19/01/18 13h39

Comércio do Brasil com a China bate recorde e relação deve se fortalecer

Para especialistas, tendência de consumo aquecido no país asiático elevará nossas exportações, enquanto investimentos chineses na infraestrutura nacional indica para negócios de longo prazo

DCI

Os negócios entre o Brasil e a China devem se fortalecer ainda mais nos próximos anos, com a crescente presença do país parceiro nos nossos projetos de infraestrutura e com a continuidade da expansão do consumo da população chinesa, avaliam especialistas.

Para o professor de relações internacionais da ESPM, José Luiz Pimenta, o interesse do país asiático nos setores de energia e de logística aponta para uma relação de longo prazo, preocupada com o desenvolvimento da produtividade e da competitividade do Brasil.

O saldo comercial (US$ 20,166 bilhões) e as exportações brasileiras para a China (US$ 47,488 bilhões) chegaram a bater recorde no ano passado, impulsionados, principalmente, pela demanda aquecida do país asiático, cuja economia expandiu mais do que o esperado.

Ontem, inclusive, a Agência Nacional de Estatísticas (ING) da China revelou que o Produto Interno Bruto (PIB) do chinês avançou 6,9% em 2017, em relação a 2016, a primeira aceleração anual do ritmo de crescimento econômico desde 2010 e acima da meta do governo chinês, que esperava alta de 6,5%. Em 2016, o PIB chinês teve aumento de 6,7%.

Pimenta avalia que a demanda da China por nossas commodities agrícolas, carnes bovinas e suínas deve continuar aquecida nos próximos anos, estimulando, dessa forma, o crescimento do saldo exportações brasileiras ao país.

“A China está redirecionando o seu foco de investimentos para o consumo interno [antes mais voltado para o comércio internacional]. Das 1,4 bilhões de pessoas que vivem no país, 55% já estão nas áreas urbanas, indicando uma continuidade de expansão da demanda interna”, destaca Pimenta. Espera-se que, até 2030, 70% da população chinesa passem a habitar as áreas urbanas.

A professora de economia da FECAP, Juliana Inhasz, acrescenta que a economia chinesa ainda deve crescer na casa dos 6% neste ano, o que pode fazer com que as nossas vendas externas ao país batam um novo recorde. No entanto, ela pontua que o saldo comercial com a China pode terminar 2018 em um patamar mais baixo do que o registrado no ano passado, tendo em vista que a recuperação da atividade interna irá puxar o aumento das nossas importações de industrializados chineses.

Infraestrutura

Além da tendência de continuidade de crescimentos das trocas comerciais, a presença de investimentos chineses no Brasil deve fortalecer a relação bilateral entre essas nações.

O coordenador de análise e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Tulio Cariello, informa que ainda não há um número consolidado sobre o montante de aportes chineses que ingressaram no Brasil em 2017 e o quanto deve entrar neste ano. Porém, afirma que é crescente o interesse dos chineses nos projetos de geração e transmissão de energia e de logística.

No início de 2017, por exemplo, a State Grid Corp of China adquiriu ações da CPFL Energia e da CPFL Energia Renováveis, enquanto a China Merchants Port fez o mesmo com o Terminal de Contêineres de Paranaguá (PR). Além disso, a State Power Investment Corporation (Spic) venceu o leilão da hidrelétrica de São Simão (antes pertencente à Cemig), no ano passado.

Para Pimenta, da ESPM, esses aportes objetivam um relacionamento de longo prazo com o Brasil. Ele analisa que houve uma “drástica” mudança no perfil dos investimentos chineses no País desde o início dos anos 2000.

O professor relembra que, até 2010, os aportes do país asiático eram focados apenas no setor agrícola e de minério de ferro, visando apenas o suprimento interno da China.

“Depois de 2011, os chineses passaram a ter mais interesse no mercado consumidor brasileiro, ao investir em eletrônicos e automóveis. Já a partir de 2013, eles começaram a aportar recursos nos serviços financeiros”, rememora Pimenta.

“De 2014 para cá, houve uma mudança drástica no foco dos chineses, a partir de um interesse mais voltado para a infraestrutura e geração de energia, o que mostra uma preocupação com o desenvolvimento econômico do Brasil, com a produtividade nacional”, afirma Pimenta, acrescentando que este novo perfil tende a melhorar a competitividade dos nossos produtos.