25/08/16 16h49

Empreendedorismo digital: quem pode investir na minha startup? Confira entrevista com Carlos Kokron, da Qualcomm

Kokron é vice-presidente da Qualcomm e diretor Executivo da Qualcomm Ventures para a América Latina, além de um dos palestrantes do SP Conecta

Investe São Paulo

A Qualcomm Ventures é o braço de investimentos da Qualcomm, líder mundial em tecnologias móveis com sede no Vale do Silício. O vice-presidente da Qualcomm e Diretor Executivo da Qualcomm Ventures para a América Latina, Carlos Kokron explica de que forma as startups do setor podem ter mais sucesso e acesso a investidores como ele, que buscam soluções criativas e rentáveis.

 Ele é um dos palestrantes confirmados do SP Conecta, evento gratuito que vai reunir a maior parte do ecossistema de apoio a startups do Estado de São Paulo na sede da Investe São Paulo no próximo dia 30 de agosto, às 8h30.

Confira abaixo entrevista completa com Kokron sobre o tema:

 1) Quais são as fontes de investimento que uma startup encontra hoje no mercado?

A empresa que pede aporte tem que estar em um patamar em que possa usar o recurso sem diluí-lo muito. Existem investidores diferentes para estágios diferentes de um empreendimento.  Quando o investidor faz um cheque muito grande para uma empresa jovem demais, acaba comprando quase que ela inteira, o que também não é bom.

Geralmente, no começo a pessoa acaba usando reservas pessoais, pedindo empréstimo para a mãe, o pai, um amigo. Depois, com um pouco de maturidade, consegue o acesso a um investidor típico, que chamamos de investidor anjo. Ele em geral faz um cheque com dinheiro próprio de 300 ou 700 mil reais para ajuda a empresa a continuar desenvolvendo produtos, canais, etc.

Depois desse estágio, eles entram em uma rodada em que talvez possa entrar um investidor institucional que é a empresa que tem profissionais pagos para gerir fundos e investir em empreendimentos que deem bom retorno. Esses investidores conseguem um cheque maior logo na primeira rodada, e são o que chamamos de série A: cerca de 3 a 8 milhões de reais. Depois ele vai evoluindo, passando para investidores da série B e etc.

O que é importante para o empreendedor é entender que tipo de investimento ele pode conseguir em cada fase. Empréstimos, por exemplo, normalmente não fazem sentido, porque empresas nesse estágio não têm nenhum ativo fora sua própria ideia, conhecimento e preparo. E dificilmente isso pode ser utilizado como lastro.

2)  Em que tipo de empreendimento a Qualcomm investe?

Nós investimos em empresas de estágio mais avançado, que já passaram pelo dinheiro da família e dos investidores anjo para buscar algo da ordem de 3 ou 5 milhões de reais.  Entramos também em estágios mais avançados, como Serie B ou C.  Após o aporte continuamos acompanhando e dando suporte na evolução da empresa, tanto em questões financeiras quanto de gestão.

Empresas como a Qualcomm investem em startups que têm alto potencial de crescimento. Ou seja, se tudo der certo, elas dobram ou triplicam todo ano nos primeiros anos e têm tudo para tornarem-se empresas grandes.

3) Qual a vantagem para a Qualcomm em investir em startups?

Tipicamente, investimos em empresas que enriquecem nossas soluções, ou que são baseadas naquilo que desenvolvemos. E aí se dão certo, aumentam o mercado para nossos produtos ou tecnologias.

Isso acaba formando um círculo virtuoso. Por exemplo: um smartphone hoje tem cerca de 20 sensores - câmera, giroscópio, acelerômetro, microfone, etc. Empresas que estão desenvolvendo soluções que tomam vantagem desses sensores fazem com que suas soluções sejam mais ricas – e sendo assim, mais gente vai querer ter acesso a essa tecnologia e comprar um smartphone mais novo. Ou seja, tende a aumentar a demanda por aparelhos.

Portanto, investir em empresas com potencial para darem certo aumenta nosso mercado e facilita a introdução de novas tecnologias.

4) Como você avalia a importância de um evento como o SP Conecta para incentivar o empreendedorismo e favorecer a sinergia entre os players do sistema?

O empreendedorismo digital tem se desenvolvido muito nos últimos anos, mas sempre tem o que melhorar. Quanto mais a gente conseguir passar a mensagem, explicar como funciona, se aproximar de um investidor, mais aumentamos as ofertas de oportunidades de investimento tanto para quem aporta quanto para quem desenvolve uma ideia.

E são eventos como o SP Conecta que ajudam a criar um ecossistema robusto e interligado, onde investidores e soluções que dão certo fazem a roda girar no sentido positivo. Vejo esse evento como mais um foro, mais uma oportunidade de capacitarmos esses empreendedores.

5) Quais são os fatores limitantes para a realização de mais investimentos em startups no Brasil?

Quanto mais os empreendedores estiverem preparados para conversar com um investidor, atraí-lo, etc, melhor. Às vezes não é só o desenvolvimento da empresa que está em jogo, mas o preparo do empresário. Ele precisa conhecer o mercado (dinâmica, players, etc) e ter uma estratégia clara.

Muitas vezes o investidor acaba se dispondo a investir mais cedo quando sente que o empreendedor está preparado, acreditando em uma oportunidade de melhoria.

6) Que dicas você daria para um empreendedor de startup na hora de apresentar sua proposta a um investidor?

O mais importante é montar um bom pitch, que é como a gente chama a primeira apresentação onde o empreendedor conta sua oportunidade e fala sobre seu negócio para o investidor. Hoje a internet tem muitos recursos que ensinam como fazer isso. É preciso ser claro e sucinto: poucos slides, dez no máximo. Contar qual o problema a ser resolvido, seu tamanho, porque a solução oferecida é diferenciada, como vai fazer dinheiro, os resultados já alcançados, etc.

 7) Que características são fundamentais em um empreendedor de sucesso?

Ser resiliente – o empreendedor vai sempre ouvir muito não, mas precisa acreditar e ser apaixonado por sua ideia. Resistência e energia também são características que a gente tipicamente associa com empreendedores. Saber ouvir:  ser consistente e acreditar em si próprio é importante, mas é preciso estar aberto para feedbacks e inputs.

Sobre o SP Conecta

Realizado no dia 30 de agosto às 8h30, o primeiro SP Conecta vai reunir a maior parte do ecossistema de apoio a startups do Estado de São Paulo na sede da Investe SP. As inscrições são gratuitas pelo site www.investespconecta.com.br e as vagas limitadas.

A ideia é criar novas conexões entre empreendedores, incubadoras, aceleradoras, acadêmicos, associações e governos para acelerar o desenvolvimento de startups paulistas. Além disso, pretende-se aproximar as startups de grandes empresas e corporações inovadoras.