28/12/15 13h59

Empresários revelam como planejam faturar em cenário pessimista de 2016

Folha de S. Paulo

O cenário pessimista na economia não afetou os projetos de crescimento de pequenos e médios empresários, dispostos a investir até R$ 100 milhões na ampliação dos seus negócios no próximo ano.

A reportagem da Folha ouviu seis desses empreendedores para saber quais são as suas estratégias, que incluem contratar mais funcionários, abrir novas unidades, crescer no mercado internacional e até lançar novos modelos mais enxutos.

Já especialistas em negócios listam quais os cuidados ao se investir em tempos ainda turbulentos.

Expansão da marca com modelo barato

Para aumentara presença da marca em 2016, a Pet Bonosso Franchising desenhou um modelo de negócios mais em conta. Em vez dos quiosques de petiscos para animais de estimação em locais de grande circulação, como shopping centers e aeroportos, o foco será mostruários em pet shops.

Matheus Barros, 28, sócio-fundador da marca, ainda analisa qual será o investimento inicial da microfranquia, mas diz que o novo modelo de negócio será de baixo custo. Hoje, um quiosque tradicional da Pet Bonosso custa a partir de R$ 95 mil.

O interessado poderá montar até três módulos de venda dentro de sua pet shop, cada um com25produtos. “Adotamos o sistema modular para facilitar a instalação”, diz Barros. No próximo ano, a marca espera inaugurar ao menos 80 franquias, 50 delas no novo modelo, e faturar R$ 1 milhão.

Para Cláudia Bittencourt, da consultoria de negócios Grupo Bittencourt, as empresas devem investir em canais de vendas e formatos de negócios que atendam à demanda cada vez maior do consumidor por praticidade e conveniência.

“Caso contrário terão dificuldade de se sustentar no mercado”, afirma. 

Investimento em mercados internacionais

AUPX Technologies tem a ambiciosa expectativa de aumentar em 50% seu faturamento em 2016–hoje em R$ 30 milhões ao ano.

Para alcançar a meta, a empresa especializada em infraestrutura deve investir R$ 1,8 milhão na abertura de uma sede no Chile.

Hoje, o negócio tem escritórios em Campinas (SP), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e Miami (EUA),e atende clientes em mais de 130 municípios.

“O Brasil está em crise política e econômica, mas o mundo, não”, diz Bruno Prado, 31, CEO da UPX.

Segundo Prado, a receita para encarar a crise é saber aproveitar os momentos de alta para fazer reservas e investir na expansão durante a baixa.

Marcos Melo, professor de finanças do Ibmec, diz que a saída para mercados externos é boa aposta para quem busca segurança.

“O fato de parte da receita ser proveniente de mercados onde o consumo está em alta permite maior estabilidade de caixa.”

Contratações para atender a demanda maior

A equipe da Betalabs deve crescer no ano que vem. Luan Gabellini, sócio-fundador da empresa, pretende contratar cerca de 15 profissionais.

“Nosso foco é ampliar o time de desenvolvimento e atendimento ao cliente em função da expectativa de aumento da demanda”, diz.

Especializada em sistemas de gestão e plataforma na nuvem para lojas virtuais, a Betalabs tem 42 funcionários. A empresa trabalhou com estrutura enxuta em 2015 com temor pelo ano ruim.

Mas após crescer 80%, a Betalabs quer investir 20% do faturamento em pesquisa. “Precisamos criar produtos e atualizar o que já está no mercado. Quem não inova fica para trás”, diz Gabellini.

Para Alessandro Saade, professor da Business School São Paulo (BSP), a estratégia de aumentar a equipe só após o crescimento é acertada. Enquanto ele não chega, a saída é investirem capacitação para que a equipe produza mais.

Compra de terrenos em época de baixa

O ano de 2016 vai ser de investimentos altos paraa a MetroFit, que aluga 1.100 boxes para pessoas e empresas guardarem seus pertences.

Com uma unidade em São Paulo e outra em Santo André, a empresa vai inaugurar no próximo ano unidades em Alphaville e em São Caetano.

Hans Scholl, CEO da MetroFit, analisa ainda ao menos outros três terrenos na capital e dois no Rio e planeja investir cerca de R$ 100 milhões.

Para Ricardo Macedo, do Ibmec/RJ, a crise e o encarecimento do crédito diminuíram a demanda por imóveis e forçaram a redução dos preços, criando boas oportunidades para quem quer investir em novos espaços.

Scholl diz que o setor de armazenamento ainda está em fase de expansão no Brasil. Cada unidade pode faturar aproximadamente R$ 4 milhões por ano, afirma o empresário.

Ampliação sustentável com franquias

Dárcio Lazzarini, 30, sócio-diretor do Varanda Gourmet, procurava uma forma sustentável de ampliar o estabelecimento criado em 2012 e que reúne hamburgueria, empório e rotisserie.

Escolheu a criação de franquias para terceirizar o gerenciamento e os recursos investidos nas novas lojas. “Seria difícil crescer de outra forma”, diz Lazzarini,que investiu cerca de R$ 3 milhões.

A primeira unidade, com custo inicial de R$400 mil, foi aberta neste mês em Mogi das Cruzes (SP).

Em 2016, estão previstas mais cinco inaugurações em São Paulo e no Rio. Já em2017, a marca deve chegar às regiões Sul, Centro Oeste, Nordeste e Norte.

Para o modelo dar certo, alerta Marcelo Cherto, presidente da Cherto Consultoria, é importante escolher franqueados que tenham o perfil adequado aos padrões da empresa.

“Não dá para fazer um franqueado de cobaia, ainda mais em um período como o que atravessamos.”

Novo executivo para mudar as estratégias

A ShopBack, plataforma para recapturar usuários que abandonam compra em lojas virtuais, queria ampliar os negócios.

Para isso, contratou um diretor de operações para aproximar a empresa das agências de publicidade e marketing e expandir os negócios no mercado internacional em 2016.

“A empresa precisava de uma visão diferenciada e focada na estruturação de todas as áreas”, afirma Isaac Ezra, 36, CEO da ShopBack que até então acumulava a função. “Preparar-se estruturalmente é um passo essencial para crescer em grande escala e atender a toda demanda do mercado com qualidade.”

Para pequenos negócios, a contratação de um executivo de alto escalão deve ser feita com cautela. Alessandro Saade, da Business School São Paulo (BSP), recomenda primeiro desenhar e implementar o processo de expansão e, então, quando estiver em um terço da implementação, contratar o profissional.

“Isso garantirá que a receita já esteja maior, comportando a entrada de um cargo de maior remuneração”, diz. Outro caminho é contratar o profissional por projeto antes de efetivá-lo. “Isso serve de teste para ambas as partes se conhecerem melhor e gera um compromisso financeiro menor.”