11/09/14 14h34

Cidades do interior do país viram ilhas de emprego

Puxados pelo agronegócio e pela construção civil, pequenos municípios registraram maior ocupação formal do que conhecidas cidades, prejudicadas pela crise na indústria

Brasil Econômico

O aquecimento do mercado de trabalho nos últimos sete meses deste ano colocou Altamira, no Pará, Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, e Bebedouro, em São Paulo, no mapa das 10 cidades com mais oportunidades de emprego com carteira assinada do país. Dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregos (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), compilados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) revelam que as cidades do interior estão na frente, inclusive, de conhecidos polos de atração de mão de obra, como Contagem (MG), São Bernardo do Campo (SP), Rio de Janeiro( MG) e Manaus (AM).

A presença do agronegócio no interior, a migração de empreendimentos imobiliários para as cidades menores, a expansão do setor de serviços, com o aumento da renda média do trabalhador, e a atração de projetos especiais — caso de Altamira, com a Usina de Belo Monte — ajudam a explicar essa pujança interiorana. Em contraposição, a perda de ritmo da produção industrial e o consequente desaquecimento do mercado de trabalho, além da restrição ao crédito que tem reduzido o consumo das famílias e o faturamento do varejo, vem fazendo com que cidades dinâmicas percam o antigo status.

“Os dados do Caged são compatíveis com a Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE, que vêm mostrando que há uma perda de fôlego do emprego nas grandes cidades e fora delas há um crescimento um pouco mais vigoroso”,aponta Rodrigo Leandro de Moura, economista da FGV.

Por trás das 9,2 mil vagas abertas em Altamira, de janeiro a julho, está a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que vem arregimentando, especialmente, profissionais da construção civil. O projeto colocou a cidade na quinta posição em abertura de postos formais de trabalho.
Na lista das 10 cidades mais dinâmicas também aparecem Santa Cruz do Sul (RS) e Bebedouro (SP). Ambas têm no agronegócio as bases de seu desenvolvimento. A primeira com o fumo, e a segunda com a indústria de sucos de laranja e da cana-de-açúcar. Mesmo reconhecendo que o agronegócio é o carro-chefe, o diretor do Departamento de Desenvolvimento Econômico de Bebedouro, Lucas Seren, conta que a cidade tem uma nova aposta: a atração de empresas de logística.

“Este é um período em que o agronegócio gera muito emprego na região, mas a cidade tem buscado se deslocar dessa economia de única via. Por sua localização, entre a Rodovia Armando Sales de Oliveira e a Brigadeiro Faria Lima, Bebedouro tem se consolidado como centro logístico, atraindo, inclusive, grupos que transportam marcas internacionais, como a Tracbel”, diz Seren, que destaca ainda o aquecimento da construção civil na cidade, envolvida em obras públicas e empreendimentos imobiliários.

Em trajetória oposta, Ipojuca, em Pernambuco, aparece no topo da lista das cidades que mais fecharam postos de trabalho. Lá foram extintas 12,3 mil vagas de janeiro a julho, impacto da finalização de obras na Petroquímica de Suape e na Refinaria Abreu e Lima.
Para Rodolfo Guimarães, diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem), a entressafra da cana-de-açúcar também contribuiu para a queda na geração de empregos no primeiro semestre do ano, tanto no interior, como na capital. Recife registrou o encerramento de 6,2 mil postos em sete meses.

“Os dados do Caged sobre a Zona da Mata pernambucana e sobre a Região Metropolitana são prejudicados pela sazonalidade da colheita da cana. De março a agosto é o período de entressafra, onde há uma forte redução no uso de mão de obra”, diz Guimarães, apontando o peso da cultura para o aumento de receita e empregos no comércio recifense. “No segundo semestre, o dinheiro volta a correr na região e é escoado para o comércio da capital”, afirma o especialista, ponderando que o varejo de Recife vem sentindo, nos últimos meses, os impactos da retração do consumo das famílias e dos investimentos.

“Existe uma acomodação dos investimentos, especialmente os da construção civil na capital”.
Já a retração da indústria vem trazendo reflexos para o mercado de trabalho de Manaus e Contagem, que registraram, respectivamente, o fechamento de 8,3 mil e 5,6 mil postos. Responsável por mais da metade das vagas de emprego da capital amazonense, a Zona Franca perdeu, nos últimos sete meses, mais de 4,8 mil vagas.

Superintendente da Suframa, Thomaz Nogueira minimiza os efeitos. Segundo ele, dos 23 subsetores industriais da região, apenas seis estão em declínio: “A indústria de motocicletas, que usa mão de obra intensiva, preocupa mais. Mas, o setor de eletroeletrônicos tem segurado os empregos”. Ainda assim, ele acredita que a retração da atividade industrial pode ter impactado Manaus: “Cada emprego aberto no polo gera cerca de cinco vagas nos serviços”.