15/07/10 10h08

Comolatti entre autopeças e alta gastronomia

Valor Econômico

Fundado há mais de 50 anos e hoje o maior distribuidor de autopeças para o mercado de reposição independente do Brasil, o grupo Comolatti mantém a aura de discrição que marca a trajetória de seus negócios desde que o italiano Evaristo Comolatti percebeu o potencial do segmento de componentes para caminhões "Fenemê" - o primeiro caminhão nacional - e montou uma pequena loja, na esquina da avenida Alcântara Machado com a rua Piratininga, na capital paulista. O empreendimento, voltado à prestação de serviços e venda de peças, não apenas vingou como deu origem a um pequeno conglomerado de marcas e empresas, que tem presença marcante no segmento de alta gastronomia e na área de administração imobiliária.

Embora mais de 50% do faturamento venha da Distribuidora Automotiva, que reúne quatro marcas conhecidas na distribuição de peças para veículos leves e pesados (Sama, Laguna, Matrix e Abouchar), o grupo mantém a rota diversificada: é dono do Terraço Itália, um dos ícones turísticos da capital paulista; da administradora imobiliária Bernina; e de duas distribuidoras de veículos pesados, das marcas Volkswagen e Iveco.

Apesar do conservadorismo em relação a dados financeiros, é possível ter uma ideia da dimensão dos negócios que começaram na lojinha instalada na Alcântara Machado (a sede do grupo permanece nessa região da capital): por ano, somente a Distribuidora Automotiva, que responde por mais de 50% da receita consolidada, fatura mais de R$ 1 bilhão (US$ 556 milhões). Isso em um mercado altamente pulverizado e que deve girar R$ 62,6 bilhões (US$ 34,8 bilhões) neste ano, caso se concretize a projeção de alta de 10% traçada pelo Grupo de Manutenção Automotiva (GMA), que reúne representantes da reposição independente.

De acordo com Carneiro, o fato de as distribuidoras de autopeças do grupo somente trabalharem com itens nacionais está alinhada à estratégia de longo prazo. "É uma questão de posicionamento. O grupo acredita que deve difundir e estimular a indústria brasileira", explica o executivo. O mesmo raciocínio, de fortalecer os demais elos da cadeia, foi levado em consideração quando o grupo trouxe ao país o conceito das EuroGarage. A distribuidora trabalha com mais de 150 marcas. Praticamente toda a receita com distribuição de peças, conta Carneiro, é gerada no mercado doméstico. Apenas 3% das vendas são fechadas com outros países - um contrato, por exemplo, foi firmado no Egito.

A história do grupo começou a ganhar contornos empresariais em julho de 1957, quando foi fundada a Evaristo Comolatti & Cia Ltda. Dois anos depois, transformou-se em S.A., com a incorporação de irmãos de Evaristo à sociedade. A partir de então, na área de distribuição, foram firmadas aquisições de empresas ainda mais antigas que o grupo e que contribuíram para a liderança atual. Em paralelo à investida no segmento de peças, deu-se naturalmente a diversificação dos negócios. No caso da Bernina, a necessidade de uma empresa que administrasse os imóveis do grupo foi premissa para sua constituição - o Centro de Cultura Italiana, em Curitiba, também está sob sua administração.

A aposta do Terraço Itália, por sua vez, veio a convite, quando o fundador do grupo foi visitar o edifício erguido pelo Circolo Italiano na esquina das avenidas Ipiranga e São Luís, à época o mais alto de São Paulo. Em 1967, com projeto de Paulo Mendes da Rocha e paisagismo de Burle Marx, foi inaugurado, no topo do prédio, o restaurante de alta gastronomia, que já recebeu ilustres como a rainha Elizabeth, da Inglaterra, e, há poucos dias, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.