25/07/16 15h24

Com dificuldades para contratar, start-ups inovam para preencher vagas

Folha de S. Paulo

A Quero Bolsa, que reúne ofertas de bolsas de estudos na internet, é uma empresa de quatro anos de São José dos Campos (SP) com cem funcionários.Ela planeja dobrar o efetivo até o fim do ano, mas não consegue encontrar gente com o perfil desejado para preencher as vagas.

A empresa não é exceção. A Resultados Digitais, de marketing digital, tem 330 profissionais e abre 25 vagas ao mês para até 1.100 candidatos. A Contabilizei, que oferece serviços de contabilidade, tem 60 funcionários e quer ter 80. O 99, de táxis, tem 275 funcionários e 25 vagas em aberto.

Para preencher esses postos, as start-ups investem em treinamentos externos, recorrem a consultores especializados em encontrar talentos, montam programas para trainees e patrocinam escola para formar profissionais.

O desafio é encontrar um tipo raro de profissional, que gosta e consegue produzir bem em empresas que, por serem pequenas, exigem que todos trabalhem com autonomia e assumam mais de um papel, diz Ravi Gama, cofundador da empresa de recrutamento para start-ups 2Find.

"O mais importante é ter perfil empreendedor. Os profissionais devem estar preparados para um trabalho que muda o tempo todo, não há padronização e não terá alguém orientando sempre."

O perfil e o comportamento dos candidatos conta mais que a capacidade técnica, segundo Carla Barone, diretora de RH da 99. "É preciso que tenha um senso de dono."

Entre as etapas no processo seletivo do Quero Bolsa, há uma prova em que os candidatos são solicitados a, em 30 segundos, impressionar o entrevistador. Vale tudo: cantar, dançar, contar histórias.

Segundo a diretora de recursos humanos da start-up, Renata Rebocho, buscar pessoas que realmente são engajadas com o propósito da empresa e não são movidas apenas pelo salário é o que permite ao negócio crescer.

A AppProva, que criou um aplicativo para estudos, fez neste ano a terceira edição de seu programa de trainees, para encontrar jovens talentosos. Para ser aprovado, é preciso ser entrevistado por até 15 pessoas.

Segundo Matheus Goyas, cofundador da empresa, ela recebe mais de mil candidatos a cada edição do programa e contrata até duas pessoas em cada seleção.

Perfil

Priorizar o perfil dos profissionais em vez de sua formação tem levado start-ups a investir em treinamento.

A eGenius, grupo que possui quatro start-ups (entre elas a Singu, para contratar profissionais de beleza), investirá R$ 100 mil na formação de seus 42 funcionários.

Também comprou um curso on-line do MIT (Massachusetts Institute of Technology, dos EUA) para os profissionais que trabalham com empresas do setor financeiro.

Na Resultados Digitais, cada profissional que é contratado passa por um curso de um mês antes de começar.

"Nosso segmento é novo. Então contratamos mais pelo comportamento do que pelas habilidades técnicas", diz Ana Carolina Rezende, diretora de recursos humanos.

Para convencer bons profissionais a trabalhar numa empresa novata, questões como flexibilidade no horário ou a chance de se tornar acionista de um negócio são importantes atrativos, segundo Gama, da recrutadora 2find.

Ele ressalta, porém, que, sem pagar salários competitivos, será difícil encontrar "super-homens" que topem trabalhar em uma start-up.

Devido à falta de profissionais, 40 start-ups patrocinaram a criação da escola Gama Academy para formar funcionários especializados. A primeira turma em Belo Horizonte recebeu mais de 200 candidatos para cada vaga. O curso é gratuito.