos/dia - cerca de 283 milhões de metros cúbicos/dia, quase três vezes o mercado de gás brasileiro - de capacidade de exportação de gás natural liquefeito (GNL) a ser aprovada no país.

"Em 2020, cerca de 6,5 bilhões de pés cúbicos/dia [184 milhões de metros cúbicos/dia] de capacidade de exportação de GNL deverá estar disponível", disse o executivo.

Segundo Thomas, a participação do gás natural na matriz energética mundial, de 22% hoje, poderá variar entre 21% e 27% em 2050.

O especialista também avalia que o rápido crescimento da produção de petróleo não convencional nos Estados Unidos vai reduzir a curva de custo médio global de produção de óleo e deslocar projetos marginais de produção que tenham custo acima de US$ 100 por barril no futuro.