05/07/19 12h20

Embraer: montagem de jatos executivos deve atrair mais de 100 funcionários para Gavião Peixoto

Empresa anunciou detalhes nesta semana; transferência começa neste

A Cidade ON

A joint-venture [união de duas ou mais empresas já existentes com o objetivo de iniciar ou realizar uma atividade econômica comum] que criou a Boeing Brasil Commercial, a nova companhia que assumirá a totalidade da planta industrial de São José dos Campos, atual sede da Embraer, e responsável pela produção dos E-Jets e da família Legacy e Praetor, já começou a repercutir para a unidade da Embraer em Gavião Peixoto, conforme o ACidadeON mostrou com exclusividade no mês passado [leia aqui]. Os funcionários foram avisados formalmente ontem e a transferência começa já neste semestre com a finalização no ano que vem.

A Embraer confirmou nesta quarta-feira que um grupo de colaboradores aceitou a opção de transferência e um segundo grupo foi realocado para a unidade de Eugênio de Melo. A empresa busca oportunidades para empregados que não aceitaram transferência. Anteriormente, ao ACidadeON, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, responsável por acompanhar a Embraer, Herbert Claros da Silva, disse que, atualmente, cerca de 300 trabalhadores atuam na montagem final da aviação executiva na cidade [a Embraer de São José tem 13 mil trabalhadores].

Deste total, há algumas semanas, 120 já tinham aceitado ser transferidos para Gavião Peixoto. A Embraer não confirma esse número. Esta transferência promete também aquecer alguns mercados da economia de Araraquara com a maior oferta de compra e locação de imóveis, além de outros serviços. "As famílias vem inteiras, então, tem mercado, escola, e tudo mais", diz um funcionário ouvido pela reportagem. O Sindicato também pediu um posicionamento da empresa que respondeu dizendo que os funcionários foram avisados e que não existe qualquer irregularidade com o remanejamento. A notícia é boa para a região de Araraquara, haja vista que muitos destes funcionários optam por morar aqui e viajar até Gavião Peixoto, seja por carro ou ônibus fretado.

Pelo novo modelo criado pela empresa, as montagens das estruturas de todos os aviões da Embraer continuarão sendo feitos em Botucatu. Depois, vem pra cá. A montagem final dos jatos executivos inclui a junção das asas no corpo, além de todo o interior como carpete, banco, marcenaria, pintura e eletrônica, entre outros serviços. Hoje, por exemplo, a fábrica de móveis já está em Gavião Peixoto. 

Aviões como o Legacy 450 e 500 e o Praetor 500 e 600, hoje, finalizados em São José, passarão a ser montados e entregues em Gavião Peixoto. Uma aeronave executiva da Embraer custa de 17 a 22 milhões de dólares, dependendo do modelo. A fabricação leva em torno de um ano. Na prática, ao invés de ir para outra unidade, as peças ficarão por aqui contemplando outros serviços. A unidade já produz o Super Tucano e o cargueiro KC-390 (veja mais abaixo). Também está no mapa da unidade vizinha de Araraquara a produção dos caças Gripen da Suécia.

Outra parte da produção das aeronaves de negócio da Embraer continuará realizada em Melbourne, na Florida, que é a principal unidade fabril da Embraer nos Estados Unidos. Os escritórios de engenharia da Embraer permanecerão em São José dos Campos, no Distrito de Eugênio de Melo. A Embraer não definiu a data exata da mudança.

A ideia inicial é que haja a transferência de mão-de-obra devido a riqueza de detalhes nas aeronaves. O Praetor 600, por exemplo, acomoda de 8 a 12 pessoas pensando sempre no conforto. Eles tem rede wifi, mesas de trabalho, televisão e telefone conectado via satélite. A internet à bordo é de alta velocidade. Cada detalhe é pensado para aumentar o conforto. A iluminação é controlada pela tela touch screen e pode ser ajustadas para uma luz mais azulada ou branca, perfeita para trabalhar, ou amarelada, mais relaxante. Além disso, o jato tem um mecanismo voltado a redução de turbulência.

Toda essa finalização, em breve, estará pela unidade da Embraer em Gavião Peixoto que opera desde outubro de 2001. A área também conta com uma pista para ensaios em voo. Atualmente, são mais de 2,5 mil funcionários e esse número vem crescendo com a linha de montagem do KC-390.

 

Gripen

O que também anima a região é que a Embraer confirmou em abril que a entrega do primeiro caça Gripen feito no Brasil será em 2024. A produção será mesmo na unidade de Gavião Peixoto em parceria com a empresa sueca Saab. O projeto da aeronave já está sendo desenvolvido e até 2021 a Força Aérea Brasileira (FAB) receberá o primeiro dos 36 caças encomendados por US$ 4,2 bilhões.

O trabalho de produção dos caças no Brasil será coordenado pela Embraer. O caça é desenvolvido na Suécia desde os anos 1980. A FAB solicitou um display panorâmico, que não existe em nenhuma versão, o que deixou o valor da compra US$ 900 milhões maior.

Além disso, a 'cereja do bolo' da aviação brasileira fica em Gavião Peixoto. A Embraer se prepara para entregar o primeiro cargueiro KC-390 para a FAB. A aeronave de transporte militar é a maior já fabricada no País. Os outros 27 do mesmo modelo serão entregues até 2021.

Comprados pela FAB para substituir os antigos cargueiros C-130 Hercules, o KC-390 lançou um enorme desafio na indústria aeronáutica nacional, o mais complexo e ousado da história da Embraer, como noticiou o site especializado AIRWAY. Além de ocupar a vaga dos Hercules brasileiros, a fabricante também propôs um avião melhor e muito mais avançado tecnologicamente.

O KC-390 recebeu a certificado de tipo da ANAC em outubro de 2018, que libera o avião para voar no Brasil. O próximo passo para o KC-390 é alcançar a Capacidade Operacional Final, que atesta a aeronave para todas as missões apresentadas no projeto, iniciado em 2009.

Em missão de transporte, o KC-390 pode transportar um tanque médio ou até um helicóptero Blackhawk. Levando tropas, embarca 80 soldados ou 66 paraquedistas. Também será usado no reabastecimento aéreo de caça, operações de busca e salvamento de longo alcance, combate a incêndios, evacuação médica e transporte de cargas. Em todos esses quesitos, a aeronave supera o Hercules e ainda voa mais rápido e tem maior autonomia em todas as situações. 

Além de suprir a necessidade da FAB, que encomendou 28 exemplares por R$ 7,2 bilhões, o KC-390 também pode atrair mais clientes pelo mundo, justamente aqueles que também buscam um substituto para o Hercules. O programa do programa KC-390 também foi outra parte negociada no acordo de joint-venture da Boeing com Embraer. A parceria é dividida entre 51% para empresa brasileira e os demais 49%, para a Boeing.

Para o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José, Herbert Claros da Silva, o receio de todos é que o KC-390 seja levado para os Estados Unidos. "Se isso acontecer a unidade de Gavião Peixoto perderá muito." Sobre essa possibilidade, ao AIRWAY, o presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança, disse, em ocasião anterior, que a negociação com a Boeing será positiva para impulsionar o projeto no mercado mundial, mas não descartou a ideia. "Ainda é muito cedo para discutir isso. Se houver necessidade, podemos pensar nisso".

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